Tecnologia oferece “momento decisivo” para levar vacinas da COVID-19 a muito mais pessoas em todo o mundo

Por Vanessa Ho 

Quando as vacinas de COVID-19 começaram a chegar à Gana, na África, em 2021, Mrunal Shetye e seus colegas lutaram para levar doses que salvam vidas a milhões de pessoas ansiosas para proteger a si mesmas e suas famílias. Eles tiveram que lidar com pedidos de compra, documentos e inúmeros detalhes como parte do ambicioso lançamento global de vacinas. 

“Havia centenas de e-mails sobre um único assunto e, a certa altura, estávamos usando um quadro branco para documentar qual remessa estava chegando e quando”, diz Shetye, chefe de Saúde e Nutrição da UNICEF em Gana. “Os detalhes eram muito difíceis de localizar”. 

Um ano depois, a grande quantidade de e-mails e pesquisas de documentos deu lugar a um hub de informações simplificado criado pela UNICEF e pela Microsoft para a COVAX , mecanismo global para ajudar a distribuir vacinas da COVID-19 de forma mais igualitária. O esforço entregou mais de 1,5 bilhão de doses para 146 países no maior lançamento de vacinas do mundo. Mais de 80% das doses foram para países de baixa e média renda. A COVAX é coliderada pela UNICEF, que administra as compras e suprimentos; Gavi, a Aliança de Vacinas; a Organização Mundial da Saúde; e a Coalizão para Inovações em Preparação para Epidemias. 

Com o hub de informações, Shetye agora pode acessar um dashboard e ver a remessa de COVAX mencionada em uma tabela e seus documentos relacionados. Seus colegas da Divisão de Abastecimento da UNICEF e seus parceiros da área de saúde em Gana também podem ver as mesmas informações para que todos estejam na mesma página. O sistema ajuda os times a se preparar para remessas, gerenciar estoques e suprimentos de vacinas da COVID-19 e auxiliar profissionais de saúde com campanhas de vacinação em todo o país. 

“Todo o trabalho se tornou mais gerenciável e compreensível”, diz Shetye. 

Um profissional de saúde de Gana, à esquerda, e funcionários da UNICEF examinam um carregamento de vacinas da COVID-19 em Gana. (Foto de Francis Kokoroko, cortesia da UNICEF)

Lançado em 2021, o centro de informações que rastreia a cadeia de suprimentos de vacinas da COVAX tornou-se parte fundamental da missão de levar vacinas a países de baixa e média renda. De outra forma, eles poderiam ter sido abandonados. Foram entregas eficientes de seringas e vacinas da COVID-19 para cenários de conflito, como Síria e Iêmen, e para lugares remotos, como o Himalaia, no Nepal, e a pequena ilha de Vanuatu, no Oceano Pacífico. 

A plataforma também ajuda profissionais de saúde a colaborar com outros países para entregas em lugares de baixa renda, como Etiópia, Afeganistão e Ruanda, onde 1 bilhão de doses de COVAX desembarcaram na capital ruandesa de Kigali, em janeiro de 2022. 

Apesar dos muitos avanços, o trabalho ainda é extremamente necessário. Muitos dos 82 países mais pobres do mundo têm taxas de vacinação de COVID-19 abaixo de 20%, de acordo com o The New York Times. Em comparação, cerca de dois terços dos países mais ricos do mundo atingiram a meta da Organização Mundial da Saúde de vacinar totalmente 70% de suas populações. 

“O objetivo da COVAX é disponibilizar as vacinas de COVID-19 para todas as populações, independentemente de onde estejam e do nível de renda de seus países”, diz Gemma Orta-Martinez, gerente da cadeia de suprimentos de Monitoramento e Dados Estratégicos da UNICEF. “O centro de informações é uma ferramenta crítica que a UNICEF e os parceiros usam para fornecer transparência e acesso a informações essenciais”. 

Um médico na Etiópia recebe uma vacina de COVID-19. (Foto de Tewodros Tadesse, cortesia da UNICEF)

Nos primeiros dias de remessas da COVAX, a falta de uma visão abrangente da cadeia de suprimentos acentuou as dificuldades da escassez, dos lockdowns e da falta de armazenamento refrigerado adequado. Os funcionários da UNICEF, que apoiam as operações de vacinas, tiveram que usar sistemas diferentes e ineficazes para monitorar cronogramas e estoques que estavam em constante mudança. 

Musonda Kasonde, chefe regional de suprimentos da UNICEF para o Oriente Médio e Norte da África, lembra o estresse de tentar fornecer prazos de entrega realistas para os países que perguntavam quando as vacinas chegariam. 

“Um dos principais desafios no início foi tentar entender quem tinha o quê e onde”, explica ela. “Para mim, ter esses painéis e ter acesso a essas informações foi realmente o momento decisivo em nossa luta contra a pandemia”. 

A plataforma da UNICEF também desempenha um papel crítico para os países viabilizarem a vacinação, especialmente agora que os suprimentos e a logística se estabilizaram. Os países que usam a plataforma para se preparar para remessas e gerenciar estoques podem organizar mais facilmente o armazenamento, transporte, distribuição, alcance comunitário e treinamentos de profissionais de saúde necessários para levá-las aos braços das pessoas. 

Vacinas de COVID-19 chegam ao Afeganistão. (Foto de Omid Fazel, cortesia da UNICEF)

“Você pode acompanhar o que está por vir”, diz Kasonde. “Você pode garantir que tem transporte e armazenamento refrigerados e que cumpre os requisitos regulatórios nacionais. Com isso, você tem uma entrega muito mais tranquila no país”. 

O centro de informações surgiu como uma colaboração entre a Divisão de Suprimentos da UNICEF e a equipe Tech for Social Impact da Microsoft, que trabalha com organizações sem fins lucrativos. Para responder rapidamente à pandemia, a equipe recorreu ao time de Resposta a Desastres da Microsoft, que coloca funcionários em missões técnicas voluntárias para ajudar as organizações a responderem a crises como furacões e terremotos. 

A plataforma era um projeto complexo que exigia escalabilidade, flexibilidade e segurança para lidar com grandes quantidades de dados globais confidenciais. Era preciso um gerenciamento de identidade rigoroso para centenas de usuários com diferentes níveis de acesso autorizado. Tinha que ser fácil de usar e precisava ser lançado rapidamente para lidar com a crise de saúde que acontecia. 

O engenheiro da Microsoft Erik Hanson e a gerente de arquitetura Marialina Bello queriam fazer um trabalho com propósito durante a pandemia e tinham a experiência e as habilidades de liderança para o isso. Eles rapidamente se voluntariaram. 

“Conseguimos aproveitar o alcance da Microsoft e perguntar: Como podemos ajudar?”, lembra Hanson, que era o coordenador técnico da plataforma, enquanto Marialina atuava como coordenadora principal da missão. “O mais impressionante é a velocidade com que conseguimos reunir uma equipe com diferentes origens e habilidades em todo o mundo”. 

Os engenheiros da Microsoft nos Estados Unidos, Itália e Austrália trabalharam com engenheiros da UNICEF na Dinamarca e na Índia para construir a plataforma em poucos meses usando o Azure DevOps, GitHub, Power BI e outras ferramentas modernas. 

O mais impressionante é a velocidade com que conseguimos reunir uma equipe com diferentes origens e habilidades em todo o mundo. 

“É fácil perguntar: ‘Onde estão minhas coisas?’ Mas no contexto da cadeia de suprimentos, há muitas respostas complexas, definições e peças em movimento que o hub de informações rastreia”, diz Steve Jones, chefe do Centro de Análise e Tecnologia Operacional da UNICEF. “A Microsoft trouxe uma grande contribuição com as melhores práticas e escolhas de design, e aprendemos bastante”. 

Dorcas Noertoft, gerente sênior de contratos da Divisão de Suprimentos da UNICEF, diz que a visibilidade dos dados reduziu a desinformação e o atrito que às vezes surgem em grandes missões globais. Poder ver as mesmas informações que todo mundo ajudou a “harmonizar a narrativa” de combate à pandemia. 

“Ter acesso a informações é sempre uma daquelas coisas que ajudam a construir a confiança”, diz Noertoft, que gerencia os contratos de vacinas da COVID-19 para a COVAX. “Uma vez que há confiança, todos têm a sensação de caminhar em direção ao mesmo objetivo”. 

Profissionais de saúde levam vacinas e suprimentos de COVID-19 para a ilha de Pélé em Vanuatu. (Foto de Arlene Bax, cortesia da UNICEF)

Ela refletiu sobre o progresso da COVAX e sua trajetória desde que fez sua primeira remessa internacional em fevereiro de 2021. Como muitas pessoas que trabalham com a COVAX, Noertoft assistiu a uma transmissão ao vivo do marco histórico, quando um avião com 600.000 doses de vacina pousou em Gana. Ela ficou emocionada com a alegria e o alívio das autoridades de Gana que receberam o avião e posaram para fotos na pista. 

Conforme as remessas continuavam sendo enviadas para outros países, Noertoft observava o painel de informações, onde os países que receberam vacinas ficaram sinalizados em verde em um mapa. 

“Trabalho com a UNICEF há mais de 20 anos e quase choro só de pensar no que é preciso para fazer entregas a alguns desses lugares”, conta. “Isso mostra o quão complexo e global é esse esforço. Acompanhar nosso progresso, ver os números crescerem e ver o sinal verde no mapa é incrível”. 

Foto de capa: Um profissional de saúde no Nepal leva vacinas de COVID-19 para uma clínica em uma parte remota do país. (Foto de Laxmi Prasad Ngakhusi, cortesia da UNICEF) 

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