Seattle Seahawks usa dados e ciência do esporte para ajudar seus jogadores na recuperação

Por Athima Chansanchai //

No campo, o objetivo de DeShawn Shead é tirar a bola de um quarterback ou fazer uma interceptação.

“É uma das razões pelas quais eu jogo”, diz o cornerback, de 28 anos, do time de futebol americano Seattle Seahawks. “Adoro ver meu esforço ser recompensado.”

Ele não conseguiu fazer nada disso desde que rompeu o ligamento cruzado anterior e sofreu uma lesão do menisco durante a derrota para o Atlanta Falcons, nos playoffs das divisões 36-20, em janeiro do ano passado. Mas Shead está prestes a voltar ao campo. Na verdade, ele já voltou a treinar. Tecnologia e ciência – ciência do esporte –  estão ajudando-o a chegar lá.

Sob o comando do treinador Pete Carroll, cada dia da semana tem um tema diferente para os jogadores do Seahawks: “Diga a verdade na segunda-feira”, “Competição na quarta-feira”, “Sem perder a bola na quinta-feira” e “Sem repetição na sexta-feira”.

Eles analisam vídeos, dão tudo de si durante os treinos, se concentram em tirar e proteger a bola e executar jogadas tão perfeitamente, que só precisam fazer uma vez.

E tudo está unido por um mantra que percorre toda a organização: “Faça melhor do que já foi feito antes”.

Para o cientista esportivo do Seahawks, Dean Riddle, isso significa ser capaz de aplicar dados e metodologia de ponta para ajudar os atletas a alcançar todo o seu potencial.

“Acreditamos que estamos fazendo um trabalho importante com nossos jogadores, fornecendo informações importantes para que eles tenham a melhor chance de brilhar”, diz ele. “Usar a tecnologia para ajudar os jogadores a maximizar sua saúde e a preparação lhes permite alcançar todo o seu potencial no campo.”

Faz 20 anos que os bancos de dados SQL básicos e os disquetes foram usados, quando o neozelandês ajudou a monitorar o treinamento de equipes profissionais de rugby, cricket e futebol no Reino Unido. Essa tecnologia registrou informações valiosas e levou a resultados produtivos. Ela o ajudou a se tornar um cientista de dados.

Avançando algumas décadas, Riddle atualmente está trabalhando com a Plataforma de Desempenho Esportivo da Microsoft, uma plataforma de análise preditiva orientada por dados, que aproveita o poder da nuvem da Microsoft com tecnologias de aprendizagem de máquina de última geração, recursos de inteligência artificial e visualização de dados.

“Ter esse espaço criativo e de natureza relaxada dentro de um ambiente de alta pressão permite o pensamento avançado”, diz Riddle. “É essa mentalidade de busca contínua na maneira como descobrimos as coisas que precisamos aprofundar, para que possamos ajudar os atletas a estar nas melhores condições nas semanas que antecedem o jogo e no próprio dia do confronto. Podemos inovar, pensar livremente e observar as melhores práticas de outros eventos esportivos e construir, de forma criativa, a melhor maneira de aplicá-las ao futebol.”

Ele e os outros cientistas esportivos da equipe podem dizer – por posição de cada jogador – como é um treino normal. A partir daí, eles podem avaliar o que está acima ou abaixo desse nível. Os jogadores que participam voluntariamente do programa de ciência do esporte usam um dispositivo “GPS” entre suas ombreiras durante os treinos, que mede seus movimentos por meio de um giroscópio, magnetômetro e acelerômetro tri-eixo.

“Para informar o caminho da reabilitação, você procura medidas confiáveis”, diz Riddle. “Por exemplo, no estágio atual da reabilitação do DeShawn, podemos usar dados para comparar do período de tratamento após a cirurgia até o estágio em que ele está correndo no campo e tentar fazer coisas específicas de futebol. Então, podemos monitorá-lo com diferentes tecnologias para que seus treinadores possam entender como ele está hoje em comparação com ontem, saber, com base nos dados, como ele está progredindo e quando ele atingiu o nível de preparação ideal para o dia do jogo.”

“Acredito na criação de um ambiente e oportunidades para que os atletas consigam o seu melhor”, diz Sam Ramsden, diretor de saúde do jogador e desempenho do Seahawks. Ele estabeleceu o departamento de ciência esportiva há seis anos. “O treinador Carroll queria trazer algo novo e diferente para o Seahawks, um cenário de performance que não era usado em seus jogadores. Não se trata de estratégia ou reuniões, mas do que os jogadores fazem para se preparar para jogar. A preparação acontece quando os jogadores começam a se concentrar na importância da tomada de decisão baseada em dados para maximizar o desempenho. Como eles comem, como eles dormem, como eles pensam e até mesmo como eles se movem.”

Isso significa conhecê-los em seu nível, trabalhando com jogadores e treinadores para trazer informações, sem sobrecarregá-los, ajudando-os a tomar decisões mais inteligentes quando se trata da recuperação e reabilitação. Mas também ajuda quando são saudáveis, mantendo medidas precisas de seu melhor jogo para que possam trabalhar com esses níveis.

“Internalizamos o compromisso do treinador Carroll com a criatividade, paixão e entusiasmo”, diz Ramsden. “E isso nos ajuda a quebrar barreiras. Qualquer coisa é possível.”

Os jogadores também se autoanalisam para entender como estão se sentindo e quanto tempo de sono têm por meio de questionários diários nos tablets Microsoft Surface fora do vestiário, que acessam por reconhecimento facial.

“Posso falar de alguns casos em que usamos a tecnologia para rastrear um indivíduo específico e percebemos um declínio nos momentos explosivos”, diz Ramsden. “Nos aproximamos de um jogador e perguntamos: ‘O que está acontecendo?’ E ele nos disse, ‘O músculo posterior da minha coxa está doendo.’ Então nós respondemos, ‘Bem, por que não dizemos ao seu treinador que seu músculo está doendo. Vá para a sala de treino atlético, trate e certifique-se de que não há uma lesão aí. Mas nós o apoiaremos. Vamos fazer uma terapia nessa área e ver se podemos recuperá-lo.’ Com certeza, conseguimos que o jogador volte ao bom caminho. E esse jogador passou a fazer tudo sem qualquer problema. Então, acho que é um ótimo exemplo de usar a informação e aplicá-la aos nossos jogadores.”

A recuperação é a maior área de crescimento do programa, diz Ramsden. No passado, eles dependiam do “teste do olho” para ver se os jogadores estavam voltando ao normal. Mas agora, com dados, eles sabem quando estão atingindo os objetivos necessários para voltar a jogar.

Então, eles podem usar essa informação durante a reabilitação para que os jogadores possam se recuperar mais rapidamente.

DeShawn Shead e seu treinador no Virginia Mason Athletic Center

“Agora, estamos vendo alguns indicadores de bem-estar, cargas corporais e alguns movimentos explosivos que não vimos. Temos alguns limites internos que nos permitem ver se algo está verde ou não, o que é normal. Temos um limite, e uma vez que você se aproxima disso ou excede, entra no vermelho”, explica Ramsden. “Se temos muito vermelho em todo o quadro, parte ofensiva ou defensiva, na posição, podemos fazer uma recomendação ao treinador, talvez digamos: ‘Esta seria uma boa semana para aliviar. Você tem muitos jogadores no vermelho, tanto na parte ofensiva quanto na defensiva’. Ou, ‘Ei, dê uma olhada. Seus receptores estão com problemas. Como podemos ajudá-los no treino desta semana?’. Então, você pode ter uma abordagem muito individualizada ou focada na equipe como um todo.”

“Eles querem ser informados, estar profundamente envolvidos”, diz Riddle. “Compreender os números é parte do processo. Estamos juntos nisso. Esse é o caminho do Seahawks.”

Fora do campo, eles conseguiram aproveitar outras tecnologias da Microsoft para a administração das funções comerciais da organização.

Fãs do Seahawks no campo CenturyLink Field

“Costumávamos ser muito tradicionais, usando tecnologia comprovada. Mas agora, somos proativos, curiosos do uso de novas tecnologias”, diz Chip Suttles, vice-presidente de tecnologia do Seahawks. “Podemos usar a nuvem para abrir soluções.” Usar o Azure para armazenar dados, por exemplo, tem sido uma grande fonte de economia para a equipe e para obter relatórios em tempo real com o Power BI.

“Acho que toda a ideia de tecnologia e esportes é emocionante para mim porque ser uma mudança”, diz ele. “Dois dias não são iguais, e realmente gosto muito de tentar encontrar soluções que vão ao encontro das  necessidades de nossas operações de futebol e de negócios e melhoria da experiência dos nossos fãs no estádio.”

Suttles diz que o Seahawks foi a primeira organização a mover seu Outlook para o Office 365 como um caso de teste para a liga. Ele disse que foi muito bem-sucedido, e que eles encontraram grandes benefícios em criar um ambiente móvel para seus funcionários.

“Novas ferramentas, como estar na plataforma do Office 365, nos ajudaram a encontrar soluções em casa, versus em fornecedores de terceiros”, diz Suttles. “Por exemplo, acabamos de introduzir e adotar a nova versão do SharePoint no Office 365, que permitiu que departamentos, como o RH, pudessem apoiar a nossa sede e os funcionários do nosso estádio na mesma plataforma.”

O Seahawks gerencia as relações com os clientes e o ciclo de vida completo dos patrocínios, suítes, passagens e contratos usando o Microsoft Dynamics 365. Com essa abordagem mais eficiente, a equipe está indo para a migração do uso de contratos impressos e folhas de dados do Excel para gerenciar esses relacionamentos.

Os aplicativos do Dynamics 365 gerenciam o banco de dados dos ingressos da temporada, ajudando o time a gerir mais de 127 jogos consecutivos. O sistema também ajudou o Seahawks com a fidelidade dos fãs, mantendo uma taxa de renovação atual de 99%  por quatro anos seguidos – e gerenciando uma lista de espera de 12 mil ingressos da temporada.

No final do dia, as aplicações corporativas da Microsoft ajudam a fornecer as melhores experiências para sua base de fãs. A experiência do dia do jogo do Seahawks conquistou o primeiro lugar na NFL em 2016. Após cada jogo da NFL, a liga avalia as respostas de milhares de fãs para obter sua contribuição sobre a experiência do dia do jogo, incluindo o processo de chegada e saída do estádio, a experiência dos serviços, sensação de segurança, qualidade e variedade de alimentos e bebidas e a experiência geral do jogo.

DeShawn Shead no campo de jogo do Virginia Mason Athletic Center

De volta ao campo, ajudar os jogadores e os treinadores a usar o sistema de ciência do esporte depende da capacidade dos cientistas esportivos da equipe de mostrar rapidamente os dados, por meio das opções de visualização do Power BI. Eles podem facilmente comparar diferentes dias e mostrar progressos ou declínios em áreas muito específicas.

“A informação precisa ser digerível para jogadores e treinadores, para que possam depender disso”, diz Ramsden. “Queremos que o jogador possa olhar para os dados do Power BI e avaliar: o que havia ocorrido comigo quando isso aconteceu?”, acrescenta Riddle. “Queremos ter essa experiência, e estamos muito perto disso agora, é um momento muito emocionante. Nossa parceria com a Microsoft nos permitiu construir essa base sólida para que possamos dar esse salto para uma nova geração de atletas, que estão profundamente conectados à sua própria performance todos os dias.”

Outra coisa que ajuda a equipe a prestar atenção aos benefícios do programa são seus cinco elementos: STEMS, que significa Sleep and Recovery (Sono e Recuperação), Thinking (Pensamento), Eating (Alimentação), Moving (Movimentos) e Sensing (Treinamento de visão). Levando em consideração que cada pessoa na equipe não quer melhorar em todas essas coisas, a equipe de ciência esportiva é capaz de adaptar seu programa a cada jogador e ao que eles querem melhorar.

Um close de DeShawn Shead

Um dos adeptos do programa é Shead. Quando o “Melhor defensor” da Portland State University se juntou ao Seahawks em 2012, ele mergulhou na mentalidade da equipe.

“Este time tem uma mentalidade de campeão. Esta equipe trata todos os jogos como a final do campeonato. Todo jogo é importante”, diz ele. “Você confia na preparação, no tempo que investimos em estudar, trabalhar, o que colocamos em nossos corpos. A chave é manter a consistência. Quando chegamos ao dia do jogo, nós fizemos muito.”

Embora não tenha estado no campo com seus companheiros de equipe nesta temporada, ele colocou o mesmo esforço em sua recuperação como se estivesse lá fora com eles.

“Todos os dias, acho algo positivo”, diz Shead, que começou a jogar futebol na sexta série, nos Tigres Palmdale, com seus irmãos mais velhos, no sul da Califórnia. “Eu vejo meus colegas de equipe jogar e praticar, e quero voltar. Sinto que vou voltar melhor.”

Shead é um autoproclamado “cientista”, que ama os números. Ele gosta de poder acompanhar seu progresso. Seus pequenos passos incluíram aprender a caminhar novamente após a cirurgia, correr e, agora, arrancar em velocidade.

“Para o DeShawn, conseguimos usar uma abordagem organizacional em vez da opinião de uma pessoa. Coletamos dados ao longo de sua reabilitação, voltando de sua lesão no joelho. Podemos levar esses dados e compará-los com os de seus colegas de posição”, diz Ramsden. “Também podemos compará-los com os dele mesmo. E acho que quando você tem isso, e mais, quando pode ver que talvez haja algum tipo de conexão, você tem uma razão. Não usamos mais a adivinhação. Temos os profissionais no prédio para resolver determinada preocupação, porque há dados que sugerem que você não pode usar essa perna como a outra perna, por exemplo.”

A tecnologia da ciência esportiva fornece a capacidade de ver a diferença entre as pernas direita e esquerda e entre a força muscular e a parte posterior da coxa. Com essa informação, os treinadores podem recomendar planos de tratamento, com mais ou menos repetições em áreas específicas, o que o ajuda a recuperar melhor.

“Ter essas tecnologias e colocá-las na reabilitação foi ótimo para mim, porque tenho algo para avaliar e partir desse ponto. Amo números, então, quando posso ver que um é mais forte do que o outro, isso significa que tenho que fazer um pouco mais de repetições no outro”, diz Shead. “Acho que essa informação é uma ótima ferramenta na reabilitação que ajuda a me guiar para voltar ao campo.”

Quando vai ao departamento de ciências do esporte, ele entra em uma jogada de máquinas que testam sua coordenação da mão/olho (parece um jogo de vídeo), além de quão alto e rápido ele pode pular em cada pé.

“O processo é um desafio, e adoro desafios”, finaliza Shead.

Fotos: cortesia do Seattle Seahawks

 

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