Comemoração em toda a parte quando um jovem inventor entrega uma mão robótica a uma menina

Por Susanna Ray //

Os pés de Momo Sutton,10, dançavam impacientes pelo chão enquanto o resto do corpo tentava permanecer sentado na cadeira. Seu rosto revelava certa ansiedade quando Easton LaChappelle tirou cuidadosamente sua invenção da caixa. Com o seu novo braço, ela experimenta novos movimentos e escolhe os seus favoritos:

“O cumprimento com a mão fechada – esse é o meu favorito! Aqui, experimente!”.

“Agora o meu favorito é fazer o sinal de OK!”.

“Veja, eu posso fazer um coração com as minhas mãos!”.

“Eu já fiz high-fives com todo mundo – esse é o meu favorito até agora!”.

Essa experiência foi algo que tanto Momo quanto o jovem inventor, de 21 anos, havia sonhado por anos: um braço e uma mão com dedos funcionais que poderiam substituir os ganchos que Momo usava desde os quatro anos. LaChappelle adiou a faculdade e investiu seis anos na pesquisa, fabricação e teste de mãos robotizadas, chegando ao ponto de poder escanear o braço esquerdo de Momo e construir uma réplica funcional impressa em 3D para ela usar no lado direito, com unhas combinando.

Agora, LaChappelle está disponibilizando esse processo por meio de sua nova empresa, Unlimited Tomorrow, para oferecer uma alternativa tecnológica acessível para próteses tradicionais e caras. “Espero que isso ajude milhares de pessoas como a Momo ao redor do mundo”, afirmou.

Momo Sutton, 10, aprende a usar a mão robótica que foi inventada e impressa em 3D por Easton LaChappelle. (Foto: Brooke Fitts)

O braço direito de Momo termina logo abaixo do cotovelo, onde os ossos estão unidos. As diferenças congênitas e as amputações são especialmente difíceis para as crianças, que precisam substituir os membros prostéticos a cada um ou dois anos por conta do rápido crescimento. As próteses avançadas podem custar mais de $ 100 mil. Muitas vezes, as crianças têm que esperar muito tempo, só conseguem uma prótese como essa na fase adulta. Dessa forma, eles ficam presos a modelos básicos, que limitam seus movimentos – como um sistema de gancho e polia para braço e mão – mesmo que seus cérebros em crescimento estejam preparados para aprender novas atividades como natação, andar de bicicleta ou escrever.

LaChappelle soube desses desafios por acaso.

Esse jovem curioso cresceu na parte rural do estado do Colorado, EUA, onde consertava eletrônicos para aliviar o tédio, abrindo micro-ondas e rádios e remontando logo em seguida. Aos 14 anos, e “apenas por diversão”, ele desenvolveu uma mão robótica usando Lego, uma linha de pesca, tubos elétricos e pequenos motores de aviões modelo. Para melhorar o projeto, LaChappelle usou a internet para obter informações de código aberto e realizou entrevistas por e-mail ou por Skype com especialistas internacionais em robótica e engenharia.

“Há tantas oportunidades para explorar e encontrar sua paixão no mundo de hoje”, conta LaChappelle. “Consegui me comunicar com pessoas de todo o mundo. Eles não sabiam que eu tinha 14 anos e morava no Colorado. Era apenas alguém que queria saber mais sobre eletrônicos. Isso é o que a tecnologia nos permitiu fazer. ”

Em seu aniversário de 16 anos, em 2011, ele dividiu o valor de uma impressora 3D, que custava US$ 500, com seus pais. Com ela, imprimiu uma mão robótica, alimentada por um motor de limpador de para-brisas, que permitia que o usuário se movesse com base em sinais de onda cerebral emitidos por um fone de ouvido EEG (sigla que significa Eletroencefalogramas, em português). O jovem LaChappelle apresentou o projeto em uma feira de ciências e observou com curiosidade quando uma pequena menina surgiu para examinar, detalhadamente, como os dedos se moviam.

LaChappelle soube pelos pais que a menina tinha um braço protético do cotovelo direito até a ponta dos dedos – uma “garra de humano”, parecida com a que ele veria em Momo mais tarde, que só tinha um movimento: abrir ou fechar. Foi a primeira vez que conhecera alguém que usava uma prótese, e ficou perplexo quando os pais lhe disseram quanto havia custado.

“Esta coisa custa $ 80 mil e eu fiz este braço, muito melhor, com 200 dólares no meu quarto”, LaChappelle recorda.

Foi o “meu momento de descoberta”, ele diz.

Easton LaChappelle, 21, cresceu na área rural de Colorado, onde ele consertava eletrônicos para aliviar o tédio. (Foto: Ryan Ford)

Esse projeto de feira de ciências, que foi apresentado em revistas como a Popular Science, não só ganhou o prêmio mundial de ciência do ensino médio, um encontro com o presidente Barack Obama e um estágio de verão na NASA; também o colocou em um caminho com um propósito.

A TED Talk em que LaChappelle participou, durante sua temporada na NASA, chamou a atenção do guru da autoajuda, Tony Robbins, que ofereceu assistência e orientou o rapaz de 18 anos durante a criação do Unlimited Tomorrow. Sua missão: “tornar a tecnologia acessível para aqueles que mais precisam dela”.

Determinado a seguir sua paixão, LaChappelle abandonou a faculdade, reorganizou um sistema Microsoft Xbox Kinect para escanear mãos e braços e começou a trabalhar em um dispositivo que seria funcional, e não apenas divertido. Ele estudou controle cerebral e muscular e conversou com amputados para entender o que mais os ajudaria.

Momo nasceu com uma diferença congênita. Cerca de dois milhões de pessoas nos Estados Unidos vivem sem um ou mais membros, de acordo com a Amputee Coalition. (Foto: Michelle Henley)

Enquanto isso, Momo e sua mãe, Sandy Andriaccio, participaram de um evento no Hospital Shriners, em Tampa, Flórida – o grupo é conhecido por seu trabalho em cuidados ortopédicos pediátricos – onde a menina começou a conversar com Zachary Hurst, presidente da Fundação M.U.C.H., uma organização sem fins lucrativos. Ele perguntou a Momo quais eram seus sonhos e, sem hesitação, ela lhe disse que queria um braço com dedos que se movessem. “Nós podemos fazer isso”, disse Hurst.

Os olhos de Andriaccio se arregalaram, ela, então, envolveu a mão ao redor do pescoço da filha, tentando sinalizar para Hurst não prometer algo que poderia custar US$ 120 mil. Mas o executivo tinha ouvido as histórias sobre LaChappelle e, imediatamente, procurou conectar Momo ao jovem inventor. A situação de Momo o lembrou da menina que servira de inspiração na feira de ciências. Então, ele decidiu pedir que ela testasse seu novo modelo.

Os esforços de LaChappelle haviam intrigado uma equipe da Microsoft, que o convidou para visitar a sede da empresa em Redmond, Washington, e o apresentou a um grupo de 20 fabricantes e engenheiros no Advanced Prototyping Center. Eles ajudaram a acelerar sua visão, usando a impressão 3D e as plataformas de código aberto.

LaChappelle contou com ajuda para escanear o braço esquerdo de Momo na casa dela, na Flórida, com uma webcam simples de US$ 100, que pode se conectar a qualquer laptop. A partir do modelo, ele criou uma réplica artificial impressa em 3D com resina curável UV (ultravioleta), que pesa menos de 500 gramas. Seus dedos flexíveis têm articulações individuais e se tornam maleáveis ao tocar em algo, assim como os dedos de carne e osso fazem, porém são fortes o suficiente para exercer 4,5 quilos de pressão para segurar objetos. O braço se liga ao membro residual de Momo com suportes impressos em 3D, que se parecem com uma cinta, com tiras de Velcro que ajudam a mantê-lo no lugar.

Três eletrodos se estendem do topo, para serem anexados aos músculos do braço de Momo. Com esse sistema, um ciclo de reação será desenvolvido, no qual o cérebro percebe que, quando ela flexiona certo músculo, a mão se move de uma maneira que Momo é capaz de ver e sentir, e então ficará mais natural. Se ela não tem tempo para conectá-los, ou se está quente e ela está suada (a Flórida é conhecida pelo seu clima úmido), um pequeno botão no braço pode atuar como um músculo. Pressione-o uma vez, o dedo indicador se move em direção ao polegar, pressione-o novamente e todos os dedos se curvam em direção à palma da mão.

O sistema sabe a quantidade de força que está exercendo ao estar em contato com um objeto, de modo que a mão não esmaga um copo que está segurando, por exemplo. Momo e sua mãe rapidamente testaram o conceito com a simulação de uma luta, da qual Andriaccio saiu ilesa.

É muito diferente dos dispositivos prostéticos com os quais Momo está acostumada: ganchos simples com dedos de plástico moldados em torno deles, que se prendem ao membro residual por uma alça que atravessa suas costas e passa por seu ombro esquerdo. Ela abre e fecha a mão encolhendo um dos ombros. Na verdade, é útil apenas para atividades como passear de bicicleta, afirma o pai, Mark Sutton. Então, ela geralmente não usa o resto do tempo.

Ter duas mãos funcionais mudará a vida dela, disse Sutton, permitindo que ela abra uma porta enquanto segura uma mochila ou uma garrafa de água, por exemplo. “Adoro a ideia de abrir portas – não apenas a porta do quarto ou do carro, mas a noção de que isso abre portas para tantas pessoas”, acrescentou Andriaccio.

LaChappelle mosta a Momo como usar seu novo braço com um aperto de mão, enquanto seus pais, Mark Sutton e Sandy Andriaccio a observam. (Foto: Brooke Fitts)

Ao contrário dos dispositivos anteriores de Momo, que tinham todas as articulações de cotovelo em forma de L, a versão de LaChappelle está alinhada com o pivô do cotovelo. Isso significa que ela pode levantar ambos os braços acima da cabeça pela primeira vez – ou deixá-los cair de maneira mais natural. “Posso tentar me pendurar nas barras e balançar”, disse ela.

Com o protótipo funcional em uso pela Momo, agora é uma questão de automatizar o processo para fornecer acesso global, avalia LaChappelle.

Ele está trabalhando em um software para converter automaticamente os exames dos membros em projetos robóticos que são dimensionados corretamente, com a eletrônica e as funções em todos os lugares certos, de modo que os dispositivos possam ser impressos em 3D em qualquer lugar. “Queremos dar aos amputados uma tecnologia inovadora, gratuita ou por uma fração do custo normal” das próteses tradicionais, disse.

Easton LaChappelle passou seis anos – começando no ensino médio – trabalhando no braço robótico que poderia substituir as próteses tradicionais. (Foto: Michelle Henley)

Por enquanto, ele está concentrado em criar uma solução escalável e resolver o modelo de distribuição, já que sua empresa se mudou de um quarto para uma instalação de 1.600 metros quadrados em Durango, no Colorado. LaChappelle vê um futuro para dispositivos assistivos em geral, tanto para extremidades superiores e inferiores, e não apenas para amputados. Ele acredita que a tecnologia possa ajudar as pessoas paralisadas a recuperar a mobilidade.

“Talvez, em vez de uma mão protética, alguém possa usar uma luva que ajude no movimento da mão já existente”, afirma. “Vejo muitas ideias de tecnologia para dispositivos assistivos”.

Essa seria uma boa notícia em todo o mundo – apenas nos EUA, cerca de 2 milhões de pessoas vivem sem um ou mais membros, de acordo com a Amputee Coalition. Alguns membros não existem por conta de diferenças congênitas, como as de Momo; outros foram perdidos em acidentes de carro, acidentes de construção ou por condições médicas graves, como diabetes e doenças cardiovasculares. A perda de membros é particularmente comum – e desafiadora – em áreas destruídas pela guerra. A Organização Mundial da Saúde estima que mais de 30 milhões de amputados estejam em países em desenvolvimento, e apenas uma pequena porcentagem deles tem acesso a próteses.

“Eu realmente não imaginei que o que eu estava criando aos 14 anos afetaria a vida de alguém assim”, comentou LaChappelle. “Eu sou apenas um jovem tentando fazer o bem com a tecnologia, então é realmente encorajador ver tudo isso acontecendo. Momo será a primeira de muitas pessoas”.

Durante o almoço, depois de testar sua nova mão em um garfo, Momo fechou os dedos nos polegares das duas mãos e os colocou em seus olhos, olhando LaChappelle através dos círculos do outro lado da mesa.

“Legal”, ela riu. E então ela fechou o resto dos dedos e descansou o queixo em sua nova mão para revelar outro movimento favorito: “Eu gosto mais dessa ‘pose de pensamento’ – é o movimento que todos os chefes fazem”.

Para saber mais sobre Easton LaChappelle e outras pessoas que nos inspiram, visite https://www.microsoft.com/inculture/peoplewhoinspire/

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