A visão da pesquisadora “fusionista” Asta Roseway para o futuro do design, da tecnologia e muito mais

Por Thomas Kohnstamm //

A FoodFutures, uma exposição que aborda o futuro da produção de alimentos até 2050, une elementos da agricultura urbana, aprendizagem de máquina, pesquisa, engenharia e design.

Os módulos de fazenda hidropônicos e aquapônicos autossustentáveis utilizam a análise da visão computacional para maximizar o rendimento eficiente e a saúde das culturas. A estética retrofuturista tem um pé em 2050, enquanto mantém uma discussão acessível e inspiradora sobre os desafios da alimentação em um mundo que enfrenta mudanças climáticas crescentes e a urbanização.

“O projeto prova como uma visão, orientada pelo design, pode conectar várias disciplinas técnicas e científicas para criar soluções e apresentar questões urgentes, como a segurança alimentar”, disse Asta Roseway, pesquisadora-chefe do Microsoft Research e cofundadora da FoodFutures. “E a arte permeada em todo o projeto é o que liga a tecnologia ao lado humano de maneira significativa.”

Em seu escritório de Redmond, em Washington, repleto de trabalhos de pesquisa, manequins tecnológicos de alta costura e um pequeno console do jogo Ms. Pac-Man, Roseway afirma: “Estamos entrando em uma era de colaboração orientada pelo design, em que o papel do designer será a ‘fusão’ entre arte, pesquisa, ciência e engenharia”.

“Estamos entrando em uma era de colaboração em que o papel do designer será a ‘fusão’ entre arte, pesquisa, ciência e engenharia.”

A capacidade de Roseway de pensar criticamente ao navegar entre as disciplinas e combinar seus melhores aspectos não representa apenas o futuro das carreiras em design. A pesquisadora acredita que esse novo modelo desempenhará um papel nas carreiras de tecnologia, e nas carreiras em geral, de maneira mais ampla. Roseway o chama de “fusionismo”, e, apesar de sua modéstia, ela é uma das principais “fusionistas” da Microsoft.

“A indústria de tecnologia pode ser dividida em pequenos grupos, e a Asta reúne as pessoas certas com diferentes talentos para fazer um projeto funcionar”, disse Paul Johns, desenvolvedor sênior do Microsoft Research. “Ela trabalha em projetos aumentando a experiência humana em vez de apenas considerar a experiência tecnológica, e isso dá a todos os envolvidos um ponto de referência comum.”

Helene Steiner, outra “fusionista” que atualmente é pesquisadora de pós-doutorado no Microsoft Research Cambridge, acrescentou: “Asta é uma condutora que incentiva relacionamentos entre campos de estudo e os ajuda a se comunicar e articular suas visões. Mas é sua inteligência emocional, empatia e sensibilidade social que a tornam uma grande ‘fusionista’.”

Nascida na cultura hiperprogressiva de 1970, em Oakland, na Califórnia, Roseway cresceu com pais artistas, muitas vezes trabalhando com eles na pizzaria da família. Sua juventude foi cercada por uma paixão pela arte, música e comida. Ela atribui ao trabalho no restaurante o desenvolvimento das habilidades para interagir com tantas pessoas quando ainda era muito jovem.

Aos 20 anos, ela se despediu de sua comunidade, em Bay Area, e se mudou para Paris para estudar artes plásticas e história da arte. “Tinha muito medo, mas meu coração estava determinado, e essa decisão me mudou para sempre”, contou Roseway. Seus quatro anos em Paris tornaram-se a base para seu próprio senso de autoconfiança, determinação e “confiança para sempre pular em algo novo”.

Como estudante de design gráfico da Parsons School of Design, Roseway transitou entre o design analógico tradicional da tipografia manual e ferramentas digitais emergentes. O ponto crucial chegou na forma do Adobe Illustrator. “Quando o testei, era como se as nuvens se abrissem e um raio de luz acertasse o computador”, conta. “Sabia, então, qual seria o meu caminho no design.”

Pela primeira vez, Roseway poderia criar desenhos no computador na mesma velocidade que as ideias passavam por sua mente. Avançando em direção a esse horizonte digital com uma mente aberta, ela começou a experimentar a interação e multimídia para criar experiências em CD-ROM a partir de utilizações prévias e limitadas.

Em 1996, poucos meses após a graduação, Roseway foi contratada pelo Microsoft Research para trabalhar com uma equipe de realidade virtual, gerando ambientes 3D on-line. O objetivo era permitir que as pessoas construíssem e hospedassem seus próprios mundos 3D com recursos de avatar como se fossem sites. Ela admite que, durante os primeiros seis meses, não entendeu muito sobre o que seus colegas da engenharia da computação estavam falando.

“Embora eu ainda não tivesse o vocabulário técnico para conversar com meus pares, me lembro de criar meu primeiro avatar, passando por um campo aberto e conversando com ‘colegas de trabalho virtuais’ em vários tons de fontes e cores”, disse ela.

“Sabia que nunca voltaria àquela ideia sobre como o design deveria ser, e que estava dentro de uma louca jornada.”

Ao longo de vários anos, Roseway aprendeu sobre a Microsoft, a indústria de tecnologia e seus jargões e siglas, enquanto improvisava para reunir as pessoas em torno de suas ideias de design. Da TV interativa e aplicações de mensagens instantâneas até experiências móveis e busca avançada, ela assumiu novos desafios e aprendeu fazendo.

Ela diz que seu conceito de “fusionismo” surgiu a partir de sua própria experiência trabalhando em várias disciplinas e resolvendo as incontáveis incertezas na tecnologia emergente. “A verdade é que a mudança está acontecendo tão rápido que você nunca está completamente preparada para a próxima. Mas você pode estar preparada para a mudança em si.”

Em 2010, uma nova onda de microprocessadores e sensores deixou a tecnologia agnóstica com relação ao PC e até mesmo ao smartphone, abrindo novas oportunidades no mundo dos “vestíveis”. Roseway viu que se a tecnologia fosse onipresente e sobre (ou dentro dos) nossos corpos, a abordagem “fusionista” poderia ajudar a garantir que os produtos fossem mais profundos, mais pessoais e benéficos para todos nós.

Sua peça inovadora foi The Printing Dress, de 2011, cocriado com o designer de experiência do usuário, Sheridan Martin Small. O vestido explorou texto vestível e seu potencial impacto no futuro da moda. Construído quase inteiramente de papel, o vestido permite que o usuário tweet “pensamentos” no vestido e os apresente como arte pública. Ele combina a tipografia manual que Roseway estudou em Parsons com o mundo contemporâneo das mídias sociais.

“Foi, antes de mais nada, uma peça de arte que invocou questões sobre privacidade, redes sociais e tecnologia vestível”, explica Roseway. “As pessoas podem mapear suas próprias respostas e especulações sobre o futuro. Isso é o que a arte faz: é uma ponte para todos. E isso é o que conta.”

O The Printing Dress foi a primeira peça de moda tecnológica já criada na Microsoft. Ele ganhou o Best in Show, no Simpósio Internacional de Computadores Vestíveis, e foi destaque no CES, no New York Fashion Week e no SXSW no final do ano passado.

Desde então, a carreira de Roseway caminhou entre ficção científica e realidade com ênfase no bem-estar emocional, vestíveis, sustentabilidade e imaginação. Ela ajudou a criar uma terapia de luz azul vestível para o Transtorno Afetivo Sazonal, que estaria melhor nas prateleiras da Bergdorf do que na Best Buy, explorou conceitos iniciais para maquiagem inteligente, que muda de cor com a poluição e a exposição a raios UV e, obviamente, ajudou a orquestrar a FoodFutures.

A DuoSkin, uma recente colaboração com Cindy Hsin-Liu Kao, do MIT Media Lab, é uma tatuagem temporária interativa que pode controlar dispositivos a partir da pele. Usando uma folha de ouro como agente condutor, essas tatuagens podem ser personalizadas para combinar com a estética do usuário e podem ser tão expressivas quanto as tatuagens tradicionais de tinta. O projeto foi nomeado para o Prêmio SciFi No Longer, no próximo festival SXSW, e foi destaque na Time Magazine.

“Às vezes, você só precisa rir quando percebe que está trabalhando com químicos ou cientistas de material e se pergunta ‘Como eu vim parar aqui?’”, brinca. “Mas se você quiser se manter no limite, é necessário estar disposto a sair da sua zona de conforto e sempre abraçar outras ideias”.

Ela fundou recentemente o primeiro programa de artista-em-residência da Microsoft, chamado studio99. Esse projeto, conduzido por funcionários, convida pensadores e artistas não convencionais a colaborar com pesquisadores na próxima onda de tecnologias.

O Project Florence, que surgiu do studio99, permite que as pessoas conversem com uma planta traduzindo o sentimento do texto em uma frequência de luz que a planta pode reconhecer e responder para promover uma experiência de conversação bidirecional. Inspirado na então artista-em-residência Helene Steiner, o Project Florence é uma cornucópia “fusionista” de biologia, pesquisa em linguagem natural, design e engenharia. O projeto foi recentemente exibido na Ars Electronica e foi uma inspiração para grande parte do trabalho realizado na FoodFutures.

Roseway trabalha há muito tempo para promover a diversidade e a inclusão. Ela sabe o que é estar fora e também entende que o “lado de fora” é onde as próximas ideias podem surgir. Há dez anos, ela cofundou o DigiGirlz, um acampamento tecnológico para meninas do ensino médio. O acampamento DigiGirlz continua a promover a exposição das meninas a profissionais mulheres por meio da presença global da Microsoft, ao mesmo tempo que oferece oficinas e aulas práticas.

Roseway está otimista com o potencial da geração de talentos recebidos. “Os graduados hoje em dia desejam e, até esperam, fazer algo monumental – para mudar o mundo”, diz. “E eles entendem que terão que trabalhar em várias disciplinas e usar arte e design para torná-la mais confiável e bem-sucedida.”

“Os graduados hoje em dia desejam e, até esperam, fazer algo monumental – para mudar o mundo.”

Por meio de seu trabalho na Microsoft, Roseway tenta fornecer à próxima geração uma plataforma para colaborar, crescer em ambientes misturados e se sentir apoiada na empresa.

“Há tantas dimensões para as pessoas e a vida que você não consegue encontrar soluções com um único pincel. E é a inclusão da arte que faz o ser humano pensar e fazer perguntas mais profundas”, afirma.

Nesta fase de sua carreira, Roseway já está acostumada a ser diferente. “Sempre me senti um pouco diferente dos meus pares; nunca estive em uma sala cheia de outras Astas”, conta. “Mas aceito isso. Agora sei que é o meu maior trunfo.”

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