“Essa ferramenta nos dá superpoderes”: como a IA ajuda três desenvolvedores na América Latina a construir softwares mais eficientes
Quando estava na sexta série, Juan Mármol recebeu um presente que mudou sua vida. Seu pai lhe deu uma série de livros, incluindo um sobre inteligência artificial (IA), e a partir desse momento ele ficou viciado em computação. Graças a esse livro e sua paixão recém-descoberta por computadores, sua jornada para se tornar um engenheiro de computação começou. Sua primeira abordagem em IA foi com o GW Basic, um dialeto da linguagem de programação BASIC, desenvolvido pela Microsoft. Depois de se formar no Instituto Tecnológico Autônomo do México (ITAM), Mármol concluiu sua tese sobre IA e redes neurais. Seus estudos de pós-graduação também foram relacionados à tecnología, como neurocomputação, neuroinformática, estatística e ciência de dados.
Nos últimos sete anos, dos mais de 25 no setor de tecnologia, ele foi cientista-chefe de dados da Business Data Evolution, uma parceira da Microsoft focada em resolver os desafios para clientes nos segmentos financeiro, de seguros, varejo e educação usando ciência de dados, análise de informações e criação de modelos estatísticos de IA com aprendizado de máquina.
Para Mármol, a ciência de dados é a intersecção de várias disciplinas importantes: “É preciso saber matemática, estatística, desenvolvimento de software e como lidar com dados”. Segundo ele, o desenvolvimento de software é essencial para resolver problemas de negócios, pois os experimentos devem ser reproduzíveis. E para conseguir isso, a automação é necessária. O Business Data Evolution usa o Aprendizado de Máquina do Azure para criar modelos diferentes, permitindo que eles executem centenas de testes e obtenham resultados sobre qual algoritmo será o melhor para usar, tudo em um curto espaço de tempo. “Para desenvolver um modelo, não existe uma ‘bala de prata’, você não sabe qual algoritmo vai gerar os melhores resultados, depende dos dados e do problema a ser resolvido”, diz Mármol, que também é professor do ITAM, onde leciona aprendizado de máquina, mineração de dados, teoria do cérebro e neuroinformática.
Em 2022, ele começou a trabalhar com o Azure OpenAI Service, com a inscrição prévia realizada em junho e em setembro obteve acesso para o utilizar em diferentes projetos. Mármol reconhece que uma vantagem de usar as ferramentas do Azure é que as informações são protegidas e os dados são confidenciais, o que permite que eles aproveitem ao máximo essas soluções.
Um desses projetos diz respeito à extração de informações de documentos legais, relacionada à extração automática de informações de documentos de grande complexidade e com dados não estruturados. São textos feitos por cartórios, que não têm um modelo a ser preenchido e cada tabelião tem seu próprio estilo de escrita, então é difícil generalizar, mas com o Azure OpenAI Service, a Business Data Evolution afirma que eles foram capazes de elevar o desempenho e aumentar a precisão da extração de documentos de 72% para 93%, com a possibilidade de aumentá-lo ainda mais.
O desafio de desenvolver software
“Desenvolver softwares é um turbilhão de emoções. Você pode amar fazer isso, mas também pode despertar momentos de frustração. Porém, quando você consegue superar esses obstáculos e suas criações ganham vida, o amor por essa área se renova e as recompensas são muito gratificantes”, diz Vargas, que trabalha há cinco anos na criação de produtos e soluções para análise de texto (recurso de serviços cognitivos para linguagem que extrai, classifica e reconhece texto em documentos), a partir de análise de áudio, reconhecimento de voz, transcrições e análise de sentimentos. Em sua empresa, Bigview, localizada em Bogotá (Colômbia), parceira da Microsoft, eles desenvolveram ferramentas para clientes de diversas indústrias focadas nessas tecnologias com o objetivo de otimizar processos operacionais e de produção.
Aos 14 anos, Vargas começou a programar com linguagem C e, desde então, se interessou pela codificação. “Minha formação foi empírica nos primeiros 15 anos, até que recentemente terminei meu curso de engenharia de software na academia”, diz Vargas. Ele sempre teve curiosidade sobre como as máquinas interagem e como elas podem automatizar processos.
Quando viu como funcionava a Encarta, uma enciclopédia interativa rodando em CD, quis tornar a biblioteca de sua escola mais interativa por meio de um projeto com o qual começou a programar em C, uma linguagem voltada para a implementação de sistemas operacionais e muito popular para a criação de softwares e aplicativos. Mais tarde, começou a criar um ambiente gráfico em Visual Basic e lá teve a ideia de se dedicar ao desenvolvimento de software.
Após o ensino médio, Vargas concluiu, em 2002, o curso técnico em sistemas, que serviu de base para seu desenvolvimento acadêmico e profissional. Ao longo de sua carreira, ele esteve envolvido com programação de software, trabalhando com tecnologias como .NET, Visual Basic e C++. Além disso, ele teve a oportunidade de usar essas ferramentas no ambiente de desenvolvimento do Visual Studio. Em determinado momento, Vargas também desenvolveu aplicativos móveis para Windows Phone e até experimentou um pouco as funcionalidades do Cortana, por meio do SDK, um kit de desenvolvimento de software, para fazê-la responder a certas perguntas e fazer o computador reagir a interações de voz. Em 2018, terminou os seus estudos para consolidar a sua formação na área da programação. Na empresa onde Vargas trabalha, eles contam com o Azure Data Bricks e, mais recentemente, com o Azure OpenAI Service.
No início de 2023, eles se inscreveram na versão preview para aprender sobre a tecnologia, testá-la e usá-la para que pudessem começar a migrar seus modelos. Depois que eles começaram a usar o Serviço Azure OpenAI em sua empresa, eles puderam ver melhorias na eficiência após a automatização de tarefas repetitivas.
Além disso, eles usam os serviços cognitivos da Microsoft para transcrições, reconhecimento de voz ou para reconhecimento de texto ou imagem.
Em um de seus projetos, eles usaram os Serviços Cognitivos do Azure para gerar uma transcrição em tempo real, durante o processo de entrevista realizada por uma instituição dedicada a adoções na Colômbia, para ser analisada por psicólogos. Os modelos pré-treinados os ajudaram a construir o projeto, e mais tarde enriqueceram com seus próprios modelos e usaram linguistas para apoiá-los no treinamento do modelo final.
“Fizemos muitos projetos sociais na Bigview e é muito gratificante ver que o software que você projeta é usado para ajudar a reduzir a violência ou ajudar crianças”, menciona Vargas, que também é Microsoft Certified Trainer há 13 anos e tem um interesse especial em ensinar, porque construir softwares que tenham impacto social é o que ele mais gosta.
William Colen é um engenheiro de computação, formado pela Universidade de São Paulo, que sempre foi atraído por computadores. “Quando eu era criança, achava que os computadores eram algo mágico. Quando ganhei o primeiro, queria saber tudo sobre ele”, conta. Depois de se formar na universidade em 2006, ele começou a trabalhar em desenvolvimento de software, embora naquela época não houvesse muitas oportunidades no campo da IA.
Em 2010, o cenário mudou e Colen decidiu que era uma boa ideia voltar à escola e aprender a fundo sobre IA: ele escolheu estudar um mestrado em processamento de linguagem natural, um ramo da IA que permite que computadores entendam, interpretem e manipulem a linguagem humana.
Quando começou a trabalhar com processamento de linguagem natural e IA, Colen rapidamente entendeu que esse seria o futuro e que essa tecnologia seria usada mais amplamente em diferentes indústrias.
De acordo com dados do BBVA, a IA pode adicionar até um ponto percentual às taxas de crescimento anual em toda a América Latina até 2035, e na Take Blip, empresa onde Colen trabalha e parceira da Microsoft, eles estão cientes disso. “Investimos em IA porque queremos que os clientes tenham uma comunicação mais natural com seus consumidores, temos projetos com foco em IA desde o primeiro dia”, diz Colen.
Na empresa, eles têm 30 desenvolvedores trabalhando em processamento de linguagem natural, aprendizado de máquina, engenharia e ciência de dados, focados em produtos inovadores, como o Blip Desk, uma plataforma de comunicação automatizada que ajuda a automatizar o relacionamento com clientes e criar conversas personalizadas por meio de IA. Para Colen, o propósito da IA é fazer coisas difíceis de programar, coisas que os programadores não poderiam resolver sozinhos.
Alcançando maior eficiência por meio da IA
Na Take Blip, o Azure OpenAI Service mudou a forma como eles funcionam, de acordo com Colen. “Um projeto pode levar entre dois meses e um ano para ser entregue, mas com o Azure OpenAI Service, conseguimos desenvolver uma função em nosso produto em duas semanas. Uma vez prontos, conseguimos fazer com que nossos clientes usem esse recurso em um ou dois dias.”
Eles conseguiram reduzir significativamente o esforço para construir funções de processamento de linguagem natural ou IA. Na equipe de Colen eles podem codificar em um curto espaço de tempo. E graças a essa redução nos tempos de codificação, eles podem focar em coisas mais estratégicas, coisas que lhes interessam ou que podem ter maior significado para a empresa, como o desenvolvimento de prompts, o conjunto de instruções que permitem que o modelo de IA ofereça um resultado de saída e influencie seu tom, estilo e qualidade.
Um dos projetos que a equipe de Colen realizou com uma grande instituição financeira no Brasil, usa uma solução baseada no Azure OpenAI Service para apoiar os representantes de atendimento ao cliente na oferta de empréstimos consignados, pagos por meio de um serviço de mensagens de texto. Vendo que o representante estava conversando com diferentes pessoas sobre diferentes tópicos simultaneamente, os desenvolvedores notaram que as respostas nem sempre eram claras ou suficientes.
Eles analisaram as conversas e os dados do negócio e ofereceram essa solução com o objetivo de fornecer algumas respostas que pudessem usar para responder aos seus clientes. Eles realizaram testes com dois grupos, um grupo controle que não usou o copiloto e outro grupo que o usou. O grupo que utilizou o copiloto teve um aumento de 117% na taxa de conversão ao oferecer crédito consignado.
Aproveitando os serviços de IA disponíveis para melhorar o desenvolvimento
Para Mármol, a IA da Microsoft oferece diversos benefícios, como otimização de tempo, melhorias de desempenho, resultados mais precisos e implementação mais fácil. “A Microsoft nos permite fazer tudo de ponta a ponta, desde a análise inicial até a implementação, tudo sem atrito”, diz ele.
“Temos que combinar diferentes elementos para resolver um problema e a Microsoft nos dá o ‘bat-belt’ para desenvolver a solução certa no momento certo”, enfatiza Mármol ao descrever como eles aproveitam os vários serviços cognitivos da Microsoft, como visão para contagem de elementos onde usam detecção de objetos dentro de imagens, bem como transcrições para converter áudio em traduções de texto do inglês para o espanhol. ou serviços de geolocalização que permitam determinar o nível socioeconômico de cada região do país.
Para Vargas, que também é Instrutor de Telecomputação em Análise e Projeto de Modelos de Sistemas de Informação (ADSI) no SENA, os serviços da Microsoft podem ser consumidos quase imediatamente e os modelos pré-treinados podem ser aproveitados. “Não há necessidade de reinventar a roda, por que criar um modelo que permita reconhecer a voz se já existem serviços que fazem isso?”, comenta Vargas.
Em um nível de eficiência e produtividade, a IA da Microsoft os ajuda a automatizar muitas tarefas repetitivas. O processamento de grandes conjuntos de dados é mais fácil quando se depende de componentes automatizados, permitindo também aumentar a eficiência no desenvolvimento da produção.
Para Colen, a IA da Microsoft está disponível para desenvolvedores e é mais fácil de desenvolver com ela porque é uma linguagem natural. “A curva de aprendizado é menor, os desenvolvedores da minha equipe codificam em pouco tempo, em duas semanas o software é desenvolvido”, diz.
Atualizando ou se tornando obsoleto: a IA capacita os desenvolvedores
Na América Latina, há mais de 1 milhão de desenvolvedores de software, a maioria residente no Brasil, México, Colômbia e Argentina, segundo dados da Statista. Para Colen, esse setor tem mantido um crescimento constante no Brasil, já que muitas empresas precisam de desenvolvedores, mas um problema que ele tem visto é que as escolas não oferecem educação adequada.
“O treinamento acontece dentro das empresas, na minha equipe tem uma pessoa que não fazia parte dessa área e quando entrou na Take Blip, recebeu treinamento e se tornou uma liderança”, diz Colen, que destaca ainda que há muitas oportunidades no desenvolvimento de software, pois a IA está na boca de todos e todas as empresas querem ter a oportunidade de usá-la e aproveitá-la.
Para Vargas, os desenvolvedores na Colômbia têm o desafio de se atualizar constantemente, já que a tecnologia muda muito rapidamente e ainda mais com a IA. “A profissão de programador de software teve um crescimento gigantesco, quase tudo o que queremos fazer pode ser resolvido com software”, diz.
Dentro do Big View, eles deram oportunidades para pessoas de outras agências, como um consultor bancário que não tem nada a ver com programação e acabou programando para a empresa e reflete que “para se tornar um bom programador o segredo é praticar e não parar de escrever código”.
Mármol comenta que essa tecnologia vai mudar tudo, não só para os desenvolvedores, mas para muitos empregos e, principalmente, para o cenário trabalhista no México.
Há cada vez mais empregos disponíveis na área de IA, e o número pode continuar a aumentar. Ano após ano, as contratações em empregos relacionados à IA na América Latina têm aumentado, segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Por isso, é importante manter-se atualizado com as novas tecnologias que surgem nesse campo: “Atualmente, é como ter um assistente para o qual você passa o trabalho e ele o gera para você, mas há muitas coisas que vão nos ajudar e temos que aproveitar a oportunidade de empregos que vão se abrir na era da inteligência artificial”.
Para onde vai a inteligência artificial?
Em um futuro próximo, a IA terá um impacto significativo em todas as indústrias e em todas as áreas da vida das pessoas. Essa é a visão de Vargas, que menciona esperar, especificamente em seu trabalho, que isso os ajude a construir softwares mais rapidamente.
“A inteligência artificial tem muitas vantagens e possibilidades. A Microsoft conseguiu democratizá-la e isso permitiu que muitas pessoas a utilizassem e, no futuro, mais pessoas terão acesso aos seus benefícios”, diz Mármol.