Como os refugiados enriquecem seus novos lares com esperança, resiliência e coragem

Por Susanna Ray //

A casa estava vazia quando ele chegou da escola à tarde.

Farhad Agajan, de oito anos, vagueou pela vizinhança, perguntando se alguém tinha visto sua mãe ou irmãos. Chorando e cada vez mais agitado, ele chegou à casa de um parente que morava nas proximidades e ouviu as palavras que mudaram sua vida para sempre: “Ele me deu algum dinheiro, e disse: ‘Sua vida corre perigo. Pegue isso e vá embora imediatamente’”, lembrou Agajan.

O menino passaria uma década como menor não acompanhado, viajando do Afeganistão para o Paquistão, Irã e Turquia antes de se fixar na Grécia aos 16 anos e saber, mais tarde, que sua mãe ainda estava viva e em casa. Até então, ele tinha se apaixonado por seu novo país e se considerava grego.

Agora, embora Agajan converse com sua mãe pelo Skype toda semana, ele está se candidatando à cidadania grega e focado em retribuir o que recebeu em seu país adotado. A resiliência e o otimismo que ele cultivou ao longo de sua provação foi o que o sustentou – e o que abriu caminho para seu sucesso, já que o jovem de 28 anos trabalha com a Mercy Corps como agente de campo em campos de refugiados enquanto termina o ensino médio e aprende programação de computadores.

Agajan é uma das mais de 65 milhões de pessoas no mundo que estão desalojadas de suas casas – o mais alto nível já registrado. Esse número assombroso inclui mais de 21 milhões de refugiados, que tiveram de escapar para outro país. Na Síria, onde a guerra criou uma das piores crises humanitárias do planeta, 11 milhões de pessoas, ou a metade da população, tiveram que sair de suas casas. Três quartos delas são mulheres e crianças.

A fuga de Agajan do Afeganistão antecede a atual emergência global e colocou-o numa situação ideal para ajudar os outros a enfrentar o trauma. Reconhecendo as formas poderosas com que a tecnologia pode ajudar os refugiados, a Microsoft está trabalhando para levar as ferramentas certas a pessoas como Agajan e organizações de ajuda, como a Mercy Corps. Ao todo, a Microsoft contribuiu com mais de 30 milhões de dólares para auxiliar refugiados em todo o mundo no ano passado.

“Vemos nossos esforços como uma grande parte da missão da companhia de empoderar cada pessoa e cada organização a alcançar mais”, disse Mary Snapp, que dirige a Microsoft Philanthropies. “Em termos gerais, o nosso foco é ajudar as organizações sem fins lucrativos a acessar as tecnologias, especialmente as de nuvem, para trabalhar de forma mais eficiente e servir ao maior número de beneficiários possível. Também apoiamos o treinamento de habilidades digitais e técnicas para pessoas que seriam deixadas para trás à medida que a inovação avança.”

Leen Toukatli tem quase a mesma idade de Agajan – 30 anos – e também fugiu para a Europa de um país devastado pela guerra, mas sua jornada não poderia ter sido mais diferente.

Farhad Agajan, 28, fugiu sozinho do Afeganistão quando tinha 8 anos. Atravessou o Paquistão, o Irã e a Turquia antes de chegar aos 16 anos na Grécia, onde agora está se candidatando à cidadania e trabalhando no Mercy Corps, em campos de refugiados. “Minha própria experiência me ajuda a ajudá-los”, disse ele.

Toukatli cresceu pacificamente em Damasco, na Síria, uma bela cidade que a UNESCO nomeou a Capital da Cultura Árabe em 2008. Sua família passou um tempo no exterior, na França, onde seu pai, médico, aprofundou seus estudos de medicina. Ela estudou direito, incluindo um período em uma universidade parisiense, e tornou-se advogada de uma empresa de telecomunicações síria.

Ela morava com os pais até seu casamento, em 2013, e suas lembranças daquela casa, em uma área estável, não são marcadas pelo conflito que começou em 2011. Mas quando se mudou para o novo apartamento de seu marido, com uma panorâmica vista de Damasco, ela ganhou assento na primeira fila da plateia de uma cidade bombardeada todos os dias – com explosões às vezes apenas a uma milha ou duas de distância. “Pudemos ver a guerra na frente dos nossos olhos”, disse ela. “Eu não conseguia dormir.”

No final de 2014, percebendo que estavam em perigo iminente, Toukatli e seu marido encheram três malas com documentos, diplomas, roupas e alguns presentes de casamento e fugiram.

Como Agajan, Toukatli é cautelosa em revelar publicamente os detalhes assustadores de sua saída da Síria e como fez isso. Mas ela tinha habilidades na língua francesa e familiaridade com a cultura, tornando a França a escolha óbvia para a fuga. Ela e o marido receberam a cidadania francesa no mês passado.

“O governo francês me aceitou, me protegeu, me ajudou e respeitou a mim e minhas ideias sobre a liberdade, e foi assim que eu sobrevivi”, disse Toukatli. “Então eu sinto que sou síria, mas também sou francesa. Como uma criança que perdeu seus pais e foi adotada. Esses novos pais se tornaram sua família, seus verdadeiros pais. A França é minha família agora.”

Toukatli estudou em Paris quando chegou, até obter permissão para trabalhar. Um estágio na Microsoft levou-a a um cargo como advogada, trabalhando em nome da empresa em países africanos de língua francesa.

“A Microsoft me ajudou a reconstruir minha carreira, que perdi quando saí da Síria”, disse Toukatli. “Quando cheguei à França, eu não era nada. Mas a Microsoft acreditou em mim. Vim de um país que não tinha eletricidade ou internet, por causa da guerra, e agora trabalho em uma das mais importantes empresas de tecnologia.”

Os gerentes de Toukatli na Microsoft também a encorajaram a fazer algo para ajudar outros sírios na França, então ela e um colega começaram a ensinar aos jovens refugiados a escrever currículos e cartas de apresentação, auxiliando-os a procurar empregos e se integrar à nova pátria.

“Viver em uma guerra dá a você o poder de sobreviver”, disse Toukatli. “E eu sinto que agora tenho poder extra para outras coisas: para viver, melhorar e ajudar os outros. No meu trabalho para a Microsoft, faço tudo o que posso para fazer a diferença, porque eu sou diferente.”

Snapp tornou-se chefe da recém-criada divisão Microsoft Philanthropies em dezembro de 2015, cerca de um ano depois de Toukatli chegar à França, enquanto grupos de refugiados sírios desembarcavam diariamente nas praias gregas. Snapp percebeu rapidamente que o foco tradicional da empresa, de fornecer ajuda humanitária em casos de desastres naturais, não era suficiente. No início do ano passado, expandiu seus objetivos para incluir “desastres causados pelo homem”.

Viver numa guerra dá a você o poder de sobreviver. Sinto que agora tenho poder extra para viver, melhorar e ajudar os outros. No meu trabalho na Microsoft, eu faço tudo o que posso para fazer a diferença.

As doações de dinheiro, equipamentos, software e treinamento da Microsoft visam o empoderamento – para organizações humanitárias como a Mercy Corps, que trabalham para atender necessidades fundamentais, e para pessoas deslocadas que tentam reconstruir suas vidas.

Por exemplo, através da Mercy Corps, a empresa deu computadores a centros para jovens em campos de refugiados na Grécia, incluindo aqueles onde Agajan trabalha, e forneceu instrutores para ensinar habilidades digitais. Em um centro de refugiados que Snapp visitou este ano em Atenas, um grupo de jovens estava aprendendo a criar apresentações em Sway sobre suas vidas – desenvolvendo não só habilidades técnicas, mas também a capacidade de contar histórias e se expressar criativamente.

O idioma é fundamental para o sucesso dos refugiados, disse Snapp, não importa onde eles estejam. Agajan aprendeu oito línguas ao longo do caminho, enquanto Toukatli já conhecia três quando chegou à França. Mas mais da metade dos refugiados do mundo são crianças, muitas das quais nunca frequentaram escola formal por causa das crises e podem ser órfãs ou estar separadas de seus pais em uma terra estrangeira. É fundamental para elas aprender a se comunicar.

Mais da metade dos refugiados do mundo são crianças, muitas das quais nunca frequentaram escola formal por causa das crises e podem ser órfãs ou estar separadas de seus pais em uma terra estrangeira. É fundamental para elas aprender a se comunicar.

À medida que os refugiados começaram a inundar a Alemanha em 2015, uma empresa reconheceu que seu popular aplicativo “Schlaumäuse”, desenvolvido em 2003 para ajudar crianças pequenas alemãs a começar a escola com melhores habilidades linguísticas, poderia ser de grande ajuda para as crianças refugiadas. A Microsoft ajudou a redesenhar o aplicativo para a nova missão, adicionando instruções faladas em árabe, francês e inglês, e doou dispositivos com o aplicativo para as organizações de ajuda distribuírem.

No aplicativo gratuito, cujo nome significa “ratos inteligentes”, dois ratos animados chamados Lingo e Lette ensinam as crianças a falar e ler em alemão através de histórias e jogos que eles jogam juntos. Um game ensina as palavras para vários artigos de vestuário, por exemplo, enquanto em outro as crianças aprendem palavras para itens que podem encontrar em cozinhas ou escolas. Cerca de 80.000 crianças refugiadas estão usando o aplicativo agora, disse Jacqueline Graf, integrante da equipe pedagógica da Helliwood Media & Education que a desenvolveu. E crianças alemãs em todo o país estão passando as tardes livres jogando com os recém-chegados, ajudando-os a aprender, disse ela.

Snapp fala de sua recente visita à Jordânia e do campo de refugiados Zaatari, que tem agora cinco anos e é o lar de 80 mil pessoas, tornando-se a quarta maior cidade do país. Embora os habitantes vivam em abrigos de tenda, o campo tem 29 escolas, dois hospitais e cerca de 3.000 lojas e negócios informais. Snapp se encontrou com líderes locais que se apresentaram com um pedido – não para comida, água ou remédios, mas para a tecnologia que eles disseram precisar para ajudar a tocar sua nova, possivelmente temporária, casa. O pedido incluiu itens detalhados como o serviço de visualização de dados da Microsoft, Power BI, para ajudar a mapear o acampamento e manter uma avaliação atualizada da condição de seus abrigos.

Mary Snapp, diretora da Microsoft Philanthropies, recentemente se encontrou com líderes de um campo de refugiados que se apresentaram com um pedido – não para comida, água ou remédios, mas para a tecnologia que eles disseram precisar para ajudar a tocar sua nova, possivelmente temporária, casa.

“São comunidades que dependem de apoio, mas querem muito construir seus próprios meios de subsistência”, disse Snapp. “Quando você ouve as Nações Unidas dizerem que uma estadia média em um acampamento é de 17 anos, você percebe o quão importante é fornecer treinamento e tecnologia de subsistência para que os refugiados possam ter vidas produtivas onde estão, e talvez até trabalhem ali em áreas de tecnologia, seja no campo ou iniciando seus próprios negócios. Esse é um elemento-chave do que precisamos fazer, quando estamos falando de centenas de milhares de pessoas nos campos.”

Agajan era uma das pessoas que Snapp conheceu em sua visita, e ela lembra bem da esperança que ele inspirou. “Quando nós fomos ao acampamento, ele conhecia as pessoas, cumprimentou e bateu nas costas dos homens e perguntou sobre suas crianças”, disse ela. “Ele lhes transmitiu um sentimento de esperança de que podiam fazer mais, uma conexão com um mundo em que eles esperam estar um dia.”

Pensando no dia em que sua família desapareceu, quando ele tinha 8 anos, Agajan disse que seu “pensamento se resumia a sair daquele lugar”.

“Desde o dia em que nasci, é guerra e guerra”, disse ele. “Desde o momento em que eu distingui minha mão direita da esquerda, lembrava de uma guerra e pensava que nada iria mudar.”

O parente que morava nas proximidades perguntou se ele conhecia alguém em outro país que ninguém sabia e para onde poderia fugir. Agajan lembrou o nome de uma cidade no Paquistão que seu pai – antes de ser morto – o tinha levado quando ele estava com 5 anos, para visitar a família que havia fugido durante a guerra entre a Rússia e o Afeganistão. Então ele pegou o dinheiro que seu parente lhe deu, correu para a estrada principal e pegou uma carona em um carro em direção à fronteira.

“Estava escuro quando chegamos ao Paquistão, e eu era criança e pequeno, então a polícia não me verificou”, disse ele. “Eles pensaram que eu estava com alguma outra família, então eu consegui passar pela fronteira. Foi quando vi outros meninos escalando a traseira dos caminhões e cobrindo-se com lonas, e fiz isso também. Eles pareciam experientes, mas eu não sabia o porquê, e não tive a oportunidade de perguntar o que estavam fazendo. Só fiz.”

Farhad deu aos residentes do campo uma sensação de esperança de que eles poderiam fazer mais, uma conexão com um mundo em que eles esperam estar um dia.

Agajan se dirigiu para a aldeia correta e, finalmente, encontrou os parentes do pai. Eles o consolaram, acolheram e deixaram-no morar ali durante seis anos, enquanto ele ia à escola e trabalhava, nunca conseguindo descobrir o que tinha acontecido com sua mãe e seus irmãos. Quando ele tinha 14 anos, decidiu sair e procurar uma nova vida.

Seus parentes haviam guardado todo o dinheiro que o jovem Agajan contribuiu para as finanças da família e devolveram para ele. Eles também pagaram para ajudá-lo a chegar ao Irã. Foi uma longa e perigosa viagem de ônibus e carro com outros refugiados, até que lhes foi dito para saltar sobre uma pequena parede. “E quando nós pulamos, disseram: ‘Este é o Irã’. E eu disse: ‘Este é o Irã? Mas não há cidade nem casas’. E responderam: ‘Agora sua jornada está começando’. E caminhamos pelas montanhas no escuro.”

As memórias que Agajan se dispõe a compartilhar são específicas – de lutas entre refugiados sobre as escassas garrafas de água trazidas ao grupo por homens em motos que desapareceram e deixaram-nos sozinhos nas montanhas; de viagens sob lonas nas traseiras de caminhões que serpenteavam pelas estradas a velocidades aterradoras; de uma casa nova e meio acabada, em que se esconderam por dias em uma aldeia; de segurar fortemente dois ou três outros refugiados nos bancos de trás das motocicletas para evitar cair; de tentar desesperadamente limpar a sujeira do rosto e do cabelo antes de embarcar em um ônibus “normal” que o levou a uma cidade; de conhecer outros refugiados lá que o ajudaram a encontrar trabalhos estranhos e um lugar para dormir.

O que ele não vai – ou não pode – compartilhar é o que mais assusta.

“A maioria das coisas eu não quero lembrar”, disse ele. “Foi tão difícil. Se eu começar uma coisa, devo dizer outra e outra. E é tão difícil ter que lembrar todas essas coisas novamente.”

Do Irã, Agajan foi para a Turquia, guiado pela luz da lua através de montanhas íngremes num caminho tão estreito que não cabia seus pés juntos. A vida em Istambul, trabalhando em empregos que só davam dinheiro suficiente para sobreviver, era difícil. Agajan veio de uma família educada e desejava estudar, talvez até se tornar médico como seu pai.

Agajan dormiu em um banco de parque em Atenas por alguns meses, quando chegou à Grécia aos 16 anos, como menor desacompanhado. Ele começou a aprender grego, encontrou um emprego e agora tem seu próprio apartamento e está focado em retribuir à sua pátria adotada.

Ele nunca tinha ouvido falar da Grécia antes. Mas em seu caminho em direção a Londres, por volta de 2005, ele atravessou um rio da Turquia em um barco de plástico, pegou mais uma carona debaixo da lona de outro caminhão e, de repente, encontrou-se cercado por policiais gregos – e também por homens e mulheres idosos de uma vila próxima, que ofereceram leite e biscoitos aos refugiados cansados. Quando Agajan viu o sorriso nos olhos de uma velha grega ele soube: finalmente estava em casa.”Foi assustador, mas alegre”, disse ele. “Eu estava muito confuso. Senti que estava em outro mundo. Eu ainda não conhecia o idioma, mas podia ver o rosto dela. Fiquei muito feliz, um sentimento difícil de descrever. Era a primeira vez na minha vida que me sentia bem-vindo.”

Depois que a polícia o soltou, ele dirigiu-se a Atenas e dormiu em um banco de parque no centro da cidade por alguns meses. Pelas manhãs, de seu banco, ele observava as pessoas irem apressadas para o trabalho, enquanto ele sentava, com fome e sede, com as roupas sujas e malcheirosas que não podia trocar. “Qual é a diferença entre eles e eu?”, lembrou ter pensado. “Tenho olhos, mãos e pés, assim como eles. Se eu tentar o meu melhor, também posso ter essa vida.”

Um homem que morava perto do parque ofereceu a Agajan um banho quente e um cartão de telefone. Os números de telefone que ele lembrava de familiares e amigos no Afeganistão ainda não funcionavam, mas ele conseguiu falar com os parentes com quem morou no Paquistão e informá-los de que ele estava vivo e na Grécia.

Agajan começou a aprender algumas palavras, incluindo a frase crucial: “Bom dia, chefe, você tem um emprego?” Encontrou um trabalho constante em uma fábrica, onde trocou turnos extras por aulas de grego.

Aprendera um pouco de inglês na escola para refugiados que frequentara no Paquistão, e isso, juntamente com as outras línguas aprendidas ao longo de sua jornada, finalmente o colocou como intérprete de uma organização de ajuda. Fez amigos gregos, foi promovido a supervisor e alugou seu próprio apartamento. No ano passado, Agajan foi contratado pela Mercy Corps como um agente de campo, para ajudar a conectar as pessoas que vivem nos campos de refugiados com os serviços de que precisam para sobreviver.

Eu estava tão feliz. Era a primeira vez na minha vida que me sentia bem-vindo.”

“Quando você está para baixo e alguém dá a mão para ajudá-lo – era o que eu precisava quando cheguei, e agora estou muito feliz em dar minha mão aos outros”, disse Agajan. “Posso mostrar a eles o que podem fazer e como melhorar a si mesmos. Minha própria experiência me ajuda a ajudá-los.”

Agajan estudava em casa depois do trabalho todos os dias e, depois de seis anos na Grécia, com uma renda estável para se sustentar, ele pôde voltar para a escola. Agora ele está terminando o ensino médio, fazendo aulas durante à noite com ênfase em programação de computadores. Está economizando para comprar uma casa, a coisa mais importante para ele no momento – ainda maior que o desejo de ser médico.

“Quero me casar, ter filhos e viver em nossa própria casa”, disse ele. “Todos esses anos eu vivi sozinho e sem família, então agora estou tentando isso. Se você está tentando, e tem esperança, encontrará o caminho. Se eu não puder estudar, talvez eu possa ajudar outra pessoa, e talvez meus filhos possam estudar.”

Agajan nunca abandonou a fé de que sua mãe e seus irmãos estavam vivos. “Meus sentimentos me diziam que tudo estava bem e eu iria encontrá-los”, disse ele. “Às vezes eu achava que talvez eles estivessem aqui em Atenas.” Quando Agajan tinha 19 anos, trabalhando na fábrica e se voluntariando como intérprete, seus parentes no Paquistão lhe deram um número de telefone que encontraram de pessoas que eles conheciam no Afeganistão. Agajan ligou e esperou enquanto alguém correu para trazer sua mãe.

Agajan ainda lembra vividamente dos aldeões no Afeganistão, agradecendo seu pai por oferecer cuidados médicos gratuitos, especialmente após os bombardeios. “É por isso que eu gosto de ajudar as pessoas”, disse ele. “Então, OK, eu não sou médico, mas posso ajudar as pessoas com o que eu tenho.”

Falar com ela pela primeira vez em mais de uma década, disse ele, era muito difícil de descrever. “Ela me disse: ‘OK meu filho, você está bem, seguro, tenha cuidado e não tente voltar agora’”, contou ele. “Depois disso, economizei meu dinheiro para comprar um telefone para minha mãe de forma que eu possa chamá-la diretamente.” Soube que seus irmãos – alguns mais velhos, alguns mais jovens – estão espalhados pelo mundo. Ele não diria quantos ainda estão vivos, por temer por suas vidas.

Agora, apesar de trabalhar o dia inteiro e frequentar as aulas todas as noites, Agajan encontra tempo para conversar com sua mãe pelo Skype todas as semanas, e se veem pela conexão de vídeo.

Mas ele está ligado à Grécia e quer retribuir ao povo que o acolheu. Agajan ainda lembra vividamente dos aldeões no Afeganistão, agradecendo seu pai por oferecer cuidados médicos gratuitos, especialmente após os bombardeios. “É por isso que eu gosto de ajudar as pessoas”, disse ele. “Tenho muitos amigos gregos que me dão suas roupas velhas, e encontro pessoas nos parques e outros lugares e entrego as roupas para elas. Então, OK, eu não sou médico, mas posso ajudar as pessoas com o que tenho.”

“Não cheguei aqui para alguém me ajudar ou me dar coisas”, disse ele. “Nunca fiquei sem trabalhar, todos esses anos, e desde o dia em que consegui um emprego, eu pago impostos. Se você pesar isso, quanto a Grécia me dá e quanto eu dou à Grécia, bem, eu estou pagando todos os impostos, mas a Grécia está me dando uma nova vida. Então eu tento dar o meu melhor. Me sinto como um grego.”

Seus amigos gregos dizem que ele é mais maduro do que outros de sua idade – é de se esperar, considerando sua experiência de vida. Mas, mais do que a maturidade, sua jornada lhe mostrou o poder da positividade. “De tudo o que eu passei, joguei fora as coisas negativas e só levei as positivas comigo”, disse ele. Agora, fotógrafo por hobby, Agajan disse que só tira fotos de coisas “boas”, para ajudar a apagar as más da memória.

Essas qualidades tornam os refugiados inestimáveis para seus novos países de acolhimento, disse Snapp.

Mary Snapp encontrou-se com Agajan em sua recente visita aos campos de refugiados da Grécia e da Jordânia, e ela o observou cumprimentando as pessoas, batendo nas costas dos homens e perguntando sobre as crianças. “Ele lhes deu uma sensação de esperança de que poderiam fazer mais, uma conexão com um mundo em que eles esperam estar um dia”, disse ela.

“Os refugiados trazem caráter, resiliência e coragem”, disse ela. “Sua perseverança permite que eles sejam muito adaptáveis no local de trabalho. Eles têm a capacidade de trabalhar em colaboração, para realmente trabalhar com os outros. É um conjunto de características baseadas nas experiências que passaram e um conhecimento de como o mundo funciona, que pode separa-los de um engenheiro que se formou no MIT e veio direto para nós aos 23 anos. E aqui na Microsoft precisamos dessa perspectiva, também, se vamos criar produtos e serviços com recursos que serão úteis para a população do mundo.”

Em dezembro de 2000, quando Agajan morava no Paquistão e estava prestes a completar 12 anos, e quando Toukatli ainda desfrutava de sua idílica infância na Síria, a Assembleia Geral das Nações Unidas designou o 20 de junho como o Dia Mundial do Refugiado, para aumentar a conscientização e ações.

Agora, Agajan e Toukatli querem que as pessoas saibam que “refugiado” é apenas um nome para alguém que poderia muito bem ser um de nós.

“Ninguém quer ser um refugiado”, disse Toukatli. “É uma circunstância a que eles são forçados. Quando eu morava na Síria, sem guerra, nunca imaginei que seria uma refugiada um dia. Então, por que você pensaria que pode viver sua vida inteira sem ser uma? Poderia acontecer com você, e ficaria sem casa. E sem casa, sua personalidade está perdida. Talvez agora você não sinta a importância do seu país. Mas se o perdeu, uma parte de você se perderia para sempre.”

Agajan espera que a cada ano, no 20 de junho, as pessoas fiquem um momento com os olhos fechados e imaginem.

“Não pense; apenas sinta isso”, disse ele. “Você está no mar com sua família, em um barco de plástico, e não pode ver nada. É muito assustador. Você ama sua casa, mas se voltar para aquela costa alguém vai matá-lo. Se ficar nesse barco, mesmo que seja construído para cinco e tenha 40 pessoas espremidas, se chegar ao outro lado, você terá uma vida. Qual você vai escolher?”

“Os refugiados não vêm tomar nada. Só querem estar em algum lugar em que se sintam seguros, em um lugar que se preocupe com os seres humanos. Se você ajuda um pouco a alguém, como pessoa ou como país, essa ajuda voltará para você.”

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Fotos: Brian Smale / © Microsoft

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