Pioneiras mostram às garotas como o mundo da ciência e tecnologia é legal – e como ele precisa delas

Por Deborah Bach //

Um dia, em seu último ano do ensino médio, Cristina Mittermeier sentou no chão com seus colegas para ouvir um homem falar sobre oportunidades de carreira em ciências marinhas enquanto ela olhava, maravilhada, para as imagens transcendentais que ele mostrava em uma tela.

Mittermeier soube imediatamente que queria um trabalho focado no oceano. Mas sua cidade natal de Cuernavaca, no México Central, não era próxima ao mar e não havia mulheres cientistas por perto que pudessem dar conselhos. O pai de Mittermeier queria que ela se tornasse contadora como ele. Sua avó queria que ela encontrasse um marido. Sua mãe, uma psicóloga, disse que ela deveria seguir seus sonhos.

Mittermeier não poderia imaginar que, três décadas depois, estaria em frente a uma sala cheia de garotas numa loja da Microsoft em Bellevue, Washington, encorajando-as a considerar um futuro nos campos da ciência, tecnologia, engenharia e matemática.

“Quando eu olho para essa sala, me reconheço como uma jovem garota”, ela fala para uma plateia de mais de 50 garotas. “Por crescer no México, não tivemos muitas oportunidades. Era muito difícil para mim imaginar fazer todas essas coisas.”

Cristina Mittermeier fala para a jovem audiência sobre o seu trabalho de fotógrafa na National Geographic ao lado de seu parceiro, Paul Nicklen

Mittermeier e seu parceiro, Paul Nicklen, estão na loja para um workshop do #MakeWhatsNext, parte de uma campanha maior focada em estimular jovens mulheres para as áreas de ciências e tecnologia. Como parte da campanha, a equipe Global Ads da Microsoft fez parceria com a National Geographic para o evento de 18 de março, o primeiro de seis em lojas da Microsoft nos Estados Unidos, contando com mulheres que trabalham nas áreas de ciências e tecnologia – de uma CEO na área até uma astrofísica e uma jovem vulcanologista em treinamento. O evento incluiu uma transmissão ao vivo pelo Facebook com Jennifer Adler, bióloga marinha e Jovem Exploradora da National Geographic, e uma apresentação dos palestrantes, seguida por uma aula de programação.

Mittermeier e Nicklen são renomados fotógrafos da National Geographic e conservacionistas que já viajaram por mais de 100 países e trabalharam em alguns dos mais remotos cantos do planeta. Eles também são cofundadores do SeaLegacy, uma organização canadense criada em 2015 que busca combinar imagens vencedoras de prêmios com storytelling para ampliar a atenção sobre mudanças climáticas e proteção de ecossistemas marinhos em todo o mundo. Eles falaram para a audiência do workshop que o planeta precisa das contribuições que as mulheres em ciências e tecnologia podem oferecer.

“Precisamos de grandes cientistas como você aí fora compreendendo os oceanos”, afirmou Nicklen. “Metade do ar que respiramos vem dos oceanos.”

Com as impressionantes e coloridas imagens da dupla como fundo, Mittermeier detalhou sua trajetória de carreira. Receosa de deixar sua casa após o ensino médio, ela se inscreveu em uma universidade em sua cidade natal e estudou comunicação por um ano. Estava conseguindo notas altas, mas não se sentia desafiada. Mittermeier engoliu seus medos e tomou a decisão de seguir em frente e estudar ciências.

Já que não havia um curso superior de biologia marinha disponível no México na época, Mittermeier se graduou em engenharia bioquímica. Seus estudos a levaram à pesca industrial e produção comercial de alimentos, o que cimentou sua paixão pela conservação.

“Fiz uma mudança de 180° assim que deixei a universidade”, afirmou.

Mittermeier esperava se tornar uma cientista e obter um Ph.D., mas se casou logo após terminar a faculdade e teve três filhos. Seu marido na época era um cientista e antropólogo que estudava comunidades tribais, e Mittermeier pegou sua câmera emprestada e começou a tirar fotos no campo. Seu trabalho chamou a atenção do Museu de História Natural de Houston, que pediu para incluir algumas de suas imagens em uma exibição de tribos amazônicas. Mittermeier desde então editou 24 livros fotográficos e foi selecionada entre os 40 Mais Influentes Fotógrafos de Exteriores do Mundo pela revista Outdoor.

Cristina Mittermeier

“Quando estava começando minha carreira, muitas pessoas falaram: ‘Não faça isso. Por que você não faz isso ou aquilo?’”, conta. “Estou feliz em ter perseverado.”

Mittermeier é um exemplo para as garotas que pensam em uma carreira em ciências ou tecnologia, mas pesquisas que apontam para uma escassez de mulheres como ela são um dos principais motivos pelos quais não há mais garotas nesses campos. Pouca exposição precoce a assuntos de ciências e tecnologia, falta de confiança em suas próprias habilidades e uma cultura masculina que desencoraja as garotas também são citados como fatores. Apenas 6,7% das estudantes dos Estudos Unidos possuem graduação em ciências e tecnologia, de acordo com informações do BestColleges.com, e as mulheres atualmente possuem menos de 25% dos empregos nessas áreas nos EUA, de acordo com o Departamento de Comércio.

A Microsoft lançou diversas iniciativas que buscam reduzir essa diferença entre gêneros. A empresa estabeleceu parcerias com ONGs como a Girls Who Code e Code.org para fornecer aulas de ciências da computação e workshop, e a iniciativa DigiGirlz da Microsoft conecta garotas do ensino médio com colaboradoras da empresa e outras líderes da indústria em diversos eventos. Também trabalha com responsáveis por elaborações de políticas para garantir que estudantes tenham acesso a aulas de ciências da computação.

A vice-presidente corporativa Mary Snapp está à frente da Microsoft Philanthropies, que foi lançada em 2015 com foco em fornecer tecnologia para os jovens, principalmente garotas e populações mal atendidas. A representação das mulheres em ciências e tecnologia é crítica por razões além da equidade, afirma Snapp.

“Precisamos de todos para ajudar a resolver os grandes desafios que nossas economias e sociedades estão enfrentando”, diz Snapp. “Toda a nossa sociedade perde quando uma parte significativa de nosso poder mental não está engajada em criar essas soluções. Queremos encorajar as garotas a ficar em ciências e tecnologia para que elas possam resolver os problemas que mais nos importam, de encontrar soluções para a mudança climática até curar o câncer e mais.”

Constance Adams sabe por experiência própria quão poderosas podem ser as influências que desencorajam as garotas para as ciências e tecnologia. Adams, que foi uma palestrante especial no workshop de 18 de março em Troy, Michigan, é uma arquiteta espacial e Exploradora Emergente da National Geographic que foi selecionada para criar habitações para Marte e ajudar a desenhar diversas naves espaciais.

Constance Adams conversa com garotas no workshop #MakeWhatsNext em Michigan

Uma década atrás, Adams estava passando por uma loja de presentes no Johnson Space Center, em Houston, logo antes do Halloween e percebeu uma réplica em tamanho infantil do característico traje de reentrada laranja utilizado pela tripulação de ônibus espaciais. Encantada, ela comprou uma para sua filha. Adams a tem criado como mãe solteira, levando-a em viagens de trabalho pelo mundo, e a garota estava familiarizada com seu trabalho.

Por isso Adams ficou chocada quando, após presentear sua filha com o traje, ela começou a chorar.

“Ela disse, ‘Não posso usar isso – isso é para garotos’”, Lembra Adams. “Fiquei totalmente chocada. Se uma criança, criada tão próxima a mim, tinha absorvido essa narrativa de que astronautas não podiam ser mulheres, uau. De alguma forma, as garotas realmente não percebem que têm essas opções.”

Adams rapidamente conseguiu levar a filha para almoçar com sua amiga Pamela Melroy, uma astronauta da NASA. A filha de Adams foi embora com uma foto e uma nova perspectiva sobre quem pode ser astronauta, mas a experiência ficou em sua cabeça.

“Fiquei muito mais consciente sobre a necessidade de redobrar os esforços em promover as ciências e tecnologia para mulheres”, afirma.

Apesar desses fatores agirem contra os interesses das garotas pelas ciências e tecnologia, Snapp acredita que as diferenças de gênero podem e serão superadas.

“Já estamos vendo algumas mudanças positivas. Há um interesse crescente em programas de ciência da computação, por exemplo, em nível universitário – na verdade, algumas universidades estão tendo problemas para suprir as demandas”, afirma.

“E esse aumento de interesse, de acordo com as universidades que ouvimos, também está vindo das mulheres. Essa é uma das muitas razões pelas quais estou otimista sobre o futuro das mulheres nas ciências e tecnologia.”

De volta ao workshop, as garotas se reuniram em mesas após a apresentação e começaram a trabalhar em um exercício de programação. Shilpa Asrani viu sua filha de 7 anos, Trishaa Khanna, e duas outras garotas se amontoarem em torno de um computador. Asrani afirma que Trishaa foi exposta à programação por meio de seu irmão mais velho e tinha um interesse natural por ciências, mas ela acredita que a cultura popular deve fazer um trabalho melhor em demostrar às garotas que elas pertencem a esse campo.

“Acho que a mídia deve focar mais nas garotas”, ela afirma. “É o que precisamos que aconteça.”

Trishaa conta que gostou de ouvir Mittermeier e Nicklen falarem sobre animais e seus ambientes porque espera se tornar uma médica veterinária e trabalhar em um zoológico.

“Esse é o trabalho dos meus sonhos. Queria ser médica veterinária, uma ajudante em um zoológico que cuida dos bebês animais que nascem”, conta.

Kyra Mohr, 10 anos, ficou curiosa pela chance de escrever alguns códigos, que considera divertidos. Ela ainda não decidiu o que quer como carreira, mas acredita que envolva tecnologia e espaço.

“Eu gosto do espaço, planetas e como os humanos evoluíram para saber como chegar lá”, ela conta.

Para Mittermeier, o workshop foi uma oportunidade de dar o incentivo necessário que ela gostaria de ter tido quando jovem.

“Se eu tivesse me imaginado nesses papéis, provavelmente não teria levado tanto tempo para chegar aonde estou”, ela conta. “As garotas precisam saber que há muitas mulheres que abriram caminho para elas e esperam para ver o que podem fazer.”

Foto de Constance Adams é cortesia da National Geographic. Todas as outras imagens, do workshop em Bellevue, são de Scott Eklund/Red Box Pictures.

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