Este museu está usando IA para nos lembrar dos fios que temos em comum

Por Abhishek Mande Bhot 

 

Abra o seu armário. Se você encontrar algo com estampa paisley também encontrou uma conexão com a arte do mundo antigo. O design curvilíneo é um dos motivos mais onipresentes na moda global moderna, mas suas raízes têm alguns milênios. 

O padrão provavelmente saiu da Pérsia, atual Irã, e chegou à Babilônia, onde hoje é o Iraque. Os escribas de lá o compararam a um broto de tamareira que se desenrola. Também surgiu em várias partes da Índia, onde passou a ser chamado de badam, kairi ou amba, entre outros – para descrever sua forma de lágrima ou manga. 

Ele viajou para o oeste do subcontinente há algumas centenas de anos e se tornou a última moda. Por fim, recebeu o nome de uma cidade na Escócia onde as fábricas se especializaram em imitar xales da Caxemira com o padrão de exportação global. O Paisley tem estado na moda (mais frequentemente do que fora dela) desde então. 

A jornada do Paisley através do tempo e dos continentes tem sido incansável. E é apenas uma das muitas histórias de tecidos trazidas à vida pela INTERWOVEN, uma experiência virtual alimentada por inteligência artificial (IA) do Museu de Arte e Fotografia (MAP) em Bengaluru, um dos principais centros tecnológicos da Índia. 

No site da INTERWOVEN, um único clique na imagem de um fragmento de xale da Caxemira de meados do século XIX e início do século XX, com o tema paisley, leva a uma odisseia cultural que percorre dezenas de lugares onde o nome aparece. Isso inclui uma igreja na Grã-Bretanha, uma casula (manto usado sobre a batina dos padres) da Itália e um painel de tecido da antiga Pérsia, entre outros. 

A INTERWOVEN é uma ferramenta inovadora desenvolvida em colaboração entre o MAP, a MAP Academy e a iniciativa AI for Cultural Heritage da Microsoft. Ela usa aprendizado de máquina e IA para revelar as conexões entre as obras de arte têxteis do MAP e as das coleções de outros museus de todo o mundo. 

O AI for Cultural Heritage, da Microsoft, aproveita o poder da IA para capacitar pessoas e organizações dedicadas à preservação e ao enriquecimento do patrimônio cultural. A plataforma demonstra como a tecnologia pode servir como uma ferramenta útil para ajudar as pessoas a preservar e a se conectar ao patrimônio cultural em escala global e através de gerações. 

Como parte da iniciativa, a Microsoft apoia indivíduos e organizações, nesse caso o MAP, por meio de colaboração, parceria e investimento em tecnologia e recursos de IA. 

“Usar a tecnologia para aprimorar a engenhosidade humana, celebrar a criatividade humana e estimular as conexões está no cerne do trabalho da Microsoft”, diz Brad Smith, Presidente da Microsoft. “A Índia tem sido um caldeirão de culturas e um epicentro do comércio global por séculos. É emocionante ver como a INTERWOVEN, nosso primeiro projeto de IA para o Patrimônio Cultural da Índia, nos lembra como diferentes culturas são vibrantes e como essas tradições são compartilhadas em uma narrativa que ultrapassa o tempo e o espaço”. 

A INTERWOVEN usa os serviços Azure Custom Vision e AI Text Analytics para ajudar a encontrar linhas em comum e histórias compartilhadas em tradições artísticas entre os artefatos têxteis do MAP e os tesouros artísticos de seus museus parceiros. Assim, você pode ver a jornada dos tecidos não apenas por motivos e desenhos, mas também por filtros de cor, ocasiões, locais e épocas, entre outros. 

 

As tradições centenárias do sul da Ásia e seu comércio fazem dos tecidos um ótimo ponto de partida para estudar a disseminação da cultura. 

“Os tecidos do subcontinente eram vitais para o comércio, com alguns dos melhores tipos de algodão e seda sendo exportados por vias terrestres e marítimas. Como resultado, os tecidos influenciaram e moldaram a política global por séculos”, aponta Shrey Maurya, editor-chefe da MAP Academy, parceira de conhecimento da INTERWOVEN. 

“Eles eram a mercadoria para comprar as especiarias comercializadas em todo o mundo”, explica Kate Irwin, curadora de roupas e tecidos do Museu de Arte da Escola de Design de Rhode Island. “O algodão foi uma indústria global por mil anos e o centro dessa indústria foi a Índia até o século XIX; temos um longo período de história em que o mundo – da África Oriental e Indonésia ao mundo árabe e à Europa – queria os tecidos do sul da Ásia. Por isso, faz sentido começar com esses tecidos para entender padrões e linguagem artística em todo o mundo; há muita história densa”. 

A INTERWOVEN pode ajudar curadores, acadêmicos e historiadores de arte a encontrar linhas comuns entre artefatos e permitir que eles contem novas histórias ou desvendem novas conexões entre diferentes civilizações. Eles agora podem acessar vastas coleções em suas casas, e a IA pode ajudar a determinar ligações incertas entre objetos. 

Mas a plataforma também tem a capacidade de atrair alguém com um interesse passageiro no assunto. Os visitantes nessa experiência podem fazer uma jornada com curadoria ou explorar a coleção do MAP e clicar em qualquer obra de arte para explorar as várias conexões por conta própria. 

“Aqui, você nunca vai olhar para um objeto isoladamente. No momento em que você seleciona qualquer coisa na plataforma – mesmo um tema perdido em um remendo – o algoritmo mostrará automaticamente todas as conexões que existem ao redor do mundo”, diz Maurya. “Com isso, a INTERWOVEN ajuda a fomentar e sustentar o interesse em tecidos e arte”. 

Tornar a arte e a experiência do museu acessíveis é um dos principais objetivos do MAP e a tecnologia está no centro dessa meta. 

“Sempre quisemos ser um museu do futuro. Os jovens da Índia são usuários nativos de tecnologia e o MAP quer aproveitar isso para exibir o patrimônio cultural da Índia e mostrar que a arte pode ser divertida e não elitista”, diz Abhishek Poddar, fundador do museu. 

Assim, quando a pandemia da COVID-19 atrapalhou os planos de abrir as portas ao público em 2020, o MAP adotou as soluções digitais com a mesma facilidade que seu potencial público jovem tem com a tecnologia. 

Entre os esforços que a equipe fez para se envolver com suas comunidades on-line, está o Museums Without Borders, uma colaboração digital com seus museus parceiros que acabou levando à criação da INTERWOVEN. O MAP também lançou a MAP Academy durante esse período, que é uma grande plataforma on-line composta por uma enciclopédia de arte e cursos, incluindo um sobre a história dos tecidos no sul da Ásia, que também é apresentado na INTERWOVEN para usuários que desejam aprender mais. 

“A INTERWOVEN começou com a ideia de explorar toda a coleção do MAP, mas percebemos que os tecidos eram a forma de arte que falava mais eloquentemente com as conexões globais”, conta Kamini Sawhney, diretor do MAP. 

O MAP fez parceria com 16 outros museus, incluindo o Metropolitan Museum of Art, em Nova York, o Cleveland Museum of Art e o Victoria and Albert Museum, em Londres, e o Smithsonian, em Washington, DC, para conectar suas coleções à experiência INTERWOVEN. 

“Estamos entusiasmados por fazer parte do projeto INTERWOVEN, liderado pelo programa AI for Cultural Heritage da Microsoft e pelo Museu de Arte e Fotografia da Índia. Ele serve como uma janela para nossa magnífica coleção, permitindo que as pessoas se conectem visualmente, emocionalmente ou em nível acadêmico com as obras de arte do Cleaveland Museum of Art. Esse projeto é uma implementação maravilhosa de nossa coleção Open Access”, diz Jane Alexander, diretora de informações digitais do Cleveland Museum of Art. “Sabemos que as pessoas podem nunca visitar Cleveland para conhecer nossa coleção pessoalmente, e essa ferramenta interativa permite que visitantes de todo o mundo explorem nossa notável coleção de uma maneira que oferece um contexto e insights culturais mais profundos, tornando a arte mais acessível”. 

Especialistas em tecnologia criativa da A_da, uma agência de inovação e design de experiência, ajudaram a conceber o componente de IA e sua implantação na INTERWOVEN. Eles implementaram uma combinação de vários serviços de IA da Microsoft para fornecer resultados de conexão avançados entre a coleção digital do MAP e peças de coleção de acesso aberto de seus museus parceiros. 

A coleção digital do MAP foi codificada usando palavras-chave precisas, meta tags e fotografias de alta resolução. O algoritmo usa o Azure AI Text Analytics para analisar de maneira inteligente essas palavras-chave e o Azure AI Custom Vision para ajudar a fazer comparações visuais e de modelo. 

Embora o algoritmo esteja ativo, a equipe criativa está trabalhando simultaneamente para melhorar a detecção visual, treinando os modelos para identificar elementos visuais como florais, padrões de animais e formas geométricas encontradas na arte do sul da Ásia. 

Mandara Vishwanath, da MAP Academy, continua fascinada ao encontrar várias semelhanças no estilo e na estética dos tecidos em diferentes regiões. 

“Por exemplo, temos muitos tecidos kalamkari na Índia que mostram histórias e episódios do Ramayana e do Mahabharata (obras clássicas indianas escritas em sânscrito entre os séculos 7 e 6 antes de Cristo e 3 antes de Cristo, respectivamente). Essas histórias também são apresentadas em tecidos de algodão estampados no Sudeste Asiático. A INTERWOVEN nos ajudou a observar as diferenças de estilo entre as pinturas têxteis da Índia e os tecidos estampados encontrados em países como Indonésia e Malásia”, diz ela. 

Para quem se interessa pelo assunto, todas essas informações, categorizadas e contextualizadas, são apresentadas de forma fácil de compreender. Para outras pessoas, elas são uma página em branco para começar suas próprias jornadas. 

E mesmo quando você clica de uma obra de arte para outra, cruzando fronteiras geográficas e épocas, o que a INTERWOVEN lembra é que não importa o que aconteça, além de nossas diferenças, estamos todos em uma jornada comum conectada por uma trama que você nem sabia que existia. 

No alto: Um artesão da Caxemira trabalhando em um xale com o padrão paisley (Isam Wani para Microsoft) 

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