Por Geoff Spencer //
No filme Star Trek, o médico da USS Enterprise, Bones McCoy, diagnosticava seus pacientes com seu “tricorder”. Na vida real, a medicina ainda não chegou tão longe.
Mas converse com o Dr. Simon Kos, diretor médico da Microsoft, para ter uma perspectiva da velocidade em que as novas tecnologias digitais avançam e estão trazendo melhores resultados clínicos.
Tal como acontece em outras profissões, o trabalho de médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde está sendo digitalmente transformado. “É emocionante e está acontecendo mais rápido do que pensamos”, disse o Dr. Kos em uma recente visita à Singapura. “O futuro já está aqui. Os profissionais da saúde estão abraçando a tecnologia e estamos aprendendo muito.”
Muitas dessas mudanças – desde o diagnóstico e digitalização, até o gerenciamento de doenças crônicas, cuidados em casa e cirurgia – estão sendo concebidas por algumas das principais instituições médicas do mundo. Talvez o fator de mudança seja a realidade mista, que combina os mundos real e digital para que os objetos físicos e digitais coexistam diante dos olhos de um usuário. Atualmente, ela está sendo aplicada na educação médica, no planejamento cirúrgico e, cada vez mais, nos cenários reais de operação.
Vamos começar no início. O funcionamento interno do corpo sempre nos fascinou, muito antes de Leonardo da Vinci. E até hoje, a maioria das escolas de medicina baseia-se em livros, modelos e, assim como Leonardo, na dissecação de cadáveres para ensinar anatomia e procedimentos cirúrgicos aos futuros médicos. Mas isso de repente mudou.
“Nosso modo de visualizar o corpo na medicina tem sido, historicamente, como uma abstração bidimensional. Agora, por meio da realidade mista, podemos vê-lo em três dimensões e isso é bastante transformador”, diz o Dr. Kos. A realidade mista é tão transformadora que os médicos – que normalmente são conservadores com relação a adoção de novas tecnologias – estão aproveitando.
Instituições como a Case Western Reserve University, em Cleveland, nos Estados Unidos, e a Universidade de Sydney, na Austrália, estão usando o Microsoft HoloLens para ensinar seus alunos. Usando os headsets, eles podem “ver” e estudar as complexidades anatômicas como se estivessem no interior do corpo. Tutoriais tridimensionais, projetados em uma viseira, mostram graficamente como o coração bombeia, como o sistema nervoso funciona, como os ossos e os músculos interagem, bem como o desenho dos órgãos vitais. Os alunos podem caminhar em volta e até mesmo através das imagens projetadas para se familiarizarem com o assunto.
Da mesma forma, a empresa de treinamento e educação global, CAE Healthcare, tem como objetivo melhorar a segurança do paciente, fazendo com que seus alunos usem o HoloLens para simular e praticar procedimentos médicos. O presidente da instituição, Dr. Robert Amyot, diz que os profissionais de saúde estão em seu momento “mais perigoso” quando ainda estão em uma “curva de aprendizado”. Mas agora isso mudou completamente devido ao HoloLens. Por meio de simulações repetidas e em 3-D, os alunos podem praticar cenários variados, cometer erros e tentar coisas antes de tratar pacientes reais.
Enquanto isso, o Hololens – que é um computador avançado – também se tornou uma ferramenta incomparável para cirurgiões que planejam operações complexas, que têm pouca ou nenhuma margem para erros. É assim que funciona: um paciente é “digitalizado” por uma máquina de ressonância magnética ou MRI. As imagens bidimensionais resultantes são então apresentadas em 3-D dentro de um headset HoloLens. Com ele, um médico pode determinar exatamente o que precisa ser feito e como.
Isso está acontecendo agora na capital da Noruega, Oslo, por uma equipe de especialistas reconhecidos por corrigir defeitos congênitos nos pequenos corações de bebês. Até pouco tempo, eles tinham sua própria maneira tecnológica de planejar essas operações de alta complexidade: eles usavam a digitalização e uma impressora 3-D para criar modelos físicos de cada coração. Mas agora, a imagem interativa 3-D dentro do Hololens tornou uma solução de ponta obsoleta em poucos anos.
Dr. Kos acredita que a realidade mista revolucionará a forma como os cirurgiões abordam operações delicadas, resultando em melhores taxas de sucesso e tempos de recuperação mais rápidos do paciente. “Usar o HoloLens significa que você pode fazer uma cirurgia sem surpresas. É possível planejar cuidadosamente com antecedência. A anatomia não é a mesma em todas as pessoas. Então, você tem que saber o que está procurando.”
Hoje, o HoloLens não está aprovado para uso em cirurgias nos Estados Unidos. Mas está começando a ser usado em outros lugares. Na França, as imagens de realidade mista de operações reais são registradas para o ensino de estudantes. Também na Europa, os cirurgiões, que dependem da precisão do HoloLens, não apenas usam a ferramenta para planejar com antecedência mas também como guia em operações reais. Por exemplo, a Scopis, uma empresa especializada em navegação cirúrgica, bem como tecnologias médicas de realidade aumentada e mista, lançou este ano a sua plataforma de navegação holográfica. Ela incorpora o HoloLens, que está sendo usado por cirurgiões durante várias operações de fixação de vértebras. O posicionamento planejado de parafusos é projetado no campo de visão do cirurgião e sobreposto exatamente ao paciente, criando a experiência de realidade mista, diz a empresa. Isso permite que um cirurgião encontre as posições exatas dos parafusos rapidamente e alinhe os instrumentos cirúrgicos de forma interativa com a visualização holográfica.
“A solução holográfica da Scopis tem o potencial de tornar a cirurgia de coluna mais efetiva, segura e precisa”, disse o professor Christian Woiciechowsky, chefe da clínica de cirurgia de coluna vertebral do hospital Vivantes Humboldt, em Berlim, na Alemanha. “Integrar as ferramentas de realidade mista na cirurgia é um enorme avanço tecnológico para melhorar a visão de um cirurgião e pode proporcionar mais benefícios aos pacientes”. A Scopis vê essa tecnologia de realidade mista ser aplicada em outras áreas, como a cirurgia cerebral, em que os tumores podem ser localizados mais rápido e com mais precisão.
O Dr. Kos também vê um enorme potencial para a realidade mista na melhoria do atendimento médico domiciliar, principalmente para idosos e pessoas com deficiência. Ele é um pioneiro nesse campo na Silverchain, um fornecedor na área da saúde na Austrália. Ela remodelou seu sistema de registro de atendimento ao cliente com o Microsoft Dynamics 365, que fornece uma interface informativa versátil tanto para dispositivos móveis padrão quanto para HoloLens.
“Uma enfermeira visitante pode chegar à casa de um paciente e acessar essa informação ao lado da cama”, diz ele.
“Usando um HoloLens, eles podem fazer a documentação enquanto um médico na clínica pode ver a mesma imagem por vídeo, remotamente. Assim, uma consulta completa pode ser realizada em tempo real no conforto da casa do paciente.”
Geoff Spencer é editor de conteúdo digital da Microsoft Ásia.