Habilitando a proteção florestal e a educação por meio de investimentos offset da Microsoft

Por: TJ DiCaprio, diretor sênior de sustentabilidade ambiental.

Como parte do compromisso Microsoft com a neutralidade de carbono, selecionamos um portfólio de compensação de carbono que nos permite não só reduzir nossas emissões diretas de carbono, mas também entregar uma gama de benefícios desde a proteção da biodiversidade, passando por melhorias na saúde e no bem-estar para famílias, até segurança alimentar e criação de empregos. Neste texto, consideramos como os projetos de proteção e de reflorestamento em nosso portfólio estão atuando com comunidades locais para gerar impacto positivo.

Estima-se que o desmatamento corresponda a aproximadamente 18% das emissões globais de carbono. A agricultura de subsistência, usando técnicas de corte e queima, e a pecuária intensiva desempenham um papel importante no desmatamento que ocorre pelo mundo. Trabalhamos com a CarbonNeutral Company para oferecer financiamento a projetos de carbono no Brasil, no Quênia e no Camboja que estão trabalhando com comunidades locais para criar modelos de desenvolvimento econômico mais produtivos e sustentáveis: modelos que reduzam o impacto negativo nas florestas locais e na biodiversidade, ao mesmo tempo qu fortalecem a economia e o bem-estar da comunidade.

Projeto comunitário de reflorestamento em Meru e Nanyki (Quênia)

No fim do século 20, o Quênia tinha uma cobertura florestal de mais de 10%. Hoje, a cobertura de florestas corresponde a menos de 2% por causa do desmatamento, da agricultura comercial, da queima de carvão e da exploração florestal. Fazendeiros cortam árvores para liberar terras para agricultura, o que resultou em terra exposta e erodida, além da remoção de nutrientes do solo. Isso, somado ao crescimento anual da população na casa dos 2,5%, pressiona a cobertura florestal remanescente.

O Projeto Comunitário de Reflorestamento Meru e Nanyki trabalha com comunidades locais para apoiá-las em atividades de plantio local de árvores. O projeto oferece estrutura e treinamento, assim as comunidades podem aprender umas com as outras, compartilhar melhores práticas e tomar decisões que funcionam para circunstâncias particulares. A educação é essencial para o sucesso do projeto: capacitar agricultores para desenvolver novas fontes de alimento e renda e beneficiá-los a partir de suas atividades de reflorestamento. Uma pesquisa de participação conduzida pela Aliança para o Clima, a Comunidade e a Biodiversidade (CCBA), para obter a Certificação de Ouro, estimou que os participantes que plantam árvores frutíferas ou castanheiras e usam as ramas como lenha podem se beneficiar em média de 95 dólares por ano, tanto da venda de seus produtos quanto da economia na compra de comida e combustível para si mesmos.

Melhorar o rendimento das culturas para os agricultores também é uma parte importante do programa, alcançada por meio do ensino de técnicas de cultivo conservacionistas aos participantes. Isso cria um ciclo virtuoso de aumento da disponibilidade de forragem, permitindo que os agricultores criem gado e aves, se beneficiando da venda e do uso de produtos de origem animal, como carne, ovos e leite, aumentando a disponibilidade de adubo para uso nas culturas e melhorar ainda mais os rendimentos.

O relatório CCBA estima que todos esses benefícios valem em média 340 dólares para os agricultores que usam novas técnicas a cada ano.

Com 82% das pessoas na área do projeto, estima-se que a renda anual fique entre 160 e 800 dólares, as atividades educacionais do projeto podem ter um impacto significante na sua segurança financeira. Os participantes contam que a renda adicional é gasta principalmente com comida, taxas escolares e materiais educacionais.

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Esther Muthoni é membro de uma comunidade que aderiu ao Projeto comunitário de reflorestamento em Meru e Nanyki e, desde então, tem aproveitado as oportunidades que ele deu a ela para aprimorar a educação na área: há cinco anos, ela fundou a Saint Annmona School, uma escola primária para crianças na comunidade. Esther acredita que “se você educar uma menina, você educa uma nação”. (Foto: Lynn Johnson, Ripple Effects)

Além de sua escola, Esther acredita que as árvores são parte do que ela é. Ela transmite às crianças seu amor pelas plantas e educa os pequenos sobre a importância das árvores para a comunidade e o ambiente global. Ela leva 20 de seus estudantes mais velhos para um campo próximo a fim de semear pela área, ensinando a eles que o valor de uma árvore não é apenas pela lenha ou pela madeira para construção, mas também por ela limpar o ar, reduzir a erosão do solo e construir um senso de valores comunitários.

Por meio do projeto — que agora inclui quase 58 mil membros por toda a região — mais de 6 milhões de árvores já foram plantadas, e mais de 350 mil são frutíferas ou fornecem nozes. Os agricultores recebem pagamentos anuais para cada árvore plantada e recolherão receitas futuras à medida que as árvores crescem e sequestram carbono.

No Brasil e no Camboja, os projetos de proteção da floresta também dependem fortemente de comunidades locais para preservar a biodiversidade que requer uma floresta em pé para prosperar.

A Amazônia representa mais da metade das florestas tropicais remanescentes do mundo; com mais de um terço das espécies do mundo vivendo nela. O Acre, um Estado da Região Norte do Brasil, tem 90% de seu território coberto por florestas, mas pelas taxas atuais de desmatamento, está previsto que esse número caia para apenas 65% até 2030.

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O projeto Acre está trabalhando para evitar que isso aconteça por meio da conservação de quase 35 mil hectares de floresta tropical. Pelo menos duas espécies ameaçadas da flora foram identificadas na área do projeto e armadilhas com câmeras fotografaram diversas espécies de mamíferos quase ameaçadas e vulneráveis, incluindo o cachorro-do-mato-de-orelhas-curtas, a onça, o tamanduá-bandeira e a anta.

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Para agricultores, como Benedito Silva junto de sua esposa e filhos, são oferecidos cursos sobre produção aprimorada da banana, pastoreio rotacional e sustentável de gado, criação de galinhas, gerenciamento de propriedade rural e o uso sustentável de legumes. O objetivo é ajudar os agricultores a aprender novas técnicas, assim eles podem permanecer em uma área e cultivar de forma produtiva, reduzindo a necessidade de se mudar repetidamente e de derrubar mais árvores.

No Camboja, a ação da comunidade é igualmente importante para a Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REED+), na província de Oddar Meanchey. Lá, o projeto protege uma floresta tropical crítica que oferece habitat para 26 espécies de mamíferos, incluindo a ameaçada população de tigres, e 174 espécies de pássaros, muitas das quais são consideradas ameaçadas ou em extinção.

Desde 2002, Oddar Meanchey perdeu 2,5% de suas florestas anualmente, pois agricultores migrantes e concessionárias “limparam” a terra retirando e queimando a cobertura feita pelas árvores.

O projeto Oddar Meanchey totaliza 56 mil hectares. Ao trabalhar com a comunidade locar, os grupos de proteção florestal estão desenhados para proteger contra ameaças externas e aprimorar a sustentabilidade e os meios de subsistência de comunidades por meio de educação ou melhoria de rendimentos agrícolas, assistência no desenvolvimento de comunidades baseadas em recursos hídricos e fortalecimento da propriedade de terra e da proteção para comunidades.

O programa de compensação de carbono nos ajuda a garantir que os recursos que estavam destinados a outras áreas concedam valor a comunidades e áreas que são particularmente vulneráveis. À medida que a luta contra a destruição das florestas continua, educação e engajamento com as comunidades que vivem com as árvores diariamente são essenciais para fazer desse projeto um sucesso.

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