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Saqib Shaikh mostra seu celular.

Saqib Shaikh fala sobre tecnologia e inclusão: um futuro de IA com possibilidades para todos

Saqib Shaikh perdeu a visão aos sete anos de idade, apaixonou-se por computadores quando era estudante na Grã-Bretanha e cresceu para se tornar um engenheiro de software de alto nível com uma missão inspiradora.

Situado na interseção entre inteligência artificial (IA) e design inclusivo, ele acredita que podemos criar máquinas inteligentes para capacitar milhões de pessoas com deficiências em todo o mundo para alcançar mais e viver melhor. O conhecimento adquirido ao direcionar e resolver os problemas das pessoas com necessidades especiais, diz ele, pode impulsionar a inovação tecnológica que beneficia a todos em toda a sociedade.

Saqib tem uma relação duradoura com o avanço da tecnologia digital. Em uma escola para crianças cegas e com baixa visão, ele aprendeu a autoconfiança e desenvolveu um grande senso de curiosidade. Aos 10 anos de idade, ele ganhou um PC falante rudimentar e isso o levou a aprender a programar. Seu romance intelectual com a ciência da computação floresceu na universidade, onde ele superou todos os tipos de desafios do dia-a-dia no campus para se graduar como o líder de sua turma, com um mestrado em IA.

Cerca de uma dúzia de anos atrás, Saqib juntou-se à Microsoft e rapidamente provou sua destreza como engenheiro, ajudando a criar produtos, serviços e aplicativos que muitos de nós usamos todos os dias, como Bing e Cortana.

Sua busca hoje em dia é criar mais acessibilidade e inclusão, para nivelar o campo de atuação para todos. Como força motriz por trás do projeto Seeing AI, da Microsoft, ele está explorando como a inteligência artificial pode permitir que pessoas cegas ou com baixa visão obtenham mais com liberdade e confiança.

Sua equipe lançou o aplicativo Seeing AI em 2017, dando a quem não consegue enxergar uma nova maneira de entender o mundo por meio das câmeras em seus smartphones. Desde então, tem ajudado clientes em mais de 10 milhões de tarefas. O usuário apenas aponta seu telefone, e o aplicativo fala o que vê. Pode ser em uma sala, rua, shopping ou escritório – os clientes estão usando o aplicativo em todos os tipos de situação. Com a tecnologia de reconhecimento facial, o aplicativo pode nomear amigos e conhecidos, descrever as aparências físicas das pessoas e até prever seu humor. Pode ler texto impresso em livros, jornais, menus e sinais em voz alta. Pode até identificar cédulas de dinheiro.

Saqib atualmente trabalha e mora em Londres. Conversamos com ele em uma recente visita a Cingapura, onde ele disse ao público como a tecnologia o ajudou a realizar seu potencial e como promete melhorar a vida de todos – e não apenas de pessoas com deficiências.

“Há muitos problemas. Mas para cada um deles existe uma solução”, diz ele.

P: Como tem sido seu trabalho na Microsoft?

Estou na Microsoft há 13 anos. Tem sido uma experiência fantástica, com a oportunidade de impactar positivamente a vida de muitas pessoas.

P: Como seu trabalho foi afetado por sua deficiência visual?

Isso não é realmente algo em que penso. Desde o início, tive a sorte de estar cercado por colegas que me apoiaram. Não poder ver apenas desaparece no contexto. Sempre que um problema aparece, você apenas encontra uma solução.

P: Conte-nos sobre a transformação cultural dentro da empresa e como ela está incentivando a inclusão e a acessibilidade.

Vimos uma mudança nos últimos anos. Embora sempre tenha havido esse grupo apaixonado trabalhando em acessibilidade na empresa, vimos isso se tornar parte do processo de desenvolvimento, em vez de algo especial. Há um reconhecimento de que devemos procurar e contratar pessoas de todas as esferas da vida para que todos os nossos produtos possam realmente se tornar inclusivos. E os hackathons, como o que gerou o Seeing AI, proporcionaram uma grande oportunidade para os funcionários explorarem suas paixões e às vezes até criarem novos recursos para nossos produtos.

P: Qual a sensação de ser um embaixador do poder da tecnologia e da inclusão?

Acho que gosto disso, embora nunca tenha pensado nisso em termos tão grandiosos. Se eu puder espalhar uma mensagem que permita aos nossos clientes pensar de maneira diferente sobre a deficiência, sobre ser mais inclusivo, então, eu estou feliz. Se eu puder inspirar ou influenciar pessoas nessa direção, será ótimo.

P: Como você se interessou por computadores?

Quando eu tinha uns 10 anos, usei um computador falante na escola – amei a independência que me deu. E isso me levou a aprender a programar e o resto é história.

O que é realmente empolgante é que, olhando para as crianças de hoje, elas têm tecnologias assistivas incluídas na maioria dos dispositivos e, com a internet, você pode acessar muitas informações.

P: De onde surgiu o conceito do Seeing AI?

Minha primeira lembrança de ter pensado sobre essa ideia foi na universidade, há mais de 15 anos. Fazíamos sessões de ideias no dormitório. Dizíamos coisas como “ok, devemos fazer um par de óculos com uma câmera que possa olhar tudo em volta e descrevê-lo em voz alta”.

Naquela época, nós não poderíamos fazer isso totalmente. Mas em 2014, tivemos nosso primeiro Hackathon na Microsoft. E eu pensei novamente sobre essa velha ideia. Os primeiros protótipos eram apenas rudimentares. Eles fizeram reconhecimento facial e algumas outras coisas.

Mas então começamos a trabalhar com os grandes cientistas da Microsoft Research, braço de pesquisa e desenvolvimento da Microsoft. As tecnologias e os algoritmos de aprendizagem profunda ficaram cada vez melhores, junto com a computação em nuvem. Chegamos ao ponto em que um computador poderia pelo menos tentar descrever o que está acontecendo em uma foto. Esse foi o verdadeiro avanço.

As coisas ainda estão progredindo. Ainda não realizamos nosso sonho. Mas estamos nos aproximando. Trata-se de identificar uma necessidade e, em seguida, tecer as tecnologias para criar soluções.

Pense na deficiência como um impulsionador da inovação. Onde quer que haja necessidades extremas e problemas extremos, podemos encontrar soluções incríveis.

P: Como você vê o papel da tecnologia quando se trata de desafios de inclusão?

Se olharmos para a tecnologia que nos rodeia, muito dela veio – e foi inspirado por – pessoas com deficiências. O telefone, computadores falantes, conversão de texto em fala, reconhecimento de voz, scanners de mesa e até mesmo telas sensíveis ao toque são tecnologias que tiveram seu início porque alguém tinha um problema e alguém teve tempo de encontrar uma solução. A tela sensível ao toque foi originalmente criada por alguém que sofreu lesões por esforço repetitivo e queria uma maneira menos dolorosa de digitar. Estas são coisas que foram criadas primeiro para pessoas com deficiência. Essa ideia realmente me entusiasma: podemos pensar na deficiência como um impulsionador da inovação. Onde quer que haja necessidades extremas e problemas extremos, podemos encontrar soluções incríveis.

P: Qual será a forma da tecnologia no futuro?

Estou otimista sobre o futuro. Daqui a muitos anos, acho que cada um de nós terá nossa própria “agente pessoal” de IA nos ajudando. Eu imagino isso como um amigo sentado no meu ombro, olhando para o mundo ao meu redor e sussurrando no meu ouvido. Esses agentes vão aprender o que é importante para você. Eles saberão o que dizer e quando lhe falar de maneiras apropriadas.

Eu sinto que é para lá que estamos indo – pequenos agentes que sentem o mundo ao seu redor. Não será apenas para pessoas com deficiências. Teremos um mundo no qual os sensores e a computação de fronteira fornecerão uma tecnologia que realmente entenderá o mundo ao nosso redor.

No alto: Saqib Shaikh demonstra o aplicativo Seeing AI em seu smartphone durante uma visita recente à sede da Microsoft Ásia em Cingapura.

Geoff Spencer escreve no News Center da Microsoft Ásia.