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Como a Inteligência Artificial está trazendo humanidade de volta à saúde

“Quando os erros acontecem, os pacientes morrem. Lembro-me de pensar: ‘O que está acontecendo aqui?’ Podemos, e devemos, fazer melhor.”

Quando Simon Kos praticou medicina e anestesia na terapia intensiva, no início de sua carreira, a tecnologia digital não estava estabelecida. “Vi erros – erros evitáveis ​​– acontecerem ao meu redor”, afirma.

Agora como Diretor Médico da Microsoft, Kos está na vanguarda de uma revolução médica. Sua ambição é contagiante, e sua paixão é alimentada por suas experiências do poder que a transformação tecnológica, como a inteligência artificial (IA), pode trazer para nossas vidas.

Cuidados de saúde transformadores

O termo IA é muito usado atualmente. Para muitos, evoca imagens de um futuro distópico em que os robôs se infiltraram na sociedade e substituíram nossos empregos – uma percepção nascida de histórias fantásticas.

“As pessoas pensam em inteligência artificial e imediatamente imaginam a ficção científica dos robôs”, conta Kos. “Em vez disso, quando você a utiliza, trata-se do uso de dados de maneira matemática e autônoma para fornecer informações. Por exemplo, existem modelos de aprendizado de máquina com inteligência artificial que mostram quando você deve dispensar os pacientes para que eles se recuperem e não tenham que ser readmitidos.”

Essas informações e recursos tecnológicos foram o elo perdido no passado de Kos. Ele começou sua carreira observando a digitalização de dados, mas os verdadeiros avanços vieram com o advento da IA, acompanhada do armazenamento infinito de dados e o poder de processamento analítico da nuvem.

Com a introdução dessa tecnologia complementar, os dados digitalizados se tornaram mais do que apenas uma maneira de economizar papel – viraram uma arma para ajudar a combater doenças e desconforto.

Hoje, os modelos de aprendizado de máquina são capazes de determinar quando um paciente está piorando, de modo que a intervenção médica possa ocorrer antes que eles precisem ser hospitalizados. Os resultados são paciente mais bem atendido, mais saúde, aumento na eficiência e redução de custos para o paciente e o hospital.

A Oschner Health é um exemplo de empresa que usa a inteligência artificial para revolucionar a saúde. Seu sistema é capaz de rastrear com precisão os pacientes que estão em risco de parada cardíaca, e pode determinar quando há um declínio em sua condição. Isso permite que eles sejam internados na terapia intensiva mais cedo. Eles recebem cuidados com o potencial de salvar vidas, antes que sua condição piore até o ponto em que os cuidados médicos sejam menos eficazes.

O Projeto InnerEye, em uso no Hospital Addenbrooke, em Cambridge, é outra solução que usa aprendizado de máquina e visão computacional para a análise de imagens radiológicas. Projetado para identificar tumores, melhora a execução de tratamentos, como a radioterapia, distinguindo com precisão entre tecidos cancerígenos e saudáveis. Também pode monitorar melhor a progressão da doença durante a quimioterapia, para que o tratamento possa ser ajustado de acordo com a resposta dos pacientes.

Essas soluções de IA permitem que os profissionais médicos melhorem o atendimento ao paciente e o tempo de internação, graças à precisão aprimorada. Isso, por sua vez, reduz a pressão financeira e de mão de obra, melhorando a experiência de assistência médica nas áreas onde essa tecnologia está sendo usada.

Isto é apoiado por dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), que mostram que entre 30% e 50% das mortes por câncer poderiam ser evitadas com prevenção, detecção precoce e tratamento. Com o câncer custando à economia global um valor estimado em 1,16 trilhão de dólares por ano, o impacto da tecnologia, como a inteligência artificial, muda o jogo.

Somente no Reino Unido, por exemplo, existem apenas 4,7 radiologistas para cada 100 mil habitantes, e esse número precisará quase dobrar até 2022 para atender à demanda. Devido a essa escassez, o NHS (National Health Service, serviço público de saúde do Reino Unido) gastou cerca de 88 milhões de libras esterlinas (441 milhões de reais) em 2016, pagando por registros de radiologia com laudos em atraso – o mesmo valor poderia ter pago mais de mil consultores em tempo integral.

“Estamos nos afogando em dados nos hospitais”, afirma Kos. “Não temos capital intelectual humano suficiente para lidar com tudo isso no tempo certo, o que, na área da saúde, é vital.”

O uso de tecnologia como a IA pode, portanto, diminuir substancialmente a pressão sobre os sistemas de saúde, ao mesmo tempo em que melhora o atendimento ao paciente e reduz os custos, permitindo que os médicos usem seu tempo em diagnósticos mais complexos. Ou, na verdade, passem mais tempo se conectando com os pacientes.

O fator humano

O ingresso da IA ​​na assistência médica não elimina a humanidade da medicina. Pelo contrário, está aumentando.

Um estudo no Annals of Internal Medicine descobriu que os médicos gastam muito mais tempo com trabalho administrativo (49%) do que com seus pacientes (27%). Em outras palavras, os médicos gastam mais tempo analisando dados, examinando e atualizando registros e analisando digitalizações do que falando com seus pacientes.

Em uma profissão em que as pessoas lidam com situações traumáticas e que mudam a vida, esse toque pessoal e humano é vital para o bem-estar emocional dos pacientes e de seus entes queridos. Ao usar ferramentas como a IA para economizar tempo, os profissionais de saúde podem se concentrar mais na interação com o paciente, oferecendo tranquilidade, orientando e respondendo a mais perguntas.

Cultura e os desafios da mudança

Motivado pela falta de tecnologia durante seu período crítico, Kos passou oito anos em campanha para introduzir sistemas de registros médicos eletrônicos em hospitais. Mas nada melhorou.

“Digitalizamos, mas digitalizamos todos os erros também. Então me dei conta – a digitalização é importante, mas não é a transformação.”

Sem a tecnologia de suporte do armazenamento em nuvem, ou os poderes de análise de dados da IA ​​e aprendizado de máquina, o potencial desses registros digitalizados não chegava nem perto de ser alcançado. Apenas alguns anos depois, quando a tecnologia de nuvem foi aceita em uma escala mais ampla, e quando ferramentas colaborativas, como o Skype ou a edição de documentos em tempo real na nuvem foram estabelecidas, essa digitalização inicial poderia passar para o nível seguinte.

A pesquisa mostrou que uma organização com a tecnologia mais avançada não será tão eficaz se não tiver a cultura certa. Os funcionários devem estar dispostos a adotar suas novas ferramentas, e os líderes devem incentivar uma cultura de aprendizado. Só então as novas ferramentas poderão ser tão eficazes quanto possível.

No mundo da medicina, no entanto, adotar a cultura certa para a mudança tecnológica pode ser um desafio.

“Os profissionais de saúde são bastante introspectivos”, diz Kos. “Os médicos ouvem os médicos. É um ambiente muito hierárquico. Você pode ter a melhor tecnologia do mundo, mas se a cultura não estiver pronta para adotá-la com a disposição de aprender, simplesmente não funcionará.”

Como filho de dois médicos, e tendo se formado na faculdade de medicina, Kos já viu em primeira mão os desafios que os profissionais de saúde podem enfrentar. Relembrando sua própria experiência, ele descreve como seis anos de conhecimento conceitual na faculdade de medicina fazem pouco para preparar os formandos para o mundo real: “Quando você aparece para trabalhar no primeiro dia, não sabe como cuidar dos pacientes. Você precisa aprender a partir do trabalho de outras pessoas.” Como resultado, a geração mais velha dita como as coisas são feitas, o que é em si um grande desafio cultural.

Para destilar esse conceito ao seu nível mais puro, Kos dá o exemplo da pasta de papel – uma ferramenta com a qual os médicos estão familiarizados há centenas de anos – e como os médicos estão deixando suas zonas de conforto, desenvolvendo a forma de praticar sua profissão. “De certa forma, nós, com a melhor das intenções, roubamos dos clínicos a produtividade”, conta Kos. Mas as atitudes estão mudando.

Os médicos, conta Kos, respondem bem às evidências – e as evidências dos benefícios da transformação tecnológica estão faltando há algum tempo. Por um período, tudo o que isso significava era a digitalização dos registros médicos. “Agora, com inteligência artificial”, ele continua, “as melhorias são tão radicais que estão mudando todo mundo, até mesmo a velha guarda.”

Aqueles que não querem aceitar as mudanças necessárias não terão seus empregos substituídos por robôs. De acordo com Kos, “os médicos que estão com medo de que os robôs tomem o seu trabalho estão perdendo tempo. Eles devem se preocupar é com outros médicos que usam IA, que irão trabalhar.”

Na privacidade e no futuro

Agora, mais do que nunca, estamos mais conscientes dos dados que compartilhamos, e poucas coisas são mais pessoais do que a nossa saúde, o que torna a segurança de dados médicos extremamente importante – e valiosa para aqueles com intenções maliciosas.

Dados de saúde são, segundo Kos, sete vezes mais valiosos no mercado negro do que dados financeiros: “Se alguém rouba seus dados financeiros, eles podem roubar seu dinheiro. Se eles roubam seus dados de assistência médica, eles podem se tornar você, e isso é realmente assustador, especialmente quando você considera que, tradicionalmente, as organizações de assistência médica não economizam na segurança.”

Com normatizações como o Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR, na sigla em inglês) em vigor na Europa, os holofotes sobre transparência e proteção de dados nunca foram tão fortes. O esforço da Microsoft para implementar e desenvolver as mais recentes medidas de segurança e atualizar constantemente seus padrões de conformidade é fundamental para permitir que Kos e sua equipe de 1.100 pessoas em todo o mundo ajudem as organizações de saúde a se transformarem de maneira segura e protegida.

Quanto ao futuro, Kos aguarda com expectativa a adoção generalizada da medicina de precisão – assistência médica que usa marcadores genéticos para adaptar com precisão medicamentos e tratamentos que responderão de maneira mais favorável a cada indivíduo – evitando tratamentos que possam causar danos ou não funcionar.

Esse é apenas um dos muitos exemplos de tecnologia que está revolucionando a assistência médica, aumentando a qualidade da vida. À medida que a IA, o aprendizado de máquina e outros avanços continuam a ser desenvolvidos e adotados, o futuro da assistência à saúde e, em última análise, da humanidade, continua a ser estimulante.