Por Charlotte Vuyiswa McClain-Nhlapo, Consultora Global de Deficiência do Banco Mundial, e Jenny Lay-Flurrie, Chief Accessibility Officer da Microsoft
No mundo inteiro, as pessoas com deficiência permanecem invisíveis na agenda global de desenvolvimento. Um dos principais motivos é a variação na disponibilidade e no uso de dados desagregados por deficiência entre organizações e fronteiras.
Embora se estime que um bilhão de pessoas, ou 15% da população mundial, tenha alguma deficiência, são necessários mais dados para entender a verdadeira escala das condições de vida e de desenvolvimento das pessoas com deficiência, e para compreender com clareza as falhas em seus cuidados.
Essa realidade faz parte do que o Banco Mundial chama de lacuna da deficiência – a lacuna na inclusão social de pessoas com deficiência em todos os estágios dos programas de desenvolvimento, incluindo educação, emprego e inclusão digital. A pandemia da COVID-19 exacerbou esse risco e expôs algumas das desigualdades existentes enfrentadas regularmente.
Muitos governos em todo o mundo usam dados do censo para entender a situação socioeconômica do país e alocar recursos ou planejar políticas públicas para atender às necessidades de seus cidadãos. Embora cada país esteja em sua própria jornada para alavancar dados para elaborar políticas públicas e determinar objetivos de desenvolvimento, há uma oportunidade de reunir dados sobre deficiência para o bem público global, para que os grupos possam priorizar com mais precisão a inclusão da deficiência nos esforços globais.
Em resposta a esse desafio, o Banco Mundial e a Microsoft, em colaboração com a Disability Data Initiative da Fordham University, estão fazendo uma parceria para expandir o acesso e o uso de dados demográficos e estatísticos para garantir a representatividade da deficiência, particularmente em países de menor renda. O objetivo desse esforço é desenvolver um “banco de dados de deficiência” on-line com informações sobre pessoas com deficiência de acordo com indicadores demográficos, geográficos e de desenvolvimento.
Os princípios para o desenvolvimento do banco de dados incluem:
- Envolver a comunidade de pessoas com deficiência na criação do banco e de seus serviços.
- Alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, que exigem que os países desagreguem os dados por deficiência até 2030.
- Adotar uma abordagem holística para a coleta de dados sobre deficiências, incluindo reunir e agregar várias fontes de dados, como pesquisas nacionais de domicílios e censos.
- Oferecer uma interface amigável e acessível para uma ampla gama de usuários.
- Oferecer ferramentas para análise de dados e visualização acessíveis.
- Servir como repositório de conhecimento, publicando tendências e perfis de países, oferecendo treinamentos e materiais de capacitação e vinculando recursos relevantes de parceiros sobre desagregação de dados de deficiência.
Sobre o novo banco de dados de deficiência
Para o Banco Mundial, esse esforço faz parte de seu compromisso institucional com as pessoas com deficiência, conforme estabelecido pelos Dez Compromissos para o Desenvolvimento Inclusivo da Deficiência (Ten Commitments on Disability-Inclusive Development, no original em inglês). Um desses compromissos exige a ampliação da coleta e do uso de dados sobre deficiência. Nessa linha, o Banco Mundial produziu inúmeras análises intersetoriais para garantir que as necessidades das pessoas com deficiência sejam incorporadas em todo o espectro das operações do banco. Essas análises forneceram orientação para a atuação de agentes públicos e tomadores de decisão nas áreas de gerenciamento de risco de desastres, água e educação. O progresso na coleta de dados sobre deficiência também forneceu subsídios para compromissos em políticas públicas na AID19 e AID20 – os ciclos de financiamento mais recentes do Banco Mundial para os países mais pobres – para fortalecer a coleta e o uso de dados desagregados sobre deficiência.
“A parceria do Banco Mundial com a Microsoft visa trazer mais visibilidade às condições de vida e desenvolvimento das pessoas com deficiência”, explica Charlotte McClain-Nhlapo, consultora global de deficiência do Banco Mundial. “Esse esforço garantirá que mais responsáveis por políticas públicas, profissionais de desenvolvimento, membros da sociedade civil e da academia pensem na deficiência para definir novos investimentos financeiros, reformas de políticas públicas e prestação de serviços”.
Essa nova colaboração se baseia no trabalho de 25 anos da Microsoft em acessibilidade e inclusão, e em seu recente compromisso de cinco anos para conquistar novos progressos – inclusive por meio do desenvolvimento de novas ferramentas tecnológicas acessíveis e dispositivos adaptativos, da criação de oportunidades de contratação acessíveis e da formação de uma força de trabalho inclusiva.
“A população com deficiência está crescendo e a COVID-19 atuou como um evento incapacitante em massa, aumentando a base de pessoas com deficiência em todo o mundo”, explica Jenny Lay-Flurrie, Chief Accessibility Officer da Microsoft. “A lacuna da deficiência é uma realidade há décadas. Esse novo banco de dados sobre deficiência é um passo à frente para compreendermos a população com deficiência de uma maneira mais estratégica e de longo prazo. Por meio da parceria, acreditamos que podemos fazer uma diferença tangível”.
Os dados fortalecem os esforços da linha de frente para enfrentar a lacuna da deficiência
Estatísticas atualizadas e inclusivas sobre pessoas com deficiência ainda são difíceis de encontrar e muitas vezes são fragmentadas. Isso atrapalha os esforços globais para adotar uma abordagem desagregada por deficiência.
O novo banco de dados sobre deficiência visa fornecer uma imagem mais clara da prevalência, da representação e da inclusão da deficiência globalmente. Isso permitirá, mais do que nunca, que governos, profissionais de desenvolvimento, organizações de pessoas com deficiência, empregadores e sociedade civil entendam as diversas barreiras interseccionais para pessoas com deficiência, com base em fatores como idade, gênero ou origem socioeconômica.
O banco de dados também vai atuar como um recurso fundamental para:
- Educar as pessoas para a conscientização e a ação coletiva e empática.
- Aumentar a colaboração e o progresso na quebra de estigmas e preconceitos em torno da deficiência.
- Subsidiar a formulação de políticas públicas e articulações legislativas nos próximos anos.
- Inspirar a inovação em setores como tecnologia, saúde e educação.
Este é um momento crítico para garantir a existência de uma imagem clara e mais completa da vida das pessoas com deficiência e das barreiras que elas enfrentam. Isso será essencial para alocar recursos para atender às suas necessidades básicas e dimensionar programas para capacitá-las.
No alto: Um jovem com deficiência física utiliza um tablet junto com sua avó, sentados em um sofá em uma casa no Brasil (imagem iStock).