Por Satya Nadella, CEO da Microsoft
Em janeiro, anunciamos uma parceria com a Walgreens Boots Alliance para colocar as pessoas no controle de sua saúde e bem-estar. A colaboração combina o poder da nuvem Azure, da tecnologia de Inteligência Artificial e do Microsoft 365 com a profunda experiência da Walgreens Boots Alliance no setor. Como parte de nossa colaboração, a Walgreens Boots Alliance apresentará novas soluções de assistência à saúde, criadas com nossas plataformas e ferramentas.
O objetivo é abordar um dos nossos desafios mais prementes – melhorar os resultados da assistência à saúde e reduzir os custos – e é um exemplo emblemático do que chamo de intensidade tecnológica, o potencial de empresas e países de impulsionar seu crescimento não só adotando tecnologia, mas também construindo sua própria tecnologia.
Em um mundo em que toda companhia está se tornando uma empresa digital, vemos exemplos de organizações em todos os setores adotando a intensidade tecnológica para prosperar e maximizar seu impacto, e compartilhei muitas de suas histórias no LinkedIn no último ano. Na agricultura, a Bühler, que processa quase dois terços dos grãos do mundo em suas máquinas, criou sua própria solução para identificar toxinas mortais em grãos, diferenciando seus equipamentos e mantendo ao mesmo tempo o suprimento de alimentos do mundo. No varejo de alimentos, a Kroger está usando tecnologia digital para redefinir a experiência do cliente em suas lojas e fornecer aos seus funcionários uma visão mais ampla. No setor automotivo, a Volkswagen aproveita a tecnologia para oferecer novas e diferenciadas experiências de carros conectados. No transporte, a Grab está usando IA para melhorar a segurança do passageiro e do motorista. E, nos serviços financeiros, a Blackrock aplica a tecnologia digital para repensar a aposentadoria, com o objetivo de ajudar milhões de americanos com suas necessidades de planejamento de aposentadoria, da poupança aos gastos.
A intensidade tecnológica envolve dois aspectos: primeiro, toda organização precisará ser uma adepta ágil da melhor tecnologia e, igualmente importante, precisará construir suas próprias capacidades digitais exclusivas, que começam com os funcionários que possuem conhecimento profundo da mais recente tecnologia. Penso na intensidade tecnológica como uma equação – (adoção de tecnologia) ^ capacidades tecnológicas = intensidade tecnológica – e, como empresa, a Microsoft está focada em fornecer as condições para ajudar nossos clientes a resolvê-la.
Para acelerar a adoção de tecnologia, as organizações precisam acessar as plataformas, as ferramentas e os treinamentos mais recentes, para que não precisem recriar a tecnologia que já se tornou commodity. É o primeiro passo para criar intensidade tecnológica, mas não é suficiente.
Para aumentar exponencialmente seu impacto construindo suas próprias capacidades tecnológicas, as empresas precisam investir em capital humano, para que tenham uma cultura no local de trabalho que incentive o desenvolvimento de capacidades e a colaboração para gerar conceitos inovadores. Por exemplo, uma organização pode ter uma visão conceitual, mas também precisa ter os recursos para dar vida a ela, e também os funcionários com as habilidades de engenharia e design necessárias para construir o conceito.
A confiança é fundamental para adotar e construir tecnologia, tanto a confiança na tecnologia quanto a confiança de que os modelos de negócios dos parceiros estão alinhados ao seu sucesso. Pode parecer banal, mas as empresas nunca poderão usar a tecnologia para criar vantagem competitiva se seus parceiros de tecnologia competirem com elas.
Pesquisadores mostraram que a intensidade da tecnologia é um motor do sucesso organizacional. James Bessen, da Universidade de Boston, estudou extensivamente o que fez com que as principais empresas ultrapassassem os concorrentes e concluiu que a construção de tecnologia proprietária é um fator determinante, contribuindo para uma produtividade significativamente maior.
O conceito de intensidade tecnológica também se aplica mais amplamente ao destino de países inteiros, com implicações significativas na formulação de políticas.
Nos últimos 200 anos, uma enorme lacuna de renda surgiu entre as nações mais ricas e as mais pobres. Economistas, especialmente Diego Comin, do Dartmouth College, mostraram que isso pode ser parcialmente explicado pela “intensidade de uso” de um país ao colocar novas tecnologias para funcionar. Para ser claro, o professor Comin define “intensidade de uso” como a intensidade com que uma tecnologia penetra numa população depois que ela chega a um país, mas a definição está intimamente ligada à nossa própria definição de “intensidade tecnológica” organizacional. Ao longo do tempo, países com altas taxas de penetração de tecnologia, ou “intensidade de uso”, estão mais bem posicionados para construir sua própria tecnologia. Isso permite que os governos ofereçam melhores serviços aos cidadãos, que as grandes companhias nesses países sejam mais competitivas e que as pequenas empresas e os empreendedores sejam mais produtivos.
A equação explica como os países podem promover isso. Para incentivar a adoção de tecnologia, os países precisam priorizar as apostas, como o amplo acesso à conectividade. Afinal, sem conectividade, a adoção da mais recente tecnologia de última geração é discutível. Hoje, a conectividade continua variável entre os países e, com as taxas atuais de adoção, o acesso universal à internet em países de baixa renda não será alcançado até 2042.
Para aprimorar suas capacidades tecnológicas, os países precisarão de uma força de trabalho treinada para usar a tecnologia de maneira produtiva. Os empregos de hoje não serão os mesmos de amanhã, e já vimos a demanda por funções de engenharia de software se expandir rapidamente além do setor de tecnologia. As vagas de emprego para desenvolvedores em setores não tecnológicos estão crescendo mais rapidamente do que na própria indústria de tecnologia, de acordo com dados do LinkedIn. Os países devem garantir que suas populações e gerações futuras tenham as habilidades digitais que serão cada vez mais necessárias para prosperar. Eles também devem trabalhar em conjunto com a indústria para garantir que a tecnologia que é construída seja sempre confiável. Isso significa ação dos governos e do setor de tecnologia para evitar as consequências não intencionais dos avanços tecnológicos.
E, é claro, os países podem dar o exemplo na construção de suas próprias capacidades tecnológicas que lhes permitam ser mais eficientes e fornecer melhores serviços aos seus cidadãos. Os exemplos são abundantes. No Território do Norte da Austrália, o governo está construindo sua própria tecnologia para garantir que os recursos pesqueiros sejam geridos de forma sustentável para as gerações futuras. O Departamento de Assuntos de Veteranos dos EUA lançou uma ferramenta on-line para que os veteranos tomem decisões com mais informações sobre seus serviços de saúde, permitindo que eles comparem as instalações por fatores como tempo de espera e satisfação do paciente. E o Banco Interamericano de Desenvolvimento construiu uma plataforma on-line já adotada pela Colômbia, Costa Rica, Paraguai e Peru, que permite aos cidadãos rastrear os gastos do governo, trazendo novos níveis de transparência para o setor público.
As apostas para países e empresas não poderiam ser maiores. Nessa era digital, a intensidade tecnológica é vital para o crescimento econômico e, como todos os setores são afetados, é uma oportunidade para promover uma maior igualdade econômica, tanto dentro de um país quanto globalmente. O amplo superávit que isso cria permitirá que os setores público e privado tomem medidas para enfrentar os desafios mais prementes da sociedade. Na Microsoft, por exemplo, estamos investindo em iniciativas de Inteligência Artificial para o Bem (AI for Good) que colocam os avanços mais recentes em tecnologia nas mãos dos criadores de mudanças, para que possam construir seus próprios recursos digitais e aplicá-los para maximizar o impacto. O AI for Accessibility, por exemplo, fornece aos desenvolvedores ferramentas de Inteligência Artificial para acelerar o desenvolvimento de soluções que ajudam mais de 1 bilhão de pessoas com deficiências, enquanto o AI for Earth faz o mesmo para aqueles que trabalham para resolver problemas climáticos globais, e o AI for Humanitarian Action apoia a recuperação de desastres e protege as pessoas desalojadas em todo o mundo.
A intensidade tecnológica está na base da missão da Microsoft de capacitar cada pessoa e cada organização no planeta a conseguir mais. Temos o compromisso de ajudar nossos clientes a liberar o poder da tecnologia em tudo o que fazem e, nos próximos meses, espero compartilhar muitos exemplos de como as organizações estão adotando e promovendo a intensidade tecnológica para beneficiar a sociedade e prosperar em um mundo digital.
Este texto foi publicado originalmente em inglês no LinkedIn.