Usando o Microsoft Azure e suas capacidades de IA, Peloton desenvolve legendas ao vivo para membros surdos ou com dificuldade de audição

Aquele dia no início de fevereiro foi como todos os Natais ao mesmo tempo para David Wolfe Rose, ou como comprar um gatinho novo ou como todos os dias especiais empacotados em um.

Ele havia preparado um quarto nos fundos de sua casa para a entrega. Naquela manhã, ele esperou ansiosamente. Logo dois homens chegaram, juntaram a nova bicicleta ergométrica do Peloton e mostraram-lhe como usá-la. Rose estava para além de eufórico.

“Foi como se casar de novo”, diz ele. “Para ser honesto, foi como ter outro bebê. Foi muito emocionante quando a bike chegou.”

Os membros do Peloton são conhecidos por sua dedicação às aulas online enérgicas da marca. Mas para Rose, a bicicleta de alta tecnologia era mais do que apenas um treino desafiador. Era uma promessa conexão e comunidade, uma porta de entrada para um lugar que ele poderia pertencer.

Rose, que é surdo, comprou a bicicleta depois de saber que o Peloton oferecia legendas para suas aulas. Recentemente, usando a tecnologia de speech-to-text texto e tradução do Microsoft Azure Cognitive Services, a empresa lançou em setembro legendas em tempo real para aulas ao vivo, melhorando a acessibilidade para membros surdos ou com dificuldades auditivas.

Os membros do Peloton são conhecidos por sua dedicação às classes energéticas da empresa. (Cortesia do Peloton)

Suresh Bathini, vice-presidente de engenharia de software do Peloton, diz que a empresa com sede em Nova York decidiu trabalhar com a Microsoft para expandir a acessibilidade à sua plataforma. Ele tomou a decisão após ouvir de um membro assinava aulas ao vivo para sua parceira, que é surda, que isso seria o movimento certo para a comunidade Peloton.

“Isso nos levou a fornecer legendas para as pessoas que estão tendo aulas ao vivo. Queremos proporcionar experiências imersivas que sejam acessíveis a todos os usuários”, diz Bathini.

Anteriormente, a empresa havia fornecido legendas apenas para suas aulas sob demanda. Mas isso significava que a experiência ao vivo, tão valorizada pelos membros, não estava disponível para aqueles que são surdos ou com dificuldade de audição.

Embora a decisão de introduzir legendas ao vivo fosse clara, executar essa visão  provou ser um pouco mais difícil. O desafio primário foi determinar como um software automatizado de reconhecimento de fala poderia compreender o vocabulário específico do Peloton, incluindo as frases numéricas usadas para contagem regressiva durante as classes e as designadas para definir níveis de resistência e cadência. A latência era outra questão – legendas não seriam muito úteis, afinal, se ficassem para trás do que os instrutores estavam dizendo.

Bathini diz que o Peloton escolheu o Azure Cognitive Services porque era econômico e permitiu que o Peloton personalizasse seu próprio modelo de aprendizado de máquina para converter a fala em texto,  al[em de ser significativamente mais rápido do que outras soluções no mercado. A Microsoft também forneceu uma equipe de engenheiros que trabalharam ao lado do Peloton durante todo o processo de desenvolvimento.

“Ter um sistema de suporte, especialmente do lado da engenharia e do software, nos ajudou a acelerar a solução”, diz Bathini. “Foi um processo muito colaborativo.”

O Peloton lançou legendas ao vivo em setembro de 2021 depois de ouvir de um membro que assinava aulas ao vivo inteiras para sua parceira, que é surda. (Cortesia de Meryl Evans)

Eric Boyd, vice-presidente corporativo da Microsoft Azure AI, diz que o uso do Azure Cognitive Services pelo Peloton é um grande exemplo de uso de inteligência artificial para quebrar barreiras e lidar com iniquidades.

“É ótimo ver como o Peloton está adotando o poder da IA para tornar sua plataforma mais acessível para todos”, diz ele. “Utilizando o Cognitive Service for Speech, parte da plataforma Azure AI, o Peloton foi capaz de desenvolver e implementar legendas ao vivo para suas classes, criando uma experiência mais acessível e envolvente para sua comunidade de membros, especialmente para aqueles que são surdos ou com dificuldade auditiva.” Afirma o executivo. “Essa colaboração incorpora perfeitamente nossa missão de capacitar cada pessoa e cada organização do planeta a alcançar mais.”

Para Rose, as legendas na tela de exibição de sua bicicleta têm sido nada menos que transformadoras. Ele entrou em várias academias nos últimos 20 anos, trabalhando com personal trainers e lendo suas instruções e orientações. Mas ele não podia interagir muito com outros membros da academia, além do sorriso ocasional ou polegar para cima. Depois de um tempo, sentindo-se isolado e deixado de fora, a motivação de Rose invariavelmente falharia e ele deixaria de ir aos treinos.

“Sempre me senti um pouco excluído nas academias, mas com o Peloton me senti como se eu fosse 100% parte da comunidade, porque sou capaz de participar e acompanhar o que está acontecendo”, diz Rose, que mora em Telford, uma cidade no centro da Inglaterra.

As aulas do Peloton vão desde ciclismo até corrida, yoga e treinamento de força. (Cortesia do Peloton)

Sua falta de motivação sumiu, juntamente com 9 kg. Desde fevereiro, Rose acumulou mais de 900  circuitos, juntou-se a um grupo no Facebook do Peloton e conversa regularmente online com outros membros do Peloton sobre temas que vão desde problemas de equipamento até metas de perda de peso.

“É uma pequena comunidade, o que é bom”, diz ele.

Quando Rose recebeu a bike pela primeira vez, ele tentou aulas ao vivo porque queria o imediatismo e o senso de conexão. Ele podia assistir à tabela de classificação que mostra a posição dos participantes e sua classificou, dar a outro membro um high-five e, o mais importante, participar da animação da equipe e do instrutor.

Mais tarde, Rose voltava e fazia a aula de novo com legendas só para sentir o mesmo entusiasmo. Sem legendas, Rose só podia assistir os instrutores e tentar copiar o que eles estavam fazendo. A introdução de legendas ao vivo, diz ele, “só me deixou absolutamente em êxtase.”

“Agora tenho a oportunidade de fazer a aula ao vivo e estar de fato envolvido, em vez de ser um mero expectador”, diz Rose, 60, professor sênior de estudos surdos e interpretação britânica de língua de sinais/inglês na Universidade de Wolverhampton.

Meryl Evans pertencia a um estúdio fitness antes de mudar para o Peloton, por conta de suas legendas e treinos guiados. (Cortesia de Meryl Evans)

Meryl Evans malhava anteriormente em um estúdio fitness por cerca de quatro anos, mas como Rose, estava pronta para uma mudança e queria mais orientação em seus treinos. Um treinador no estúdio anterior dava a Evans, que é surda, uma folha impressa de instruções para acompanhar. Mas eles eram básicos e não tinham o tipo de detalhe que ela queria – achatar as costas, apertar o núcleo  – coisas que maximizam os treinos e pode, ajudar a prevenir lesões.

Quando a pandemia chegou e as academias fecharam, Evans decidiu procurar um treino legendado que ela poderia fazer em casa. Exercícios sem legendas não eram uma opção – embora os olhos de Evans sejam sua “ferramenta de escuta número um”, ela acha difícil fazer leitura labial ao longo de um vídeo, muito menos enquanto se concentra em um treino.

Evans experimentou o Peloton e uma empresa concorrente e gostou da variedade de aulas do Peloton, que vão do ciclismo ao yoga, e sua diversidade de instrutores. Mas foram as legendas, que eram mais visíveis e fáceis de ler do que as da outra empresa, que selou o acordo para ela.

“Meus treinos agora são muito mais eficientes porque tenho as instruções nas legendas”, diz Evans, 51, uma profissional de marketing digital e consultora de acessibilidade que mora em Plano, no Texas. “E isso fez uma enorme diferença. Minhas costas não doem tanto quanto doíam por causa dessas instruções.”

Corredora e entusiasta de esportes ao longo da vida, Evans começou com uma esteira, mas logo mudou para uma bicicleta Peloton que ela conseguiu através do Programa de Retorno da empresa, que reconhece membros que superaram adversidades.

Como muitas pessoas, Evans e Rose gostam de malhar com música. Evans é fã da Broadway, especialmente “Hamilton”, e descobre novas músicas principalmente através de legendas nas aulas de Peloton ou em programas de TV. Rose se inclina para as músicas de rock dos anos 80, ama o grupo Queen e gosta de deixar seu som alto o suficiente para sentir a batida. Saber qual música está tocando durante os treinos fornece um impulso adicional, ambos dizem.

“Mesmo que eu não possa ouvi-la, se eu conheço uma música, minha cabeça vai tocá-la”, diz Evans. “E fico ‘escutando’ na minha cabeça enquanto ando de bike.”

Evans e Rose esperam que o Peloton adicione títulos de músicas à sua legenda ao vivo, algo que Bathini diz que a empresa está pensando para fazer, e Evans também gostaria de ver a adição de um instrutor ou dois com deficiência. A legendagem ao vivo para as aulas do Peloton está até agora disponível apenas em inglês, mas o objetivo é tornar as aulas o mais amplamente acessíveis possível, diz Bathini.

“Queremos tornar o condicionamento físico acessível a todos os nossos membros. Nossa missão é realmente impulsionar o futuro da aptidão para o mundo através de experiências conectadas”, diz ele.

Tanto Evans quanto Rose elogiam o Peloton por tomar medidas para atender às necessidades das pessoas com deficiência e dizem que outras empresas, na indústria fitness e além, devem seguir o exemplo. Legendas são usadas até mesmo por pessoas que não são surdas ou com dificuldade de audição, ressalta Evans (já assistiu a um jogo de futebol em um bar com muito barulho?), assim como dispositivos originalmente projetados para pessoas com deficiência, como elevadores.

A oferta de legendas pelo Peloton “faz a diferença, porque mostra que a empresa é séria sobre acessibilidade”, diz Evans. “A indústria fitness tem um longo caminho a percorrer, mas o Peloton provavelmente está à frente do grupo por causa do que eles estão fazendo com legendas.”

“Sou muito leal ao Peloton”, diz ela. “Eu não tenho nenhum desejo de mudar.”

Nem Rose, que finalmente encontrou seu treino preferido através de uma bicicleta de alta tecnologia, conectada à internet e uma comunidade de pessoas com mentes semelhantes. Mesmo que outras empresas fitness sigam os passos do Peloton, ele planeja ficar com eles por “respeito e lealdade”.

E ele tem outra razão para isso. Um dia, no final de outubro, Rose subiu na bicicleta para um circuito de 30 minutos com músicas dos anos 2010. Quando a aula começou, uma legenda apareceu. Foi a tão esperada interação com a equipe, parabenizando Rose em seu 900º circuito.

Naquele pequeno quarto, na bicicleta que lhe trouxe conexão e uma paixão recém-descoberta, Rose gritou de alegria.

Ele já está pensando em seu milésimo passeio.

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