Ilhas do Pacífico em estado de vulnerabilidade buscam dados para lidar com desastres naturais e ajudar a curar o meio ambiente

A primeira coisa que vem em mente quando mencionamos as ilhas tropicais do Pacífico são pensamentos de areia fofa, lagoas azuis e palmeiras ondulantes. Mas há um lado diferente nesta imagem de cartão-postal: esta região está entre os lugares mais vulneráveis do mundo para desastres naturais e o impacto das mudanças climáticas. 

Tempestades e furacões estão se tornando mais intensos e destrutivos. Os recifes de coral estão morrendo à medida que as temperaturas dos oceanos sobem. O aumento do nível do mar está destruindo as frágeis linhas costeiras. E alguns atóis baixos podem desaparecer em breve sob as ondas. Enquanto isso, flagelos produzidos pelo homem, como lixo plástico flutuante e pesca predatória, estão afetando os ecossistemas marinhos. 

Imagem 1: Região de Funafuti, no país insular de baixa altitude Tuvalu. Foto: Getty

Os problemas são enormes e alguns deles podem nunca ser resolvidos completamente. No entanto, pesquisadores e formuladores de políticas em toda a região estão otimistas. Eles dizem que com insights oportunos, relevantes, acionáveis e precisos, muito pode ser feito para tornar suas ilhas mais resilientes a crises climáticas e ambientais. 

A solução para este problema pode ser encontrada nos dados. Conheça a Comunidade do Pacífico (SPC), a principal organização científica e técnica de 27 países e territórios da região ou associados a ela. A organização está lançando o Digital Earth Pacific – uma nova plataforma de análise que irá explorar milhares de dados ambientais disponíveis gratuitamente, que são constantemente acumulados por cientistas e satélites para observação da Terra. Construído no Computador Planetário da Microsoft, a plataforma usará Inteligência Artificial (IA) e o imenso poder de processamento na nuvem para acessar, analisar e modelar dados de várias fontes. 

Os insights gerados pela Digital Earth Pacific ajudarão os governos e gestores das Ilhas do Pacífico a tomar melhores decisões.

Imagem 2: Um satélite meteorológico tirou esta foto de um poderoso furacão varrendo Fiji e Tonga. Foto: Getty.

“Essas informações estão mantidas em armazenamentos de dados em outras partes do mundo, mas até agora, as nações do Pacífico não conseguiram usá-las”, diz Andrew Jones, diretor da Divisão de Geociência, Energia e Marítima da SPC. “Isso os ajudará a tomar decisões precisas em torno de seus problemas mais críticos.”  

O desenvolvimento desta nova plataforma ocorre quando uma das nações do Pacífico trabalha duro para se recuperar de um dos desastres mais expressivos da região em décadas. Em janeiro, o vulcão submerso Hunga Tonga Hunga Ha’apai explodiu com uma força estimada equivalente a 10 megatons de TNT, balançando o Reino de Tonga. 

Os estrondos ensurdecedores da erupção foram ouvidos até no Alasca. Uma coluna de poeira e detritos subiu para a estratosfera e cobriu a capital Nuku’alofa com cinzas sufocantes e chuva de pedra-pomes. Em poucos minutos, uma parede de água emergiu do mar, carros e casas foram arrastados, barcos foram lançados para fora do porto e as comunicações foram cortadas. Outros tsunamis devastaram ilhas distantes ou se espalharam pelo oceano aberto, atingindo as costas do Japão, Austrália e até a costa oeste dos EUA. 

Jones diz que a análise de dados coletados por satélites antes, durante e após a erupção pode ajudar nos esforços de recuperação, incluindo, por exemplo, etapas como a avaliação dos danos às plantações e a contaminação da água. “Tendo dados do contexto normal da região, particularmente para o mesmo mês ou estação, significa que você pode comparar com os registros pós desastre para dizer onde perdeu plantações ou onde pode haver cinzas na água.” 

Imagem 3: Uma fotografia de satélite de uma enorme nuvem de poeira lançada por uma erupção vulcânica submarina perto de Tonga. Foto: CIMSS, SSEC, NOAA, JMA.

As ameaças de atividade vulcânica, terremotos e tsunamis estão sempre presentes nesta região, que fica situada no Anel de Fogo do Pacífico, um arco de vulcões e falhas sísmicas que se estende desde as costas oeste da América do Sul e do Norte, até o Japão, atravessando as Filipinas e Indonésia até chegar na Nova Zelândia. 

Jones teoriza que a análise de dados pode um dia ajudar a prever erupções. “O outro uso potencial pode ser em torno do alerta precoce”, diz ele. “Há mudanças nas formas desses vulcões antes de entrarem em erupção, as quais são possíveis detectar dos satélites. Há muitas ressalvas aqui em termos de quando os satélites sobrevoam essa área específica e quanta deformação há no vulcão, mas é uma possibilidade.” 

Imagem 4: Uma enorme erupção vulcânica gerou um tsunami que danificou gravemente o porto de Nuku’alofa, em Tonga. Foto: Mary Lynn Fonua

Meizyanne Hicks, diretora da Divisão de Informações Geoespaciais do Ministério de Terras e Recursos Minerais de Fiji, diz que a tomada de decisões com base em dados é crucial para a preparação e recuperação de desastres. Nos últimos anos, várias comunidades insulares foram devastadas por fortes tempestades de categoria 5. Em 2015, o ciclone tropical Winston atingiu Fiji, destruindo centenas de milhares de casas. Já em 2020, o ciclone Harold causou destruição nas Ilhas Salomão, Vanuatu, Fiji e Tonga em apenas alguns dias. 

No ano passado, o ciclone Yasa varreu Fiji com ventos de até 260 km/h, deixando milhares de casas destruídas ou danificadas. A chuva torrencial da tempestade também provocou deslizamentos de terra devastadores. Mais de 500 pessoas fugiram do vilarejo de Nabavatu quando uma encosta encharcada cedeu. Fendas profundas se abriram em suas terras e tornaram suas casas estruturalmente inseguras e inabitáveis. A área foi declarada zona de perigo e as pessoas continuam desabrigadas.  

Mas com dados acionáveis, Hicks diz que as autoridades esperam “identificar um local adequado para mover os moradores, não apenas para casas, mas também para terem acesso a escolas e oportunidades de usar a terra para sua subsistência”. 

O ciclone tropical Harold devastou esta vila na Ilha de Pentecostes, em Vanuatu. Foto: Gina Stein.

Hicks, que faz parte da equipe que supervisiona o Digital Earth Pacific, diz que a nova plataforma de dados ajudará a garantir um futuro melhor para o povo das ilhas do Pacífico, abordando também os desafios de longo prazo em torno de produtividade agrícola, urbanização, erosão costeira, extração insustentável de nossos recursos naturais, eliminação de resíduos e poluição. 

“As nações insulares do Pacífico têm há muitos anos dificuldade em acessar e usar a observação da Terra (por satélites) como uma ferramenta para entender os desafios do meio ambiente e como isso afeta as decisões tomadas sobre nosso meio ambiente e a vida dos habitantes das ilhas do Pacífico”, Hicks diz. “O Digital Earth Pacific chegou em um momento em que esses desafios podem ser melhor compreendidos. Assim poderemos acessar não apenas dados arquivados de observação da Terra que são gratuitos, mas também dados processados e reunidos de uma maneira significativa, que beneficiarão muito nossos tomadores de decisão.” 

O diretor-geral da SPC, Stuart Minchin, diz que o Digital Earth Pacific potencialmente gerará benefícios econômicos significativos. “A tecnologia está aí, os dados existem e estão prontos para serem usados”, diz ele. “O Digital Earth Pacific se tornará um bem público operacional que gerará produtos regularmente sempre que um satélite sobrevoar nossa região. Os países poderão acessar as informações da mesma forma que as pessoas acessam os boletins meteorológicos em seus telefones, em qualquer dia da semana.” 

Diretor-Geral da Comunidade do Pacífico, Stuart Minchin. Foto: Comunidade do Pacífico.

O sistema condensa anos de conjuntos de dados de satélite disponíveis gratuitamente, diz ele. Isso fornecerá uma compreensão em tempo real de questões, como as mudanças provocadas pelos desastres nas costas e os impactos climáticas que elas geraram. Também combinará as perspectivas meteorológicas para agricultores e planejadores. 

O Computador Planetário da Microsoft permitirá ao SPC acessar facilmente petabytes de satélites globais e dados ambientais com APIs intuitivas. Isso acelerará o desenvolvimento de soluções de alto impacto. A SPC também está aproveitando o Microsoft Azure Machine Learning e os Serviços Cognitivos do Azure para criar soluções ricas em insights. 

A Microsoft está comprometida em ajudar a proteger os ecossistemas e a biodiversidade globalmente por meio do Computador Planetário, que fornece acesso aos conjuntos de dados ambientais críticos do mundo, IA e tecnologia digital. Ele também torna mais fácil para os parceiros fazer pesquisas em escala regional e nacional baseadas em conjuntos de dados públicos para, em seguida, fornecer esses resultados em aplicativos que suportam monitoramento, previsão, planejamento e atribuição ambientais. 

Os dados históricos de observação da Terra armazenados no Computador Planetário serão interpretados para fornecer clareza sobre as mudanças que as nações das ilhas do Pacífico têm e enfrentarão. Esses insights ajudarão os formuladores de políticas a entender a melhor forma de planejar e se preparar para incidentes climáticos. 

Enquanto os tonganeses enfrentam a difícil tarefa de se reconstruir e o povo de Nabavatu contempla um futuro longe de sua terra ancestral, existem centenas de milhares de cidadãos das ilhas do Pacífico que poderão dormir mais tranquilos sabendo que estarão mais bem preparados (e equipados) para as mudanças e desafios que virão. 

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