“A maior agtech será brasileira, pois somos a fazenda do mundo”: Como uma empresa nativa digital impulsiona e transforma a agricultura no Brasil
Na metade da faculdade, Lucas Tuffi teve uma startup que não deu certo e acabou fechando. Apesar do gosto amargo, ele aprendeu muito com essa experiência e começou a trabalhar com o pai em uma empresa de embalagens flexíveis, em 2014. Foi então que uma crise financeira começou a atingir a economia brasileira, e ele decidiu procurar maneiras diferentes de trazer dinheiro para casa. Seu sonho na época: trabalhar em uma instituição financeira.
Em busca de um lugar onde pudesse desenvolver seu sonho, ele se deparou com o site de uma empresa chamada Agrotools, fundada por Sergio Rocha, importante empresario do ramo de commodities ligado ao mercado financeiro. Foi aí que algo chamou sua atenção. Nessa empresa, já trabalhavam com um banco, algo que era próximo do seu sonho. Resolveu procurar uma oportunidade por lá e, agora, após 10 anos, é sócio e Chief Strategy Officer da Agrotools com passagens bem sucedidas nos cargos de Chief Commercial Officer e Chief Marketing Officer.
Empresas nativas digitais impulsionam a agricultura com tecnologia
O mundo precisará aumentar a produção global de alimentos em 50% a 70% até 2050. Apenas 28% da superfície do planeta é arável e a falta de conectividade rural, o uso da água, o aumento das emissões de gases de efeito estufa e o impacto das mudanças climáticas representam grandes desafios, que já levaram a uma redução de pelo menos 21% da produção global de alimentos. Em paralelo vivemos, hoje, uma explosão do uso de IA como nunca tínhamos visto, estamos sendo protagonistas de uma mudança de era e estamos vivendo uma revolução no uso de dados, que está nos levando a uma fase conversacional que muda tudo.
Neste contexto, no Brasil, cresce e aumenta a democratização do acesso à tecnologia para diferentes tipos de empresas, como a Agrotools, uma empresa nativa digital que nasceu há 16 anos com o objetivo de promover a agricultura por meio da geotecnologia e da inteligência de dados. Focada em indústrias que compram matérias-primas agropecuárias, empresas que vendem de insumos, ou ainda instituições financeiras, como bancos e cooperativas de crédito para agricultura, entre outras, a empresa possui um ecossistema completo de ferramentas digitais, aplicativos, APIs (Application Programming Interface), dashboards e outras soluções prontas para uso, que permitem que essas empresas façam as coisas de forma mais rápida, tenham melhor gerenciamento de riscos e possam atender aos aspectos regulatórios.
No início, essa empresa brasileira focava mais no apoio às instituições financeiras, mas vendo que o maior risco na época era voltado para desafios socioambientais, especialmente para frigoríficos e varejistas, eles encontraram uma oportunidade de aumentar seu negócio e desenvolver seu primeiro produto pronto para uso, orientado para o compliance. Com o tempo, a empresa evoluiu e criou centenas de produtos para todos os elos do agronegócio corporativo, atualmente com 200 clientes em 5 países.
“Somos uma empresa multicloud, com infraestrutura baseada na Microsoft, aproveitamos o Planetary Computer para nossas soluções e trabalhamos lado a lado com a equipe de pesquisa da Microsoft para desenvolver novos produtos”, diz Lucas Tuffi.
Um ecossistema completo de produtos prontos para uso
A Agrotools começou como uma empresa focada no desenvolvimento de soluções, antes de desenvolver seu ecossistema com produtos prontos para uso. Diferente de boa parte das startups, cresceu com as próprias pernas, ou como o jargão do mercado diz, cresceu de forma “Bootstrap”. Contudo, em 2021 resolveram fazer sua primeira rodada para levantar capital e impulsionar ainda mais sua capacidade de crescimento, internacionalização e aquisição de outras empresas. “Queríamos trazer os melhores recursos para a empresa, como talentos do mercado, metodologias e produtos”, diz Tuffi. Com essa estratégia de crescimento, eles também buscam ampliar a operação no Brasil e iniciar sua internacionalização, além de aumentar seu ecossistema de soluções para complementar sua oferta em aspectos em que ainda não trabalham ou naqueles em que o mercado ainda é inicial, como carbono, risco climático ou até mesmo chegar ao produtor rural.
Os benefícios oferecidos por suas soluções são variados. Como, por exemplo, a redução do tempo que um banco leva para realizar a avaliação de garantia para uma fazenda. Antes, era necessário enviar uma pessoa para fazer esta avaliação presencialmente, receber as informações do agricultor e depois validá-las. Esse processo, às vezes, podia levar até um mês. Graças a um produto desenvolvido pela Agrotools, ele passou a ser feito em minutos e de forma remota, o que proporciona mais agilidade e custa 10 vezes menos do que uma avaliação presencial.
Em relação à gestão de riscos, a Agrotools possui soluções que permitem às empresas monitorar e avaliar instantaneamente de onde vem a matéria-prima que adquirem, seja de um frigorífico ou de uma trading de commodities, e saber se o produto vem de uma região crítica para a política global da empresa. Sobre isso, Tuffi menciona que “todas as empresas, independentemente do seu setor, têm riscos ao operar em negócios agrícolas, esses riscos podem ser sociais, ambientais, morais, climáticos ou biológicos. Nós os ajudamos a acompanhar esses riscos de forma 100% digital.”
Para a conformidade regulatória, a Agrotools criou um algoritmo baseado em IA que permite que uma cooperativa de crédito gere coordenadas geodésicas e monitore a lavoura de uma fazenda instantaneamente. Parte desses dados são enviados para o Banco Central para aprovação de um empréstimo para um agricultor. Esse processo, que é uma regulamentação obrigatória, era feito anteriormente de forma manual, onde um analista desenhava e coletava todas as coordenadas e depois as enviava ao Banco Central.
A Agrotools mudou a forma como as empresas trabalham por meio de suas soluções. Com o GIX, aplicativo mobile que eles desenvolveram para clientes de diversos setores, como instituições financeiras, empresas de nutrição animal, fornecedores de matéria-prima, entre outros, o processo de coleta de informações das fazendas foi simplificado. Essas informações antes eram coletadas em notebooks e com câmeras, agora, graças ao GIX, eles podem coletar evidências e melhorar sua análise remota mesmo que não tenham conexão com a internet.
Quando falamos sobre nossas soluções, pensamos nelas como um conjunto de blocos de construção.
Inovação: soluções flexíveis para cada necessidade
A Agrotools também tem flexibilidade para adaptar suas soluções para empresas de diferentes portes. “Quando falamos sobre nossas soluções, pensamos nelas como se fossem um conjunto de blocos de construção”, diz Tuffi. Os seus maiores clientes podem comprar o conjunto completo, o que os ajudará a atingir seus objetivos, mas, se for uma empresa de médio ou pequeno porte, eles podem comprar um ou dois blocos apenas, os que precisam para atender a sua necessidade específica.
Eles têm clareza de que, ao dividir sua oferta em soluções corporativas, podem entregar tudo o que a empresa precisa. “Realizamos 50 mil análises por dia para grandes empresas, enquanto para as PMEs, realizamos 2 por mês”, diz Tuffi sobre a diferença no volume de demanda para empresas de diferentes portes. Agora, o foco muda em termos de apoio para os canais para chegar até estes clientes e atender às suas necessidades. Um dos próximos desafios da Agrotools será capacitar os produtores a construir sua imagem de forma transparente para as instituições de seguros ou de crédito, reduzindo os riscos das suas avaliações serem rebaixadas.
A tecnologia pode ser um motor para acelerar processos e obter benefícios importantes para o negócio e, para atingir esses objetivos, a inovação desempenha um papel importante. Para Tuffi, “a inovação vem de cenários que, em sua maioria, têm caos”. Ele tem a visão de que, quando há muitos desafios, como falta de conectividade, poucos dados ou informações disponíveis, é preciso deixar a inovação entrar no negócio, para que ela mude todos os processos.
“Minha maior motivação para trabalhar aqui é que acho que não poderia haver uma convergencia mais oportuna que a Agrotools. Trabalhando no Brasil, com tecnologia de ponta e baseando seu modelo de negócio em ESG, ou seja, estou no lugar certo. Somos a fazenda do mundo”, diz Tuffi, que destaca ainda que misturar tecnologias como IA, blockchain, big data, machine learning e outras, com a visão da Agrotools, tem sido a fórmula ideal para criar soluções inovadoras que impulsionem o agronegócio no Brasil.
