Aceitar minha realidade foi o primeiro passo para minha recuperação: Biju PK

Um acidente de infância mudou a vida de Biju PK para sempre. Ele estava empinando uma pipa quando o brinquedo se envolveu em alguns fios de alta tensão e ele foi eletrocutado enquanto tentava o recuperar. O choque queimou suas mãos e os médicos tiveram que amputar metade do braço esquerdo e a maior parte da mão direita. Ele tinha apenas 12 anos.

Depois de anos de cirurgias e terapia, ele voltou a viver uma vida com mobilidade e independência.

Então não é incomum ouvi-lo falando sobre sua carreira numa equipe global de tecnologia e sua paixão por dirigir. Todo ano ele leva sua família em uma viagem de Hyderabad, onde ele trabalha, para visitar sua cidade natal a quase 900 quilômetros de distância em Coimbatore, no estado de Tamil Nadu, no sul da Índia.

“Eu tenho um carro compacto, mas estou de olho no mercado e pretendo comprar um carro maior em breve”, ele conta.

Biju adora dirigir seu carro e costuma levar a família em longas viagens pelo sul da Índia

Levou algum tempo para o jovem de 12 anos aceitar sua nova realidade. Mas uma vez que isso finalmente aconteceu, ele começou a improvisar, educar e defender a si mesmo.

“Eu sempre tive pessoas que me ajudavam com minhas tarefas diárias quando eu estava em casa. Na escola e na faculdade, meus amigos me ajudaram. Mas quando comecei a trabalhar, percebi que não podia depender de ninguém”, conta.

Biju trouxe a mesma perspectiva para a Microsoft quando ingressou no escritório da empresa em Hyderabad como redator de propostas há quase 10 anos.

“Sempre fiz questão de que as pessoas me tratassem da mesma forma que tratam os demais. E é isso que eu amo na Microsoft. Não fui discriminado ou tratado de forma diferente aqui. Ninguém ficava me olhando com pena ou me dava responsabilidades menores por conta da minha condição”, diz Biju, que agora trabalha como gerente de projetos na Microsoft India Global Delivery.

Seus colegas, muitos dos quais trabalham na África do Sul, Reino Unido e em toda a Europa, o conheceram remotamente e nem sabem sobre sua deficiência. E Biju prefere manter assim.

“Ele não precisa de apoio adicional. Ele é confiante, disposto a trabalhar e não se esquiva de assumir desafios mais difíceis, tanto no trabalho quanto no seu espaço pessoal”, diz Sunita Tiwary, gerente do Biju.

A luta pela sobrevivência

A jornada de Biju para se tornar independente, no entanto, tem sido desafiadora. Após a amputaçãoda da mão, ele passou três meses no hospital, passando por várias cirurgias de recuperação e fisioterapia. Desde então, seu único objetivo era sobreviver e se tornar independente.

“Era uma questão de sobrevivência para mim. E quando se trata de sobrevivência, você começa a experimentar e criar maneiras de se tornar autossuficiente. Aceitar minha realidade foi o primeiro passo para a recuperação”, diz.

Biju nunca foi tratado de forma diferente por sua família, amigos e professores após o acidente. Isso, diz ele, foi fundamental para fazê-lo acreditar que ele pode alcançar qualquer coisa que ele definir em sua mente.

Seu irmão mais novo, Sunil PK, relembra que os primeiros anos após o acidente “foram os mais difíceis” para o jovem estudante e sua família.

“Apesar dos desafios que ele enfrentou desde o acidente, ele nunca desistiu”, diz Sunil. “A maior lição que aprendi com meu irmão é aceitar a realidade e navegar pela vida com coragem e compostura.”

Foi essa crença que levou Biju a assumir uma longa viagem de bicicleta de sua casa até sua escola, apenas um ano após seu acidente.

“Um dia, Biju surpreendeu a todos nós pedalando 15 km para a escola. Ele nunca desistiu. Alguns anos depois, ele começou a andar de scooter e depois com uma moto pesada”, lembra  Anand Narayanan, amigo de escola de Biju, que agora trabalha como executivo em uma empresa de vestuário.

Mas o que começou como uma luta pela sobrevivência rapidamente se tornou um hobby, e depois, uma paixão. Estar ao volante o empoderou, conta Biju, ensinando-o a navegar pelas estradas e sua vida em seus próprios termos. Ele fez várias viagens pelo sul da Índia, e o processo de aprendizagem, no caminho para se tornar independente, não vai parar para ele tão cedo.

Biju com sua família

Atualmente, Biju está aprendendo a comer com uma colher, assim como aprendeu e desvendou outras habilidades diárias – desde a assinatura de documentos, até as tarefas mais mundanas como fazer sua cama, lavar suas roupas. Ele até está trabalhando com um alfaiate para desenhar calças que ele pode colocar sem ajuda de outras pessoas, para que possa viver uma vida independente.

“Quando vou a restaurantes, as pessoas ficam olhando para mim. Às vezes pego pessoas examinando para meu carro para verificar se fiz algum ajuste. Mas não é culpa deles. Eles nunca viram alguém como eu fazendo as coisas normalmente”, acrescenta.

Biju enfrentou desafios durante sua jornada profissional. Há quase duas décadas, quando se candidatou ao seu primeiro emprego, um executivo de RH estabeleceu uma tarefa de digitação para ele verificar sua precisão e velocidade porque era uma pessoa com deficiência.

“Ele sentiu que eu não seria adequado para o cargo. Pedi para não me julgar e disse que não sou o que pareço”, diz Biju. Ele teve 95% de precisão e uma pontuação de 45 palavras por minuto e conseguiu o emprego.

Apesar dos preconceitos, Biju dá pequenos passos para retribuir à sociedade. Todos os anos, quando está em casa, em Coimbatore, ele passa um tempo como voluntário no hospital onde foi tratado após o acidente.

“Sempre que estou em Coimbatore, tento visitar o hospital para falar com pacientes que perderam os membros e que estão em reabilitação. Entendo profundamente o trauma mental que a pessoa e a família passam”, diz ele.

Não lhe custa mais de meia hora de seu tempo para oferecer aconselhamento e compartilhar suas próprias experiências,ele acredita que pode servir de inspiração para alguém que perdeu seus membros superiores e que precisa de apoio.

“Eles se sentem otimistas sobre o futuro quando me vêem levando uma vida normal e tendo realizações”, diz ele.

Seus pais o chamaram de Biju, um nome comum em Malayalam, sua língua materna. Eles provavelmente não sabiam naquela época que “coragem”, nome mais incomum, estaria destinado a se tornar seu nome do meio!

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