Por Susanna Ray
Cortar cabelos deveria ser a segurança financeira de Justine Salazar. Seu pai sempre a lembrava sobre a necessidade de garantir que ela tivesse opções de fonte de renda, então ela foi para a escola de cosmetologia enquanto cursava administração e se tornou cabeleireira, além de ter tido outras experiências profissionais ao longo dos anos.
A mãe solteira de 36 anos voltou às suas raízes quando seus dois filhos precisaram que ela tivesse um horário mais flexível do que seu trabalho como gerente de propriedade permitia. Então, a pandemia fechou salões, e os benefícios para desempregados não estavam inicialmente disponíveis para trabalhadores autônomos, como cabeleireiros. Sua contingência se tornou uma vítima da COVID-19.
“Eu tinha acabado de usar algumas das minhas economias para pagar dívidas, porque pensei que as coisas estavam indo muito bem”, lembra Salazar. “E, então, bum, sem trabalho. Fiquei 13 semanas sem seguro-desemprego, as coisas foram muito assustadoras. Sou responsável por dois seres humanos.Então pensei, bem, talvez este seja um bom momento para aprender algo.”
Agora Salazar é uma das mais de 42 milhões de pessoas em todos os continentes – até mesmo na Antártica – que acessaram o treinamento gratuito por meio da iniciativa global de habilidades Microsoft e LinkedIn, criada há um ano para ajudar trabalhadores desempregados durante a pandemia. O esforço ultrapassou seus objetivos iniciais e está se estendendo e se ampliando desde o ano passado, agora com ênfase em conectar os alunos à vagas de trabalho que os ajudem a colocar seu novo aprendizado em uso e conectar os empregadores a esses candidatos qualificados, que geralmente não são encontrados em suas redes de network de costume.
Enquanto Salazar ficava em casa ajudando seus filhos com as aulas remotas, ela viu uma postagem em uma rede social sobre a Certificação de Treinamento de Trabalhador Remoto por meio da Iniciativa Rural Online da Universidade do Estado de Utah, um esforço apoiado pelo programa TechSpark da Microsoft, que visa a garantir que todos possam se beneficiar da economia digital.
Ela foi aceita para um curso de seis semanas e diz que o treinamento proporcionou um “brilho extra” em seu currículo que, com a ajuda de um coach de carreira por meio do programa,a ajudou a conseguir seu “emprego dos sonhos” como coordenadora comunitária para a WorkSource, conectando empresas e candidatos a empregos no Condado de Okanogan, na fronteira de Washington com o Canadá. Ela passa seu próprio treinamento para candidatos a empregos espalhados por todo o condado, o maior de Washington por extensão, dando-lhes dicas para ir bem em entrevistas virtuais.
“Esta oportunidade realmente muda muita coisa para mim e para os meninos”, diz Salazar. Ela pagou mais dívidas, refinanciou seu carro e está economizando para comprar uma casa. E depois que o presente de aniversário do ano passado para seus filhos foi um passeio juntos no lago, ela diz, “agora estou animada para dar outros presentes a eles, além da minha presença”.
Além de trabalhar com organizações sem fins lucrativos para ajudar a retreinar e conectar os candidatos a emprego, a iniciativa da Microsoft oferece cursos gratuitos por meio do LinkedIn Learning que ensina aos alunos as habilidades necessárias para as 10 vagas de trabalho em destaque em todo o mundo. E devido aos fatores de estresse da pandemia, os cursos de “habilidades sociais”, que fornecem uma base profissional – como resiliência, inclusão e diversidade, e liderança em meio a mudanças – provaram ser muito populares, diz Naria Santa Lucia, que lidera a inclusão digital para a área de filantropia da Microsoft.
No ano passado, o esforço evoluiu para ampliar o suporte e encorajar os alunos a alcançarem a linha de chegada de seus objetivos de aprendizagem e, então, se conectarem aos empregos. Por exemplo, o novo piloto do LinkedIn Skills Path ajuda os candidatos a conseguir entrevistas com empresas que estão contratando, como Gap Inc. e TaskRabbit, para aqueles que forem aprovados em avaliações vinculadas a determinados cursos. E o Career Connector tem o foco em vincular formandos em cursos de organizações sem fins lucrativos e parceiros de aprendizagem da Microsoft com vagas de trabalho no vasto ecossistema da empresa.
“As pessoas podem fazer esses cursos por vários motivos”, diz Santa Lucia. “Alguns já estão empregados e querem apenas aprimorar suas habilidades de gerenciamento de projetos – eu inclusa – mas para os que perderam seus empregos por conta da pandemia da COVID-19, queremos dar essa opção de ver onde podem ser conectados a uma nova função.”
Um dos objetivos é diversificar a força de trabalho, apresentando os empregadores aos candidatos com base em habilidades comprovadas, e não por redes de network usuais ou de educação tradicionais, que podem ser exclusivos e de difícil acesso.
Christian Guyton, 21, tentou por oito meses após o colegial encontrar um emprego em TI, mas não conseguiu uma única entrevista e acabou aceitando um emprego em outra área em 2019. Guyton, cujos pronomes são eles/deles, continuou esse trabalho remotamente enquanto vivia com sua mãe em Milwaukee quando a pandemia começou, mas sua paixão continuou sendo tecnologia.
No outono passado (nos EUA), ficou sabendo da gener8tor Upskilling , um parceiro da Microsoft, e fez um programa de 10 semanas em administração de TI. Os cursos do LinkedIn Learning – que ocorriam em um espaço de tempo suficiente para que Guyton ainda pudesse trabalhar em tempo integral – aumentaram o conhecimento que tinha em tecnologia por meio de experiências no ensino médio e em trabalhos voluntários, permitindo se aprofundar em aspectos como conectividade de rede, armazenamento virtual e nuvem.
Quando a gener8tor Upskilling abriu seu Rolodex para Guyton na metade do curso, ele conseguiu o primeiro emprego para o qual foi entrevistado e começou a trabalhar como técnico de serviço de TI em maio.
“Aquela tentativa anterior de procurar emprego abalou minha confiança, mas conseguir a vaga na gener8tor foi como voltar a respirar ar fresco”, diz Guyton. “Reforçar o conhecimento que eu tinha e aprender coisas novas me levou a um campo que eu queria ingressar desde criança. É um bom começo. Há muito espaço para promoção e crescimento em meu novo trabalho.”
A Gener8tor foi fundada há nove anos como uma aceleradora para conectar startups com mentores, investidores e parceiros corporativos. O trabalho da equipe em 28 cidades dos EUA fez com que ela presenciasse em primeira mão a crise socioeconômica que se espalhou ao lado do vírus, diz o cofundador do gener8tor Joe Kirgues, então o grupo agarrou a chance de fazer parceria na iniciativa de habilidades da Microsoft.
“Percebemos que, em vez de levar empreendedores a 50 investidores, poderíamos levar 50 graduados a empregadores em potencial”, diz Kirues.
O grupo começou o gener8tor Upskilling em Wisconsin no verão passado e, desde então, entrou em sete outros estados e ainda há mais por vir, até agora estão ajudando 83 candidatos a encontrarem empregos. A equipe da Gener8tor trabalha com organizações sem fins lucrativos locais para espalhar sua missão e uma rede nacional de empregadores para facilitar novas conexões. É um modelo baseado em coorte (conjunto de pessoas que tem em comum um evento que se deu no mesmo período), portanto enquanto os alunos obtêm uma programação e um currículo individualizado, eles também têm uma comunidade compartilhada – um componente inestimável para aqueles que estão entrando na economia digital pela primeira vez.
“Pode ser um pouco intimidante, então pensamos nisso como uma comunidade onde as pessoas podem se sentir confortáveis, serem vistas e saber que estão rodeadas por outras pessoas passando pelas mesmas dificuldades com as novas habilidades digitais”, diz Kirgues.
Esse termo “aprimoramento” é necessário, porque os alunos podem ser novos em tecnologia ou não, diz Karen Oeding, que credita ao programa o resgate de sua carreira, bem como de sua saúde mental.
“Algo aconteceu durante aquele tempo em que aprendi coisas novas e difíceis e persisti nisso para concluir todo o curso, que aprimorou não apenas minhas habilidades em codificação, mas a de me comunicar com as pessoas, continuar a aprender novas funções e ser competente em meu trabalho”, Oeding diz.
A mulher de 60 anos, que mora com o marido em Bloomington, Indiana, já mudou de carreira outras vezes na vida, bem antes de a pandemia chegar.
Como higienista dental na Califórnia na década de 1980, Oeding foi o único a quem os colegas recorreriam para obter materiais de ensino – especialmente quando o HIV / AIDS, uma doença recém-descoberta na época, exigia uma revisão completa dos protocolos de odontologia. Ela começou a dar aulas para compartilhar sua pesquisa e experiência clínica, escreveu um manual que foi distribuído em todo o estado e abriu uma empresa educacional. Ela adaptou seu trabalho para um site nos anos 90. Por fim, percebeu que gostava mais de design de sites do que de odontologia, então vendeu sua empresa e se tornou autônoma, trabalhando com “coisas digitais” em tempo integral.
Quando ela repentinamente perdeu metade de seus clientes no ano passado devido a cortes no orçamento relacionados à pandemia, Oeding se viu mergulhando em uma espiral de ansiedade. O ritmo constante de seu trabalho pré-pandemia não lhe dava tempo para acompanhar os avanços na construção e codificação de sites, mas com mais tempo disponível, ela se viu obcecada pelas notícias e não se concentrou o suficiente para procurar treinamento – ou novos clientes.
“Eu não estava entregando no prazo e me sentia distraída e presa, e não estava realizando o trabalho que me daria uma renda autossustentável”, diz Oeding. Ela aprendeu sobre a The Mill Code School – um parceiro sem fins lucrativos da gener8tor Upskilling – por meio da atualização semanal sobre a COVID-19 que o prefeito de Bloomington fazia e decidiu se inscrever. “Eu havia mudado de carreira antes, então estava realmente aberta.”
“Esse programa me deu a chance de ter sucesso e mudou minha trajetória pessoal e profissional.”
Mas, à medida que a comunidade e as classes de The Mill construíam seus “músculos de concentração e interação social”, diz Oeding, ela começou a perceber que poderia usar suas novas habilidades de codificação para automatizar e melhorar seu trabalho atual, dando-lhe a capacidade para novos projetos com os clientes que ela ainda tinha. Ela dobrou seu trabalho com um cliente ao assumir uma nova função, aumentou seu contrato com outro em um terço e, no mês passado, conquistou um novo cliente por meio de seus contatos no The Mill’s Startup Studio.
“Nunca teria proposto um aumento no meu contrato antes, mas agora sei que posso fornecer produtos melhores e agregar serviços novos e úteis”, diz Oeding. “Aprendi a confiar em minha capacidade de fazer um bom trabalho para eles, e eles ficaram entusiasmados com isso. Esse programa me deu a chance de ter sucesso e mudou minha trajetória pessoal e profissional.”
Muitos participantes dizem que estão inspirados a continuar aprendendo novas habilidades assim que os cursos iniciais forem concluídos.
Rachelle Katchenago passou anos trabalhando em fábricas em Wisconsin, mais recentemente embalando colchões que eram mais altos do que ela, e estava com tanta dor que nem conseguia descascar batatas para fazer o jantar para seus filhos. Ela ficou aliviada quando uma agência de empregos temporários lhe arranjou um emprego de atendimento ao cliente.
Então a pandemia começou e, como milhões de outras pessoas ao redor do mundo, a mulher de 37 anos se viu sem trabalho ou perspectivas e esperando por pagamentos de auxílio-desemprego atrasados. Seu sobrinho tinha ido morar com ela e sua mãe acabara de ser diagnosticada com câncer terminal.
“Foi avassalador, como se eu estivesse morrendo por dentro, simplesmente não sabia o que fazer”, lembra Katchenago. “Mas eu tinha que continuar porque tinha muitas vidas dependendo de mim.”
Sua mãe a havia mudado da Reserva Indígena Menominee quando Katchenago era uma garotinha para frequentar a escola perto de Appleton e dar-lhe mais oportunidades, então ela se apoiou nisso, buscando grupos da comunidade para fazer cursos e conseguir um emprego. Um deles a conectou ao gener8tor Upskilling e, com a ajuda dele, ela aprendeu vendas e atendimento ao cliente por meio do LinkedIn Learning – muitas vezes assistindo aos vídeos com seu filho de 16 anos – e rapidamente conseguiu um emprego na área para uma empresa de delivery, trabalhando em casa. Ela continua aprendendo em seu tempo livre, fazendo os cursos de gerenciamento de projetos do LinkedIn Learning.
“Enquanto eu continuar trabalhando em minhas habilidades, não vejo onde posso errar”, diz Katchenago. “Vou continuar investindo em mim, porque quero fazer mais e melhor pela minha vida. Percorri um longo caminho e não vou desistir tão cedo.”
Foto da capa: Justine Salazar e seus filhos Trey, 8, e Truett, 12, no Lago Osoyoos perto de seu lar em Oroville, Washington (Foto de Dan DeLong)