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Alunos do Skype-a-Thon

Por videoconferência, crianças têm aulas reveladoras com estudantes de todo o mundo

Shiva Kumar dá aulas em fazendas do escaldante Sul da Índia, mas quando ele quer que seus alunos aprendam sobre outras culturas, empatia ou mesmo o conceito estranho de estar congelando de frio, ele os leva para lugares exóticos nos confins da Terra.

Os alunos de Kumar viajaram milhões de quilômetros pelo mundo, virtualmente, por meio das sessões de Skype que ele começou a organizar em 2015. E depois de mais de mil interações com salas de aula ou especialistas em dezenas de países, ele ainda se surpreende com as lições aprendidas.

Observe o que aconteceu quando sua turma de 8 a 10 anos fez uma videoconferência com crianças de um campo de refugiados queniano.

“Descobrimos que lá seis crianças estavam compartilhando um livro, e meus alunos ficaram chocados ao saber das dificuldades que os refugiados têm e ainda ver a empatia fluindo entre eles, apesar de tudo”, lembra Kumar. “Meus alunos perceberam que existem muitas pessoas pobres no mundo e isso os inspirou a começar a compartilhar mais entre si. Até pequenas coisas como almoço, lápis, borracha ou equipamentos esportivos – eles começaram a compartilhar tudo.”

Para o Skype-a-Thon deste ano, um evento anual que acontece nos dias 13 e 14 de novembro, os alunos das dez aulas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, na sigla em inglês) de Kumar levarão seus sacos de dormir para a escola a fim de participar de sessões de 30 minutos de Skype por oito horas. A maratona de dois dias de viagens virtuais se tornou um marco nas aulas de Kumar desde a primeira, há quatro anos, quando as conexões dos alunos com salas de aula em todo o mundo se estendiam por mais de um milhão e meio de quilômetros. As crianças decoram sua escola com luzes e exibem sua cultura indiana por meio de danças tradicionais e instrumentos musicais, da mesma forma que os projetos modernos de STEM.

No Brasil, duas escolas participam do Skype-a-Thon deste ano: Colégio Sesi Internacional, de Curitiba, Paraná, e Colégio Poliedro, de São José dos Campos, São Paulo.

Alunos de Shiva Kumar
Lakshmi Yasaswini, Mokshogna Sai Reddy e Tejaswini vestiram roupas tradicionais com outros alunos da Master School em Kavali, Índia, e decoraram a classe com luzes para o Skype-a-Thon no ano passado. Foto cedida por seu professor, Shiva Kumar

No ano passado, quase meio milhão de estudantes de mais de 90 países participaram, viajando 23,3 milhões de quilômetros. O objetivo é atender ou exceder esses números este ano.

E neste ano, os esforços dos alunos proporcionarão um benefício tangível. Para cada 400 milhas (643,7 km) virtualmente percorridas no Skype-a-Thon, a Microsoft doará os recursos para um estudante frequentar a escola em uma das nove WE Villages na Ásia, África e América Latina, com o objetivo de ajudar 35.000 crianças. O modelo de desenvolvimento internacional da WE Villages faz parte da WE, uma organização que também inclui as WE Schools, que se concentram em capacitar as crianças a gerar mudanças local e globalmente.

“Crianças ajudando crianças por meio da educação – é assim que nossa missão de ‘fazer boas ações’ começou”, diz Erin Barton, diretora de desenvolvimento da WE. “Temos jovens com privilégios suficientes para ter acesso à tecnologia e agora eles estão dando oportunidade a outros de terem acesso à educação.”

Kumar foi o primeiro “professor mestre do Skype” na Ásia, uma designação para voluntários que usam o Skype com frequência em suas aulas e estão dispostos a treinar outros professores a usá-lo para conectar suas turmas. A Microsoft Educator Community é um site gratuito no qual centenas de milhares de professores compartilham planos de aula e oferecem a si mesmos – e às suas classes – oportunidades de conexão, como jogos educativos e torneios.

Muitos professores começam organizando um “Mystery Skype” com uma turma em outro país, no qual as crianças fazem perguntas para descobrir onde moram os alunos do outro lado da tela. Os professores também conectam suas aulas com especialistas para ampliar o conteúdo do que estão ensinando, como videoconferências com o curador de um museu egípcio, um atleta olímpico ou um guarda florestal do Parque Nacional de Yellowstone, nos EUA.

A conexão pode parecer tão real que os estudantes de Phuti Ragophala, na África do Sul, tiveram medo de tocar na tela quando um oceanógrafo na Califórnia lhes mostrou uma tartaruga marinha. Ragophala diz que seus alunos, apesar de morarem em uma área com estradas de cascalho e sem Wi-Fi, são “cidadãos do mundo” inspirados por suas ligações pelo Skype com celebridades e outras pessoas proeminentes em todo o planeta.

Os fusos horários podem limitar as regiões disponíveis para sessões ao vivo do Skype durante o horário normal de aula, embora eles também possam adicionar um elemento de diversão. “Sempre gosto de terminar o dia com uma ligação pelo Skype com a Austrália para que as crianças possam ligar para o futuro, uma vez que as 15h do nosso fuso serão 7h da manhã no dia seguinte, horário de Melbourne”, diz Steven Auslander, professor de quinta série do estado norte-americano de Indiana.

Classe de Amy Rosentein
Professores usam o Skype ao longo do ano para se comunicar com outras classes e especialistas em todo o mundo. Aqui, a turma da professora Amy Rosenstein em Nova York desfruta de uma sessão do Skype com estudantes da Índia. Foto fornecida por Rosenstein

A natureza focada do Skype-a-Thon de dois dias oferece uma oportunidade anual de contornar esses desafios de fuso horário. Karey Killian diz que não hospeda festas do pijama durante o evento para seus alunos, no estado americano da Pensilvânia. Mas como outros – como Kumar – fazem, seus alunos chegam a conhecer crianças na Índia todos os anos que estão 9,5 horas à frente, mas ficam acordados a noite toda para o Skype-a-Thon afim de participar de 24 horas de sessões por dia com alunos do outro lado do globo.

Killian, bibliotecária, garante que cada uma das 50 classes do fundamental para as quais ela ensina receba pelo menos uma oportunidade de usar o Skype durante o ano letivo.

“Costumo tentar chegar à Antártida”, diz ela. “Há um cientista lá, e você realmente vê os pinguins em seus ninhos. Uma vez fizemos uma ligação e havia um vulcão em erupção no fundo. Eu nem sabia que havia vulcões na Antártida. ”

As turmas de Killian estão acostumadas com os invernos frios do Nordeste dos EUA, mas Kumar disse que seus alunos, que vivem em uma região plana e quente do Sul da Índia, ficam ainda mais surpresos quando recebem uma ligação do Skype de uma equipe de pesquisa do Ártico. “É revelador para eles descobrir que uma região tão fria existe no mundo”, diz ele.

Classe de Auslander
Alunos da Allisonville Elementary School em Indianapolis, Indiana, conversam com classes de todo o mundo ao longo do ano. “Sempre gosto de terminar o dia com uma ligação pelo Skype com a Austrália para que as crianças possam ligar para o futuro, uma vez que 15h no nosso fuso serão 7h da manhã do dia seguinte, horário de Melbourne”, diz Steven Auslander, professor da quinta série da escola. Foto fornecida por Auslander

As sessões do Skype abrem os olhos dos alunos de outras formas também.

Killian diz que a maioria de seus alunos na Pensilvânia rural nunca conheceu um muçulmano até que organizou uma sessão de Skype para uma turma de alunos da segunda série com uma professora na Indonésia. “As crianças ficaram surpresas ao perceber que nem todo mundo celebra o Natal ou espera que o Papai Noel venha”, diz Killian. “Mas ela contou a eles sobre outros feriados muçulmanos, onde eles se reúnem para celebrar com amigos e familiares.”

Conhecer outros estudantes em lugares distantes levou muitos a organizar visitas guiadas ou a mapear doações para turmas que lutam para comprar suprimentos, além de ajudá-los a ganhar confiança uns dos outros em suas habilidades de falar uma língua estrangeira, fazer perguntas ou até mesmo aprender a soletrar e pronunciar novas palavras. Alguns professores dizem que uma chamada pelo Skype de 30 minutos com um especialista, em que as crianças realmente veem as coisas que estão aprendendo, pode ensinar o que levaria uma semana inteira com um livro didático.

“O Skype oferece uma porta de entrada para os alunos aprenderem sobre outras pessoas, dentro do currículo que os professores estão ensinando”, diz Anthony Salcito, vice-presidente mundial de educação da Microsoft. “E não é uma via de mão única – as crianças dos países em desenvolvimento usam seus talentos para ajudar crianças em outros lugares. É apenas o começo de promover a paz em todo o planeta e permitir que as crianças vejam seu mundo de maneira diferente.”

Mio Horio, professora no Japão, diz que usa sessões do Skype para aprofundar suas lições, quebrar estereótipos e ajudar seus alunos a entender as complexidades do mundo.

Quando uma de suas turmas estava estudando como as plantações de óleo de palma estavam substituindo florestas na Malásia, prejudicando os orangotangos, ela fez uma videoconferência com um grupo de adolescentes malaios para entender melhor as complicações de proibir a prática.

Horio e seus alunos, por sua vez, compartilharam seus conhecimentos sobre o que fazer durante desastres naturais, como fizeram em uma sessão do Skype sobre segurança contra terremotos com a turma de Tran Thi Thuy na zona rural do Vietnã.

Tran, uma professora que diz ter sido criada na família mais pobre de sua aldeia, comprou seu próprio roteador Wi-Fi para trazer o mundo para seus alunos através do Skype. Ela diz que as sessões, que são em inglês, levam suas crianças além da gramática e do vocabulário que são tradicionalmente ensinados, para falar a língua, mesmo que eles estejam em uma área onde os falantes nativos são raros. Conversar com pessoas de outras regiões ajuda os alunos também a aprender a entender diferentes sotaques, acrescenta Horio.

Classe de Darlene Colon
Alunos da Escuela del Deporte San Juan, em Porto Rico, eclodiram em música espontânea em chamadas pelo Skype, com aulas em todo o mundo, quando a eletricidade voltou após o furacão Maria. Foto fornecida por Darlene Colon

Darlene Colon, que ensina tecnologia e inglês como segunda língua para estudantes do ensino médio em uma escola pública para atletas em Porto Rico, iniciou uma rotação mensal de sessões de espanhol e inglês com aulas no Texas e no Kentucky. As crianças estão ajudando umas às outras com a pronúncia, disse ela – uma diversão bem-vinda para seus alunos, que ainda estão lutando contra o impacto do furacão Maria no ano passado.

O prédio da escola de Colon foi destruído pelo furacão, cerca de dois meses antes do Skype-a-Thon do ano passado. Um corredor em uma escola vizinha tornou-se sua sala de aula, e mesmo que a área ainda não tivesse eletricidade, ela encontrou uma maneira de carregar a bateria de seu computador e turbinou o serviço de dados em seu telefone para que ela pudesse conectar sua classe ao evento.

“As crianças não tinham nada, nem eletricidade nem água. Alguns perderam suas casas, familiares e amigos, e estavam muito estressadas ​”, diz ela. “Então, isso os ajudou a esquecer seus problemas e apenas se divertir.”

Quando a eletricidade voltou a tempo para o Natal, a alegria de seus alunos foi tão contagiante que eclodiu uma exibição espontânea de música e dança durante uma sessão do Skype com uma turma de Nova York.

“Todo mundo ficou feliz, e apesar de todas as notícias serem sobre o caos aqui, fomos capazes de mostrar que não era necessariamente a história toda”, diz ela. “Mesmo sendo difícil para nós, estávamos dispostos a continuar e participar.”

Acima de tudo, os professores dizem que as sessões do Skype destacam o quanto as crianças têm em comum umas com as outras – como os estudantes japoneses da Horio descobrindo que tinham o mesmo personagem de quadrinhos favorito de Dragon Ball que uma turma na Espanha.

“Tivemos sessões com 78 países diferentes”, diz Kumar, professor da STEM na Índia. “Mas apesar de toda essa diversidade, o senso comum é o que persiste para as crianças. Quando elas riem e compartilham as coisas, é isso que elas identificam: unidade dentro da diversidade.”